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LITERATURA
"Tarsilinha" pinta em livro retrato
inédito da modernista "Tarsilona"
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os dias de manhã, Tarsila
do Amaral pega seu carro e enfrenta o trânsito até a Hípica Paulista, para dar suas aulas de equitação. Nos últimos tempos, essa
rotina entre pôneis e cavalos foi
atravessada ao meio por fotos velhas, diários empoeirados, muitas
telas, pincéis e latas de tintas.
Tarsila do Amaral é péssima em
desenhos e pinturas -da última
vez que tentou rabiscar um patinho para a sobrinha, a garota disse que era um "auau". Mas acaba
de botar no papel um complexo
retrato de... Tarsila do Amaral.
Com 39 anos, a campeã de equitação, dona do haras Abaporu e
sobrinha-neta da artista modernista, que viveu de 1897 a 1973,
lança na próxima segunda o livro
"Tarsila por Tarsila", obra que fez
sobre a parente homônima.
Livro de arte, fartamente ilustrado, com muitas imagens inéditas, essa "biografia familiar" da
Tarsilona pela Tarsilinha (como a
sobrinha-neta da artista é chamada entre os Amaral) começou a
ser trabalhada há cinco anos.
"Percebi que havia um interesse
crescente sobre ela. Primeiro a
venda milionária do "Abapuru",
em 1995, depois uma megaexposição na galeria do Sesi, aí a Bienal
de São Paulo de 1998, sobre a antropofagia", enumera Tarsilinha.
Mesmo sem grande familiaridade com as letras ou as tintas, a
amazona resolveu pular a longa
fileira de obstáculos. Orientada
pelo escritor e jornalista Jorge
Caldeira, autor de diversas biografias, ela começou a entrevistar
longamente os familiares que tiveram mais contato com Tarsila e
enfiar o nariz nos arquivos.
De uma de suas tias, Helena, sobrinha próxima de Tarsila, recebeu pistas importantes -e, como
presente de aniversário, a agenda
de telefones da artista. Um trecho
do caderninho telefônico da pintora, reproduzido no livro, mostra: "Annita Malfatti - Rio 5 2014".
Em outro pedaço, ainda na letra
"a", é possível ver "Appolinaire
(mme. Guillaume)", e o endereço
do mítico poeta francês no boulevard Saint Germain.
Não são as únicas novidades da
"biografia familiar", publicada
pela editora Celebris. Nele estão
reproduzidas obras inéditas ou
pouco (e mal) exibidas de Tarsila,
como o primeiro óleo da artista, o
acadêmico "Sagrado Coração de
Jesus" (1904), a pintura que ela fez
de sua única neta, Beatriz, morta
tragicamente aos 13 anos, afogada, e uma escultura elaborada para o túmulo da mesma menina.
Além das diversas fotografias,
antes coladas em álbuns que estavam com a família, "Tarsila por
Tarsila" também tem colaborações da faceta menos lembrada da
artista, a de escritora/cronista.
Seu belo texto "Rainha do Sabá", publicado no jornal "Diário
de S. Paulo", em 1946, por exemplo, é reproduzido na íntegra.
Mas Tarsilinha diz que o inédito, novo e exclusivo não era o foco
de seu livro. "O trabalho de Aracy
Amaral sobre ela é imbatível, incontestável. A minha idéia era
apenas contar a história da Tarsila
com linguagem mais simples."
Além dessa "biografia simplificada", das novidades, das ilustrações, há também pitadas de pimenta em "Tarsila por Tarsila".
Uma delas, crava Tarsilinha, é:
"Minha família odeia Oswald"
-e Oswald é, claro, Oswald de
Andrade, que fez o "casal 20 modernista" com a artista e dela se
separou para ficar com Pagu. Outras farpas vão
em direção ao criador do Masp,
Pietro Maria Bardi: "Ele também
não tinha muitos escrúpulos. Falava que ia fazer Museu Tarsila,
pegava com ela um monte de coisas, aí vendia sem consultá-la".
Não é para fazer intrigas, porém, que a agora autora lançou
"Tarsila por Tarsila", livro prefaciado por Maria Adelaide Amaral
(autora de "Um Só Coração" e da
peça "Tarsila", recém-publicada
pela editora Globo). "Só quero fazer Tarsila um pouco mais viva",
diz Tarsila do Amaral, a vivíssima.
TARSILA POR TARSILA. Autor: Tarsila
do Amaral. Editora: Celebris. Quanto: R$
65 (193 págs.). Lançamento: segunda-feira, às 19h. Onde: livraria Cultura - shopping Villa-Lobos (av. das Nações
Unidas, 4.777, SP, tel. 0/xx/11/3024-3599).
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