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LITERATURA
Poetas surgidos sob Fidel lançam livro
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre
A antologia "Habana Medieval",
com poesias de 15 importantes autores cubanos nascidos entre os
anos 40 e 70, será lançada neste
mês pelo ensaísta Ricardo Alberto
Pérez, em Passo Fundo (RS).
Pérez, 35, deixou a ilha de Fidel
Castro, em novembro de 98, para
viver um ano na cidade gaúcha, integrante da rede de refúgio para
autores perseguidos, coordenada
pelo Parlamento Internacional de
Escritores, com sede em Estrasburgo (França).
"A idéia é mostrar como os poetas fundamentais tiveram de escrever sua obra dentro do panorama
da revolução", disse Pérez, referindo-se aos 40 anos de poder exercido por Fidel, de 1959 até agora.
O ensaísta, ganhador do Prêmio
Nacional da Crítica Literária do
Instituto Cubano do Livro, em 93,
declarou que essa geração de poetas foi influenciada, "algumas vezes para o bem, outras para o mal",
pelo regime comunista.
O título da coletânea, "Habana
Medieval", associa o obscurantismo da Idade Média ao regime fechado de Cuba e a sua decadência
econômica após as mudanças políticas no Leste Europeu.
A capa do livro, sugestivamente,
será ilustrada com uma foto da catedral de Havana, construída por
volta de 1600. "Também se busca
um sentido estético com o título do
livro", disse Pérez, que integrava,
no seu país, o grupo "Diáspora",
formado por intelectuais que contestam o regime.
Entre os 15 poetas da antologia,
que será vendida no mercado e
distribuída nas bibliotecas das
principais universidades brasileiras, estão José Kozer, Reina María
Rodriguez, Rolando Sánchez Mejias e Angel Escobar.
Kozer, judeu que vive em Nova
York, é, conforme Pérez, um dos
principais poetas de língua espanhola da atualidade; Rodriguez ganhou duas vezes o prêmio Casa das
Américas, um dos mais importantes da América Latina; Mejias mora em Barcelona como autor refugiado; Escobar, apontado como
um dos melhores poetas cubanos,
se suicidou em 97.
A coletânea tem cerca de 140 páginas escritas em espanhol e traz
cinco ou seis poemas e uma pequena biografia de cada autor, entre
eles o próprio Pérez. O trabalho teve início ainda em Cuba, movido
pelo propósito de mostrar "qual é
a principal função de um poeta
num sistema fechado, autoritário,
e o que ele pode produzir".
Na apresentação do livro, que
deve chegar à gráfica nesta semana, Pérez diz que os poetas cubanos "produzem material lúdico",
contrapondo-se "à ideologia totalitária, que quer sempre a seriedade, a uniformidade, a obediência".
Para ele, a busca do lúdico "é
uma maneira estética de desconstruir esse rosto demasiado sério do
stalinismo".
O escritor decidirá em novembro, no término do seu período em
Passo Fundo, se retornará a Cuba
ou se irá para outra das cerca de 20
cidades no mundo que abrigam escritores perseguidos.
Os problemas de Pérez com o regime de Fidel aumentaram em 95,
quando ele escreveu uma carta
aberta condenando a censura.
O colunista José Simão está em férias
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