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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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ANÁLISE

TV embarca na reprodução humana

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A reprodução humana é matéria-prima diária da televisão em todos os tempos, horários, gêneros e canais.
Do parto na água, tal como praticado na então União Soviética, matéria "enlatada" mostrada pelo programa "Fantástico" (Globo) décadas atrás e ainda presente na memória dos espectadores, ao apelo contra preconceitos da personagem sorridente de Suzana Vieira ( da novela "Mulheres Apaixonadas", Globo), protótipo da mãe moderna, ideal de mulher brasileira, na defesa de seu romance com o jovem filho do motorista, apesar da diferença de idade que impede a procriação, fala por si só.
Tecnologias reprodutivas em telenovelas que se passam em meio urbano, ou partos naturais, em histórias que afirmam uma nostalgia da vida no campo, estão no cerne de inúmeras histórias.
A concepção oferece a chave última, biológica, para a resolução dos dilemas de identidade que movem personagens sedentos por saber de onde vêm.

Medicina
Os exemplos são inúmeros. A experimentação genética protagonizou a novela "O Clone" (Globo, 2001).
A inseminação artificial viabilizou uma gravidez tardia em "Laços de Família" (Globo, 2000), precipitando, por sua vez, uma série de revelações sobre o passado dos protagonistas da história.
Tecnologias médicas oferecem assunto também em tramas tipo "reality show". É assim nos quadros dedicados a desvendar a verdadeira paternidade de personagens de si mesmos que participam do "Programa do Ratinho" (SBT), aproveitando a oferta de testes de DNA.
Temas correlatos, como abuso sexual, assunto sintomaticamente ausente em novelas, aparecem em programas que procuram explorar novas fronteiras, como é o caso do seriado "Turma do Gueto" (Record).
Embora a mídia, de uma forma ou de outra, manipule e divulgue tecnologias médicas, sua relação com os cientistas nem sempre é tranquila.
Em uma era em que a produção de conhecimento foi vista como dissociada da divulgação, cientistas e profissionais da mídia mantiveram relações conflituosas.

Transformações
Essas relações podem no entanto estar mudando. É o que sugere iniciativas como o livro "Olhar sobre a Mídia", publicado pela Comissão de Cidadania e Reprodução, ou o projeto pioneiro de análise dos programas de TV voltados para adolescentes em andamento na Agência de Notícia dos Direitos da Infância (ANDI), que resultará também em um livro a ser redigido pela colunista da Folha Soninha a partir das observações de uma equipe de especialistas.
O livro, que se concentra na imprensa escrita, traz artigos de pesquisadores e jornalistas sobre a abordagem da grande imprensa sobre temas como Aids, cultura sexual, aborto, bioética e biogenética. O artigo de Maria Teresa Citeli destaca a cobertura da Folha.
Citando o sociólogo Vilmar Faria, a autora menciona também a relevância do estudo da TV para a pesquisa sobre mudanças recentes em comportamentos reprodutivos.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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