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ANÁLISE
TV embarca na reprodução humana
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A reprodução humana é
matéria-prima diária da televisão em todos os tempos, horários, gêneros e canais.
Do parto na água, tal como praticado na então União Soviética,
matéria "enlatada" mostrada pelo
programa "Fantástico" (Globo)
décadas atrás e ainda presente na
memória dos espectadores, ao
apelo contra preconceitos da personagem sorridente de Suzana
Vieira ( da novela "Mulheres
Apaixonadas", Globo), protótipo
da mãe moderna, ideal de mulher
brasileira, na defesa de seu romance com o jovem filho do motorista, apesar da diferença de idade que impede a procriação, fala
por si só.
Tecnologias reprodutivas em
telenovelas que se passam em
meio urbano, ou partos naturais,
em histórias que afirmam uma
nostalgia da vida no campo, estão
no cerne de inúmeras histórias.
A concepção oferece a chave última, biológica, para a resolução
dos dilemas de identidade que
movem personagens sedentos
por saber de onde vêm.
Medicina
Os exemplos são inúmeros. A
experimentação genética protagonizou a novela "O Clone" (Globo, 2001).
A inseminação artificial viabilizou uma gravidez tardia em "Laços de Família" (Globo, 2000),
precipitando, por sua vez, uma série de revelações sobre o passado
dos protagonistas da história.
Tecnologias médicas oferecem
assunto também em tramas tipo
"reality show". É assim nos quadros dedicados a desvendar a verdadeira paternidade de personagens de si mesmos que participam do "Programa do Ratinho"
(SBT), aproveitando a oferta de
testes de DNA.
Temas correlatos, como abuso
sexual, assunto sintomaticamente
ausente em novelas, aparecem em
programas que procuram explorar novas fronteiras, como é o caso do seriado "Turma do Gueto"
(Record).
Embora a mídia, de uma forma
ou de outra, manipule e divulgue
tecnologias médicas, sua relação
com os cientistas nem sempre é
tranquila.
Em uma era em que a produção
de conhecimento foi vista como
dissociada da divulgação, cientistas e profissionais da mídia mantiveram relações conflituosas.
Transformações
Essas relações podem no entanto estar mudando. É o que sugere
iniciativas como o livro "Olhar sobre a Mídia", publicado pela Comissão de Cidadania e Reprodução, ou o projeto pioneiro de análise dos programas de TV voltados para adolescentes em andamento na Agência de Notícia dos
Direitos da Infância (ANDI), que
resultará também em um livro a
ser redigido pela colunista da Folha Soninha a partir das observações de uma equipe de especialistas.
O livro, que se concentra na imprensa escrita, traz artigos de pesquisadores e jornalistas sobre a
abordagem da grande imprensa
sobre temas como Aids, cultura
sexual, aborto, bioética e biogenética. O artigo de Maria Teresa Citeli destaca a cobertura da Folha.
Citando o sociólogo Vilmar Faria, a autora menciona também a
relevância do estudo da TV para a
pesquisa sobre mudanças recentes em comportamentos reprodutivos.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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