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Updike testa aventura em "Terrorist"
Autor de "As Bruxas de Eastwick" lança nos EUA livro protagonizado por jovem que se prepara para explodir túnel
Romancista experimenta gênero pela primeira vez, mas não abre mão de temáticas caras a ele, como religião, morte e sexo
CHARLES MCGRATH
DO "NEW YORK TIMES"
John Updike usa a internet
com cautela, temeroso de que
um vírus possa infectar seu
computador. Recentemente,
ele também se mostrou contrário à idéia de digitalizar todos
os livros existentes e formar
um grande banco de dados.
Para seu novo romance,
"Terrorist", no entanto, ele se
aventurou pela web a fim de
pesquisar sobre detonadores
de bombas. Enquanto trabalhava no romance, Updike, 74,
também correu o risco de despertar suspeitas ao se deter por
muito tempo diante das máquinas que analisam malas no aeroporto La Guardia, onde descobriu que as imagens de raio-x
não são em branco e preto, mas
em verde e vermelho.
E contratou um carro e um
motorista que o levassem a alguns dos bairros menos nobres
de Paterson (Nova Jersey) para
ver igrejas e lojas que haviam
virado mesquitas.
"Terrorist" se passa em uma
versão um pouco menor e mais
ordenada de Paterson. O protagonista, Ahmad, 18, é filho de
uma norte-americana hippie e
de um estudante egípcio de intercâmbio; o jovem se converte
ao islamismo e é recrutado para
explodir o Lincoln Tunnel.
O novo romance representa
uma quebra de continuidade.
Segue as convenções dos livros
de aventura, uma das poucas
formas que Updike ainda não
tentou. No entanto, quando ele
fala de "Terrorist", fica claro
que o romance também se
aproxima de temas e preocupações que caracterizam sua obra
desde o começo: sexo, morte,
religião, a escola de segundo
grau e até mesmo Paterson.
Updike, que confessou uma
fobia amena a túneis, disse que
a imagem de uma explosão havia sido a inspiração do livro.
Originalmente, porém, ele desenhou o protagonista como
um jovem cristão. "Imaginei
um jovem seminarista que vê
todas as pessoas como diabos
tentando roubar-lhe a fé", disse. "O século 21 causa essa impressão para muita gente no
mundo árabe."
Quando Updike decidiu mudar a religião do protagonista,
foi porque imaginou que tivesse algo a dizer do ponto de vista
de um terrorista. "Creio que me
senti capaz de compreender a
animosidade e o ódio que um
crente do islã poderia ter pelo
nosso sistema."
Ahmad é um jovem admirável. Os traços com que é descrito ganham vivacidade porque
ele ocupa um dos mais familiares ambientes de Updike: a escola norte-americana. "Pode
ser que, porque fui à escola e
porque meu pai era professor,
eu esteja imbuído de seu espírito", diz Updike.
Enquanto trabalhava em
"Terrorist", ele releu o Corão,
que havia inicialmente folheado na escrita de "The Coup" [o
golpe]. "Boa parte do Corão não
fala com muita eloqüência a um
ocidental. Muito do livro é ou
jurídico demais ou expresso em
poesia opaca."
"Terrorist" traz algumas passagens do Corão, traduzidas diretamente do árabe por um
pós-graduando. "Minha sensação era a de que era a língua de
Deus e o fato de que eu não a
compreendesse queriam dizer
que eu não sabia sobre Deus."
Enquanto espera o lançamento de "Terrorist", Updike
está trabalhando em novo volume de suas obras completas.
Quanto ao que virá a seguir, ele
diz: "Em minha vida, sempre
houve alguma coisa mais que
eu podia fazer, mas só uma.
Sempre me senti muito perto
do fundo do barril a cada passo
de minha carreira".
Tradução de Paulo Migliacci
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