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comentário
Olhar crítico é distanciado e apaixonado
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
O crítico de teatro,
em geral, é visto
como um mal necessário: convidado de cerimônia, pode destruir em
poucas horas, reza a lenda,
o que às vezes se levou
anos para conseguir. No
entanto, o registro que
deixa, entre a impressão
do momento e o registro
histórico, como nos relatos de guerra, também depõe contra ou a favor de
seu autor. Por mais fugaz
que seja seu depoimento,
um erro o ridicularizará
para sempre.
Quando um crítico completa 80 anos em plena
produção, mantendo o
trânsito do que já viu com
o que está sendo feito, o
patrimônio é do próprio
teatro. Em tempos em que
a cultura da fofoca destrói
qualquer relevância, ocupando espaços com divulgações superficiais, Sábato Magaldi se mantém acima
da feira das vaidades. Não
permite que seja remetido
a um passado irrevogável a
tarefa de pensar, que tanto
alavancou o teatro no tempo de Décio de Almeida
Prado e Anatol Rosenfeld.
Assim, como o náufrago
de Edgar Allan Poe, que no
redemoinho do Maelstron
é capaz de selecionar o relevante e deduzir as regras
que estão sendo usadas,
Magaldi lega à posteridade
seu olhar certeiro. Em
"Teatro Sempre", para citar só um exemplo, ao se
referir à "Valsa nš 6" de
Nelson Rodrigues como
"um "Vestido de Noiva" às
avessas", faz mais do que
esclarecer: levanta a ponta
de uma longa discussão
sobre estruturas e obsessões rodriguianas.
Seu olhar crítico ao mesmo tempo distanciado e
apaixonado, derivando-se
da observação da obra já
pronta, é capaz de gerar
por sua vez novas obras. Se
Nelson Rodrigues é cada
vez mais o "Shakespeare
Brasileiro", pelas constantes releituras do panorama teatral, o mérito inicial
é todo de Sábato Magaldi.
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