São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA
Poetas surgidos sob Fidel lançam livro

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

A antologia "Habana Medieval", com poesias de 15 importantes autores cubanos nascidos entre os anos 40 e 70, será lançada neste mês pelo ensaísta Ricardo Alberto Pérez, em Passo Fundo (RS).
Pérez, 35, deixou a ilha de Fidel Castro, em novembro de 98, para viver um ano na cidade gaúcha, integrante da rede de refúgio para autores perseguidos, coordenada pelo Parlamento Internacional de Escritores, com sede em Estrasburgo (França).
"A idéia é mostrar como os poetas fundamentais tiveram de escrever sua obra dentro do panorama da revolução", disse Pérez, referindo-se aos 40 anos de poder exercido por Fidel, de 1959 até agora.
O ensaísta, ganhador do Prêmio Nacional da Crítica Literária do Instituto Cubano do Livro, em 93, declarou que essa geração de poetas foi influenciada, "algumas vezes para o bem, outras para o mal", pelo regime comunista.
O título da coletânea, "Habana Medieval", associa o obscurantismo da Idade Média ao regime fechado de Cuba e a sua decadência econômica após as mudanças políticas no Leste Europeu.
A capa do livro, sugestivamente, será ilustrada com uma foto da catedral de Havana, construída por volta de 1600. "Também se busca um sentido estético com o título do livro", disse Pérez, que integrava, no seu país, o grupo "Diáspora", formado por intelectuais que contestam o regime.
Entre os 15 poetas da antologia, que será vendida no mercado e distribuída nas bibliotecas das principais universidades brasileiras, estão José Kozer, Reina María Rodriguez, Rolando Sánchez Mejias e Angel Escobar.
Kozer, judeu que vive em Nova York, é, conforme Pérez, um dos principais poetas de língua espanhola da atualidade; Rodriguez ganhou duas vezes o prêmio Casa das Américas, um dos mais importantes da América Latina; Mejias mora em Barcelona como autor refugiado; Escobar, apontado como um dos melhores poetas cubanos, se suicidou em 97.
A coletânea tem cerca de 140 páginas escritas em espanhol e traz cinco ou seis poemas e uma pequena biografia de cada autor, entre eles o próprio Pérez. O trabalho teve início ainda em Cuba, movido pelo propósito de mostrar "qual é a principal função de um poeta num sistema fechado, autoritário, e o que ele pode produzir".
Na apresentação do livro, que deve chegar à gráfica nesta semana, Pérez diz que os poetas cubanos "produzem material lúdico", contrapondo-se "à ideologia totalitária, que quer sempre a seriedade, a uniformidade, a obediência".
Para ele, a busca do lúdico "é uma maneira estética de desconstruir esse rosto demasiado sério do stalinismo".
O escritor decidirá em novembro, no término do seu período em Passo Fundo, se retornará a Cuba ou se irá para outra das cerca de 20 cidades no mundo que abrigam escritores perseguidos.
Os problemas de Pérez com o regime de Fidel aumentaram em 95, quando ele escreveu uma carta aberta condenando a censura.


O colunista José Simão está em férias


Texto Anterior: Resenha da semana - Bernardo Carvalho: O sorriso de Sade
Próximo Texto: Trecho
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.