São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Palanque nacional


Admirado por Obama e comparado aos Smiths, o quinteto americano The National ressurge com quinto CD

Helen Boast - 10.ago.09/Redferns
Matt Berninger, vocalista da banda The National

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Desilusões, incertezas, insegurança, solidão, um pouco de humor negro e de otimismo. São os temas que estão no aguardado quinto disco do grupo The National, queridinho do rock independente norte-americano -e de Barack Obama.
A aproximação National-Obama aconteceu em 2008. Para apoiar o então candidato, a banda confeccionou camisetas em que Obama é chamado de "Mr. November", nome de uma canção do National -e mês em que ocorrem as eleições presidenciais nos EUA. O político retribuiu utilizando o semi-hit "Fake Empire" em vídeos de campanha e na convenção do Partido Democrata.
Na semana que vem, o quinteto lança "High Violet", álbum em que se destacam a voz grave de Matt Berninger, melodias densas que lembram nomes como The Smiths, além de letras que abordam a ressaca pós-crise que abala os Estados Unidos.
"Talvez "Runaway" seja a única canção neste disco que fale sobre uma certa frustração com a América", conta Berninger por telefone, "e os EUA não estão em um momento horrível por culpa de Obama. Ele está diante de um sistema esfacelado e tenta desesperadamente fazer com que esse sistema volte a funcionar. Estou otimista".
As letras sóbrias, reflexivas de Berninger ganham o apoio de guitarras profundas e de uma bateria dinâmica. Cria-se uma atmosfera de tensão, madura. Nesta Folha, o colunista Álvaro Pereira Júnior definiu o grupo como "rock adulto".
"Não somos mais adolescentes, então escrevo sobre minhas obsessões atuais", diz Berninger, 39. "Às vezes aparecem letras sobre ser jovem e irresponsável, mas sob perspectiva adulta", brinca o vocalista.
Ao descrever a música do National, jornalistas tendem a citar Smiths e Joy Division. Estaria o grupo mais próximo do rock britânico do que do americano? "Não sei... Nunca fui fã de Joy Division, gostava de New Order e Smiths. Mas os Kinks [autores de "You Really Got Me"] foram uma influência, assim como Wedding Present [grupo inglês do final dos anos 80]", elenca Berninger.
E o vocal barítono, foi inspirado em alguém? "Há alguns cantores que são meus heróis, como Tom Waits, Nick Cave e Leonard Cohen", afirma.
Em uma época em que o pop e o rock se apegam em novidades e em imediatismos, o National é uma exceção. Seus primeiros discos, "The National" (2001) e "Sad Songs for Dirty Lovers" (03) foram praticamente desprezados. Aos poucos, a banda solidificou sua música e arrebanhou fãs.
Com "Alligator" (05), cristalizaram-se elogios. "Boxer" (07) trouxe a consagração: faixas como "Fake Empire" e "Mistaken for Strangers" uniam o lirismo das letras de Berninger a melodias e arranjos intensos, dramáticos.
"Estamos ficando melhores com o tempo? Acho que sim. No início, não tínhamos muita noção do que queríamos. Esse processo lento nos fez entender como seria fácil desaparecer se não fizéssemos discos realmente bons. Seja ótimo ou desapareça. É assim que funciona [na música pop]."
Nesse sentido, "High Violet" é diferente de "Boxer": desliza com fluidez entre o rock-pop (em canções como "Lemonworld" e "England"), o rock orquestrado ("Bloodbuzz, Ohio") e a melancolia ("Sorrow").
"Queria que fosse mais direto [que "Boxer"], que soasse ao mesmo tempo imperfeito e bonito", disse. Missão cumprida.


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