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OUTRA FREQÜÊNCIA
Sem controle de conteúdo, rádio é ouvido por 86,5% das crianças
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sempre preocupados com o
conteúdo da TV e da internet
para as crianças, sociedade e governo pouco olham para a programação das rádios. Esse é um
erro grave, de acordo com uma
pesquisa sobre hábitos infantis.
Segundo o instituto MultiFocus,
especializado em consumo de mídia na infância, 86,5% das crianças de seis a 11 anos, das classes A,
B e C, escutam rádio regularmente. O estudo foi realizado em 2003,
com 1.500 entrevistas, em quatro
capitais brasileiras (São Paulo,
Rio, Belo Horizonte e Curitiba).
O levantamento aponta ainda
que quase metade (49,1%) escolhe
pessoalmente as emissoras.
Diferentemente da TV, as emissoras de rádio não submetem sua
programação à classificação etária do governo federal e raramente são alvo do monitoramento de
ONGs ou do Ministério Público.
De manhã e à tarde, não são
poucos os exemplos de humorísticos, com altas audiências, a explorar piadas de sexo. Há palavrões e frases homofóbicas. Programas sobre violência também
são comuns.
Pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, o governo deveria
também monitorar programas de
rádio, o que não ocorre, segundo
o próprio diretor do departamento de classificação do Ministério
da Justiça, José Eduardo Romão,
responsável pela tarefa.
Ao ser informado pela Folha sobre a pesquisa, ele disse que "o resultado exige novos procedimentos do ministério". "A lei estabelece que não se classifica previamente programação ao vivo, no
rádio e na TV. Mas ela deve ser
monitorada e pode ser classificada se se demonstrar inadequada."
Ele diz que rádios que transmitem programas considerados impróprios para o horário livre (até
20h) podem ser multados. "A sociedade deve olhar para essa
questão do rádio e denunciar o
que for inadequado."
Segundo Ana Helena Meirelles
Reis, do MultiFocus, crianças têm
interesse principalmente em música. "Mas estão expostas a todo o
tipo de conteúdo. A sociedade
não se dá conta da penetração do
rádio e só se preocupa com TV."
Outro ponto: AMs e FMs comerciais não investem em programação infantil. "Ficou claro na
4ª Cúpula Mundial de Mídia para
Crianças e Adolescentes que esse
público quer mais do que uma
programação feita para ele. Deseja participar da produção", diz Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Educom.radio, da USP,
projeto que utiliza o rádio como
ferramenta da educação.
José Inácio Pizani, presidente da
associação de rádios de SP (Aesp),
não concorda que o rádio seja
monitorado pelo governo. "Se
houvesse problemas, a própria
sociedade se manifestaria."
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