São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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comentário

Olhar crítico é distanciado e apaixonado

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

O crítico de teatro, em geral, é visto como um mal necessário: convidado de cerimônia, pode destruir em poucas horas, reza a lenda, o que às vezes se levou anos para conseguir. No entanto, o registro que deixa, entre a impressão do momento e o registro histórico, como nos relatos de guerra, também depõe contra ou a favor de seu autor. Por mais fugaz que seja seu depoimento, um erro o ridicularizará para sempre.
Quando um crítico completa 80 anos em plena produção, mantendo o trânsito do que já viu com o que está sendo feito, o patrimônio é do próprio teatro. Em tempos em que a cultura da fofoca destrói qualquer relevância, ocupando espaços com divulgações superficiais, Sábato Magaldi se mantém acima da feira das vaidades. Não permite que seja remetido a um passado irrevogável a tarefa de pensar, que tanto alavancou o teatro no tempo de Décio de Almeida Prado e Anatol Rosenfeld.
Assim, como o náufrago de Edgar Allan Poe, que no redemoinho do Maelstron é capaz de selecionar o relevante e deduzir as regras que estão sendo usadas, Magaldi lega à posteridade seu olhar certeiro. Em "Teatro Sempre", para citar só um exemplo, ao se referir à "Valsa nš 6" de Nelson Rodrigues como "um "Vestido de Noiva" às avessas", faz mais do que esclarecer: levanta a ponta de uma longa discussão sobre estruturas e obsessões rodriguianas.
Seu olhar crítico ao mesmo tempo distanciado e apaixonado, derivando-se da observação da obra já pronta, é capaz de gerar por sua vez novas obras. Se Nelson Rodrigues é cada vez mais o "Shakespeare Brasileiro", pelas constantes releituras do panorama teatral, o mérito inicial é todo de Sábato Magaldi.


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