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LITERATURA
Autor, revelado nos anos 80, narra em "A Órbita dos Caracóis" trama em que personagem principal é uma hacker
Reinaldo Moraes volta ao livro após 18 anos
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Em 1981, o editor Caio Graco, da
Brasiliense, filho do comunista
histórico Caio Prado Jr., causou
alvoroço no mercado, que vivia
um boom de relatos sobre o período do regime militar, ao lançar
a coleção "Cantadas Literárias".
Em comum, uma linguagem arrojada, despretensiosa, e narrativas recheadas de referências juvenis. O número um da coleção foi
"Porcos com Asas", de Marco Radice e Ligia Rivera. O número dois
foi "Tanto Faz", de Reinaldo Moraes. Considerado cult e uma revelação, ele lançou ainda "O Abacaxi" pela L&PM em 85 e parou.
Agora, Moraes, 53 anos, recupera o tempo perdido. Acaba de publicar "A Órbita dos Caracóis"
(Cia. das Letras), lança uma edição revisada de "Tanto Faz"
(Azougue), termina um livro cujo
nome de trabalho é "Tudo", para
a coleção inaugurada por Rubem
Fonseca, e entra na coletânea de
contos "Boa Companhia", da Cia.
das Letras.
"Foi uma marcada minha ficar
tanto tempo sem publicar. Até eu
escrever um conto para a revista
"Ácaro". Tomei gosto."
O escritor lembra do preconceito da crítica contra a nova literatura que estava nascendo. "Houve
um crítico que escreveu mandando me prender. Ele confundiu o
autor com o personagem, que
gasta dinheiro de uma bolsa de estudos em gandaias, e perguntou:
"Onde estão os olhos dos poderes
públicos?" Dizia que eu perdia o
fio condutor, enquanto o livro
não tinha fio condutor."
Moraes nunca parou de trabalhar. Traduziu autores como Thomas Pynchon, Charles Bukowski
e William Burroughs, escreveu telenovelas ("Helena", para a Rede
Manchete, e "O Campeão", para a
Band, ambas com o amigo Mário
Prata), e roteiros para cinema, como "Tainá - Uma Aventura na
Amazônia". Chegou a colaborar
para revistas femininas. Agora,
diz recuperar o prazer da escrita
voltada para si mesma, não uma
literatura de resultado ou com hora marcada.
"A Órbita dos Caracóis" é um
romance que ele começou a escrever há dez anos, parou e retomou,
atualizando as referências. Sua
personagem, Juliana, é uma hacker. O livro começa com um assassinato, na praça da Bandeira,
em que o perseguido encaixa na
antena do carro de Juliana um
disquete antes de morrer.
Seu namorado, Tota, não tem o
perfil de um herói clássico. É um
cientista extravagante que joga
pingue-pongue com um parceiro
japonês. A trama anda porque o
assassino viu o disquete no carro
de Juliana. Até um satélite perder
a órbita.
"Alguns acham que a literatura
de trama não é muito inteligente.
Mas por que não ter uma trama?",
pergunta Moraes.
A ÓRBITA DOS CARACÓIS. Autor:
Reinaldo Moraes. Editora: Cia. das Letras.
Quanto: R$ 28 (220 págs.)
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