São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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Missão de Mário de Andrade vira DVD

Digitalização traz a público, depois de sete décadas, cadernetas e filmes da Missão de Pesquisas Folclóricas

Trabalho realizado em 1938 foi a última grande expedição do século 20 e, usando tecnologia de ponta, revelou o Brasil

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Durante sete décadas, o destino da ambiciosa Missão de Pesquisas Folclóricas, idealizada pelo modernista Mário de Andrade (1893-1945), parecia ser o porão.
Foi assim, afinal de contas, que o material recolhido em 1938 pela equipe coordenada por Luiz Saia (chefe da Missão), Martin Braunwieser (técnico musical), Benedicto Pacheco (técnico de som), e Antonio Ladeira (ajudante geral) viveu até os anos 1990. "Quando cheguei ao Centro Cultural, estava tudo num porão, armazenado", conta Carlos Augusto Calil, atual secretário municipal de Cultura e ex-diretor do Centro Cultural São Paulo (CCSP).
Pesquisadores como Oneyda Alvarenga (1911-1984) e Camargo Guarnieri (1907-1993) haviam tateado aquela vastidão. Mas o todo permanecia oculto. "Achei que era meu papel, como gestor público, tornar aquilo acessível", diz Calil.
Começava assim o trabalho que culmina, amanhã, no lançamento no DVD-rom "Missão de Pesquisas Folclóricas", que reúne, digitalizadas, 21 cadernetas, com cerca de cem páginas cada, 14 breves filmes, 87 fonogramas registrados em comunidades do Norte e Nordeste, fotografias e o vídeo "Mário de Andrade e a Missão de Pesquisas Folclóricas".
"Era o projeto de vida do Mário. Mas, caro e inovador, sofreu todo tipo de incompreensão", diz Calil.

A LA DEBRET
Inspirado nas missões do século 19, como aquelas feitas por Debret (1768-1848) e Langsdorff (1774-1852), esse registro foi marcado, de um lado, pela descoberta etnográfica, e, de outro, pela alta tecnologia. "Eles compraram o equipamento mais moderno que havia na época, capaz de gravar imagem e som. Era enorme", conta Calil.
Os pesquisadores tinham a incumbência de anotar, desenhar, filmar, gravar sons, recolher objetos, reproduzir, nas cadernetas, esquemas dos passos de bailados e projetos arquitetônicos.
Segundo Calil, Andrade organizou tal empreitada pelo fato de inquietar-se com o alarme que seu contemporâneo Theodor Adorno (1903-1969) fez soar: a chegada da indústria cultural faria desaparecer as manifestações culturais espontâneas escondidas em pequenos recantos.
Andrade investiu o que pôde na missão. Mas, acusado de perdulário, acabou sendo demitido do Departamento de Cultura pelo prefeito Prestes Maia. E foi assim que a Missão, que começava a percorrer o Norte do país, viu-se obrigada a dar meia volta.

MISSÃO DE PESQUISAS FOLCLÓRICAS

DISTRIBUIÇÃO CCSP
QUANTO R$ 25


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