|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
The National extrai força de poesia melancólica
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
As agonias de quem está
perto dos 40 anos são
maiores daquelas dos
jovens de 20 e poucos anos?
Ouvir "High Violet", novo disco
do National, é um bom caminho para entender como a melancolia pode se transformar e
ser suportável ao longo da vida,
mas nunca desaparecer.
A voz de barítono e as letras
repletas de desesperança do
cantor Matt Berninger, 39, remetem imediatamente ao líder
do Joy Division, Ian Curtis, que
se matou aos 23 anos, em 1980.
A conexão entre as gerações
fica clara na faixa "Bloodbuzz
Ohio". A introdução de bateria
remete a "Disorder", do disco
"Unknown Pleasures" (1979),
do grupo inglês.
Mas, enquanto
Curtis falava sobre indecisões e
a espera por um guia que o
orientasse, Berninger demonstra uma certeza amarga moldada com o passar dos anos, ao
cantar que não pensa em amor
quando pensa em sua casa.
Ainda que a ideia de um "rock
adulto" abrigue tanto o National quanto veteranos como
Nick Cave e Tom Waits, o personagem autobiográfico criado
por Berninger é menos uma caricatura de macho boêmio e sujo e mais um homem comum.
Este tem mulher e filho -e
problemas mundanos.
Às vezes, canta sobre dívidas, como
na já citada "Bloodbuzz...", ou
sobre um estado de paranoia
nacional, em "Afraid of Everyone" ("Defenderei minha família/ com meu guarda-chuva laranja/.../tenho medo de todos).
Berninger não tem lá muita
extensão vocal, o que acaba padronizando certas faixas. Isso,
no entanto, não é problema.
Ao
usar a repetição como ferramenta, o eu lírico se fortalece e
torna-se mais convincente.
Surgem, assim, crônicas poéticas sobre um homem vivendo
amores desgastados ("É um
amor terrível, e estou caminhando com aranhas/.../não
consigo dormir/ sem uma ajudinha", em "Terrible Love"), lutando contra o sentimento de
sentir-se solitário e pequeno
em meio à cidade grande ("A
tristeza me encontrou quando
eu era jovem/a tristeza esperou, a tristeza venceu/.../Vivo
numa cidade construída pela
tristeza", em "Sorrow").
O mérito do grupo é fazer
com que a paisagem desoladora
não se torne chororô autopiedoso. Surge aí um paradoxo, em
que o National cria, com instrumentação grandiosa, um cenário em que a esperança, mesmo
que distante, ainda brilha.
HIGH VIOLET
Artista: The National
Lançamento: 4AD Records
(importado)
Quanto: US$ 9,99 (cerca de R$ 20 mais
taxas, em www.amazon.com)
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Palanque nacional Próximo Texto: Música: Sergio Mendes exalta o "país tropical" em CD Índice
|