São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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Só no gogó

Conheça 13 nomes da nova geração de cantores brasileiros, que participam ativamente de todas as etapas de criação dos álbuns

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não, este não é um texto para anunciar "uma nova safra de cantoras brasileiras", como os que são publicados infalivelmente pelo menos uma vez por ano. Não que elas, as cantoras, tenham diminuído a rapidez com que surgem (e desaparecem). É que agora o fenômeno, que de fato existe, é outro.
Desde o começo dos anos 2000, pelo menos, as moças andam dividindo o espaço de passarinhas com cantores do sexo masculino.
E isso não acontecia com tal intensidade por aqui desde que a explosão das bandas de rock dos anos 80 transformou o cantor solto em uma espécie em extinção.
O que pode explicar essa retomada do cantor solo, desvinculado do papel de vocalista de uma banda? Para entender tal movimento, a Folha conversou com 13 desses novos artistas.
Para Rodrigo Campos, cantar acabou se tornando prática fundamental para que o compositor escoasse sua produção. "Até uns dez anos atrás, as cantoras ainda estavam atrás de uma [canção] inédita do Chico Buarque. Até que elas pararam de esperar e passaram a compor", diz. "Foi então que veio a necessidade de fazer meu próprio disco e cantar."
"Não seria a hora de gravarmos as músicas das meninas?", inverte Max Sette. Ele aposta que a atual retomada masculina aos microfones só foi possível graças à falência dos esquemas viciados de venda e divulgação de música.
"Críticos, diretores de TV, programadores de rádio, diretores de gravadoras -a maior parte das pessoas que ocupam esses cargos é homem", diz. "Dada a promiscuidade desses "cartolas do sistema", a simpatia e a magia das mulheres predominam em relação à nossa."

Fim do rock?
Dani Black não acredita numa "inversão da corrente", em que o surgimento de tantos cantores em carreiras individuais sinalizasse uma falência do formato banda de rock. "Estamos assistindo a um movimento de equivalência em que o homem também pode assumir de forma tranquila o papel de intérprete, assim como o de "band leader'", diz.
Comprovando a teoria de Dani, o ex-cantor solo Nervoso acaba de lançar seu disco como vocalista de uma banda, batizada Nervoso e os Calmantes.
Ele lembra que bandas brasileiras originalmente formadas por jovens remetem a rock. "Mutantes é rock. O Terço é rock. Legião Urbana é rock", enumera. "Assim, Nervoso e os Calmantes serão uma banda de rock mesmo que faixas do disco tenham sido arranjada para quarteto de cordas."
É rock ou não é? Os rótulos valem pouco para esta geração. Diogo Poças afirma que no mercado publicitário existe uma necessidade de rotular tudo, como se o que será feito não pudesse ser inovador ou único.
"Sinceramente, isso não é verdade. Tudo o que é novo e verdadeiro é único", afirma. "Esse raciocínio vale para colocar uma esperança sobre nós, que somos cantores, autores e intérpretes. E únicos, sim!"

Autossuficiência
Além de assinar sozinha as capas de seus álbuns, a maioria dos rapazes dessa geração se viu sem grandes dificuldades em todas as etapas do processo: compõem, tocam, gravam, produzem.
"Tem mais gente fazendo música de banda sozinho, com seus computadores. E mais intérpretes ligados na música como um todo, e não como mera base de apoio para seu cantar", contribui Jonas Sá.
Romulo Fróes considera que esse olhar do artista sobre todas as etapas do trabalho gerou um capítulo novo dentro da música brasileira.
"Para dizer o mínimo, o som dessa galera trouxe o Caetano [Veloso] de volta, fazendo-o compor dois grandes discos inspirados por esse som", diz, referindo-se aos últimos trabalhos do veterano.

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