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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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MÚSICA

Festival de jazz, maior evento dos EUA, encolhe 17% em seu primeiro final de semana em virtude dos conflitos recentes

Guerra diminui público em Nova Orleans

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS

Os efeitos da guerra também atingiram o maior festival de música dos EUA. Mesmo com um dia a mais de shows neste ano, o 34º New Orleans Jazz & Heritage Festival viu sua platéia encolher 17% em seu primeiro final de semana. E a previsão dos organizadores não era mais otimista em relação à segunda semana do evento, que tinha encerramento previsto para o início da noite de ontem, com shows de Buddy Guy, The Crusaders e The Neville Brothers, entre outros.
Músicos e bandas de prestígio de vários gêneros, como Bob Dylan, o trio Crosby, Stills & Nash, Joe Cocker, Fats Domino, Cassandra Wilson e Ornette Coleman, só atraíram 193 mil pessoas durante os quatro primeiros dias de shows. A indústria turística local calcula que a ocupação dos hotéis na cidade, geralmente superlotada nessa época, ficou apenas em torno dos 90%.
Se esse decréscimo certamente preocupa autoridades e produtores locais, a platéia do festival encontrou mais conforto do que em anos anteriores. Na última quinta-feira, por exemplo, havia lugares disponíveis na platéia para ouvir o quinteto do baixista inglês Dave Holland, o músico mais premiado na área do jazz atualmente. Falando com exclusividade à Folha, Holland revelou que deve voltar a se apresentar no Brasil, na edição de 2004 do Chivas Jazz Festival. "Queríamos ter retornado já neste ano, mas problemas de agenda impediram", disse o jazzista, responsável pelo show mais elogiado desse evento em 2001.
"Escrevi uma composição influenciada por nossa passagem pelo Rio, cidade que adoramos. Ela se chama "A Rio" e estará no próximo álbum de minha big band, em 2004", antecipou.
Pouco antes de sua apresentação em Nova Orleans, aplaudida de pé pela platéia, Holland também participou de uma entrevista pública. Nela, o baixista reconheceu que o fato de ter tocado por dois anos e meio com Miles Davis foi essencial para sua formação como líder.
"Miles dava espaço a todos na banda para que pudessem criar e se expressar", disse, revelando que tocou pela primeira vez na banda do trompetista, em agosto de 68, sem ter trocado qualquer palavra com ele antes. "Me senti como se tivesse sido atropelado quando a música começou."
Outra atração do festival de Nova Orleans que vai retornar ao Brasil neste ano é a cantora Marva Wright. A "rainha do blues" será uma das atrações da comemoração dos 10 anos do Bourbon Street Music Club, em novembro.
Segundo Edgar Radesca, produtor dessa casa noturna paulistana, que está em Nova Orleans contratando o elenco do evento, também já estão confirmados o grupo Mahogany Blue (a partir de 20 de maio) e Tony Hall (julho).

Funeral
Não foi apenas o Jazz & Heritage Festival que atraiu milhares de pessoas na última semana.
O funeral do veterano cantor, guitarrista e compositor de blues Earl King, morto aos 69 anos, no último dia 17, vítima de diabetes, levou às ruas centenas de fãs, duas bandas de metais, índios do Carnaval de Nova Orleans e astros da música local, como Dr. John, Irma Thomas e Deacon John. Eles participaram do cortejo que passou por algumas das principais ruas do centro da cidade, na tarde da última quarta-feira. Dentro de uma carruagem preta, o caixão com o corpo fechava o cortejo.


O jornalista Carlos Calado viajou a convite do New Orleans Metropolitan Convention and Visitors Bureau e da American Airlines


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