|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA/POP ROCK
"Man-Made" muda pouco da sonoridade da banda escocesa
Teenage Fanclub traz mais de seu pop perfeito em novo CD
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É uma crise comum na música
pop: quando um artista deve
começar a se preocupar em manter o seu som e correr o risco de
soar anacrônico ou mudar o seu
som e correr o risco de perder a
personalidade?
Uma escolha errada pode fazer
um artista ser tachado de sofrer
do injusto "complexo de Ramones" -20 anos fazendo a mesma
coisa- ou perder a atenção do
público, acusado de haver perdido o rumo.
Incrivelmente, o grupo escocês
Teenage Fanclub -17 anos de
carreira e com seu sétimo álbum,
"Man-Made", recém-lançado em
edição nacional- parece passar
ao largo desses questionamentos.
Certamente, estão mais para
Neil Young (que, mesmo ocasionalmente tocando rock alto, está
mais preocupado em fazer boas
canções com seu violão) do que
David Bowie (que parece sempre
estar inevitavelmente acompanhado do adjetivo "camaleão").
"Às vezes as pessoas parecem
esperar que façamos um disco de
tecno ou drum'n'bass", comenta
o guitarrista Norman Blake, um
dos três compositores e cantores
da banda. "Mas nós não temos esse espírito de mudar completamente o nosso som de um disco
para o outro. Acho que, se você
ouvir nosso primeiro álbum e depois o último, vai parecer uma
banda diferente, mas foi uma coisa gradual", diz.
Ao lado do baterista Francis
MacDonald e dos também compositores e cantores Gerry Love,
baixo, e Raymond McGinley, guitarra, Blake diz não ter medo de
continuarem fazendo o que sempre fizeram. "As experiências da
vida desenvolvem nossa sensibilidade como compositores, e sempre tentamos melhorar nossas habilidades como instrumentistas e
arranjadores, daí vem nossa evolução", explica.
O já citado novo disco do quarteto, "Man-Made", traz, de certa
forma, mais do mesmo. A pergunta é: precisa mais? Sem medo
de ser simples e diretos, fazendo
canções de amor que miram direto no coração do ouvinte, esbanjando harmonias vocais, melodias bonitas, refrãos redondos e
instrumental sem sobras, a banda
eleva a uma categoria superior a
expressão "pop perfeito".
Talento para pop perfeito, aliás,
parece ser comum em Glasgow,
cidade natal da banda. Blake explica que se sente parte de uma
tradição da música pop escocesa.
"Isso é uma coisa que vem desde os anos 60, passa pelo Jesus &
Mary Chain nos anos 80, depois
nós e depois bandas como Belle &
Sebastian, The Pastels, Mogwai,
Arab Strap."
Espaço para a música
Gravado do outro lado do oceano de sua Glasgow, em Chicago,
com produção de John McEntire,
líder da banda de pós-rock Tortoise, "Man-Made" mostra a banda se aprofundando ainda mais
na sensibilidade e delicadeza.
Existe no ar uma certa proximidade com bandas da atual cena
americana de alt-country, como
Wilco. Grande diferença dos tempos em que eram listados, ao lado
de Nirvana e Sonic Youth, como
uma das bandas fundadoras de
toda a sonoridade melódica-barulhenta dos anos 90.
Os eternos adolescentes se acalmaram? "A gente nunca parou
pra discutir o conceito da banda,
tentar mudar a sonoridade", diz
Blake. "Mas a gente foi sempre experimentando coisas novas e vendo o que funcionava. Hoje em dia
a gente não usa mais pedais de
distorção, preferimos deixar espaço para a música ganhar vida."
Simplicidade cada vez mais é o
caminho, e a banda parece estar
continuamente buscando as possibilidades do formato de duas
guitarras, baixo e bateria.
Isso traz à mente, também, certo parentesco direto com o pop
dos anos 60. Eles conseguem recriar com uma abordagem traduzida para os anos 90/00 a alegria
de ser simplesmente uma banda
comum, de boas músicas, como
um The Turtles, por exemplo,
sem se preocupar em inovar
constantemente o pop, mas apenas a si mesmos.
No fim, faz muito bem para a
música pop ter gente preocupada
em fazer só (só?) boas músicas.
"Mas nunca se sabe, talvez em
algum momento a gente lance
aquele disco de techno ou
drum'n'bass", diz o guitarrista,
rindo. Alguém acredita?
Man-Made
Artista: Teenage Fanclub
Lançamento: Slag
Quanto: R$ 25, em média
Texto Anterior: Popload: Coachella 2006 - a Madonna, o robô e Seu Jorge Próximo Texto: Crítica/Rock: WRM faz anos 80 parecerem atuais Índice
|