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Crítica/história
Narrativas da Segunda Guerra retomam foco em personagens
Lançamentos analisam o conflito através dos indivíduos que detinham o poder
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dezenas de milhões de
pessoas lutaram, milhões morreram entre
1939 e 1945, mas grande parte
dessa tragédia foi responsabilidade de meia dúzia de líderes
político-militares. Três livros
agora editados no Brasil dão
nova força à historiografia dos
grandes personagens da Segunda Guerra Mundial.
Os mesmos personagens
fundamentais freqüentam suas
páginas: o ditador alemão (nascido na Áustria) Adolf Hitler
(1889-1945); o ditador russo-soviético (nascido na Geórgia)
Josef Stálin (1878-1953); os
presidentes americanos Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) e Harry S. Truman (1884-1972); e os primeiros-ministros
britânicos Winston Churchill
(1874-1965) e Clement Richard
Attlee (1883-1967).
História tem moda, e a da
maior guerra da história humana certamente não está imune,
já que tem gente escrevendo
sobre ela faz mais de 60 anos. O
marxismo, esse velho ópio dos
intelectuais, na feliz expressão
do francês Raymond Aron, tenta explicar tudo pela luta de
classes, por movimentos sociais anônimos e tectônicos.
Onde ficariam os indivíduos?
Bem, um deles era o supostamente marxista Stálin, que tinha um poder de influenciar a
história bem acima daquele do
mortal comum. No caso deste
velho ditador bigodudo, quase
sempre para o mal.
Lukacs nasceu na Hungria e
se radicou nos EUA. É católico,
conservador e bom historiador
atento aos fatos -rato de biblioteca e de arquivo. Seu estilo
é, de longe, o melhor desta trinca de livros. Não tem papas na
língua. Usa e abusa de adjetivos
para descrever personagens
históricos -fulano é "desprezível" ou "bobo", por exemplo.
Tem grande admiração por
Churchill, a quem considera
-com toda razão- o maior estadista do século que passou.
Ele deplora o populismo,
tanto do nazismo como do comunismo. Pisa no calo da esquerda e da direita convencionais ao descrever a curiosa relação entre os dois piores ditadores do século 20, o nacional-socialista e o comunista.
Pacto de não-agressão
Hitler e Stálin fizeram um
pacto de não-agressão em agosto de 1939 que caiu como uma
bomba na esquerda mundial,
que, de um minuto para outro,
teve que tratar como aliado o
sujeito que era seu principal
objeto de ódio.
Stálin confiou cegamente no
colega ditador. Não ouviu nenhuma das muitas cassandras
que mostravam que Hitler atacaria a União Soviética em 22
de junho de 1941. Lukacs tenta
explicar esse mistério.
Não há dúvida de que, sozinho, o Reino Unido não teria
como vencer a guerra. Churchill ansiava para que os EUA e
a URSS entrassem no conflito.
Quando os japoneses atacaram
a base americana de Pearl Harbor, no Havaí, o velho primeiro-ministro suspirou aliviado:
"ganhamos a guerra".
Obviamente, seriam necessários mais quatro anos para
que o poder econômico dos
EUA e da URSS se traduzisse
em poder militar para conseguir a vitória.
Churchill e Roosevelt
Primeiro o britânico teve que
criar uma relação pessoal com
seu colega do outro lado do
Atlântico. Churchill e Roosevelt se encontraram pessoalmente nove vezes durante a
guerra.
A primeira vez, em agosto de
1941, a bordo de navios de guerra ao largo do Canadá. A segunda vez aconteceu no dezembro
seguinte, logo depois de Pearl
Harbor, tema do livro de Bercuson e Herwig, pesquisadores
do Canadá (Herwig, nascido na
Alemanha).
O foco em momentos precisos permite examinar a discussão da estratégia militar. Certos
fatos são notórios. Os americanos preferiam uma estratégia
direta, atacando a Alemanha
pelo caminho mais reto, com
todo o poder concentrado.
Os britânicos -fruto da sua
história de potência naval sem
exército numeroso e também
da sua fraqueza na guerra-,
preferiam estratégias indiretas.
A frase clássica de Churchill era
"atacar o ventre mole do Eixo"
- isto é, no Mediterrâneo, notadamente a extremamente incompetente Itália (em termos
militares). O livro da dupla é
uma boa introdução para o que
ocorreu depois.
Conferência de Potsdam
Já o livro mais antigo, de
1975, de Charles Mee, procura
entender o pós-guerra com base na conferência de Potsdam
entre os "três grandes". A Alemanha já estava derrotada, faltava tirar o Japão da guerra.
Durante a conferência, o presidente americano Harry Truman -que substituíra Roosevelt, morto fazia pouco- soube
do sucesso do primeiro teste de
bomba atômica.
Outra bomba foi a derrota de
Churchill para o trabalhista Attlee em eleição. A conferência
tinha então dois aliados ocidentais novatos em lidar com
Stálin, e isso ajudou a moldar a
nascente Guerra Fria.
Os livros têm as tradicionais
imprecisões de tradução de termos militares. O de Lukacs tem
até um curioso "plano mensageiro". O tradutor ligou o piloto
automático e verteu "messenger plane" deste modo, em vez
do correto "avião mensageiro".
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