São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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A novela das oficinas

Rede de boatos expõe crise no projeto cultural que recebe R$ 20 milhões do Estado

Adriano Vizoni/Folhapress
Alunos participam de curso de teatro iniciado no último sábado na oficina mais antiga do Estado de SP, a Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Na última quinta-feira, enquanto a Folha esperava a autorização para subir no prédio da Secretaria de Estado da Cultura, um portador da Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo (Assaoc) aguardava um carimbo.
Nas mãos, ele tinha um protocolo que explicitava o conteúdo do envelope ali deixado: prestação de contas do Tribunal de Contas do Estado relativa a 2008.
Ficava ali evidente o processo da reavaliação da Assaoc, Organização Social (OS) que recebe R$ 20 milhões do governo para administrar oficinas culturais em mais de 600 municípios.
"Quando assumi [em maio], o João [Sayad, ex-secretário de Cultura] me alertou para os problemas nas oficinas", confirmaria, em seguida, o secretário Andrea Mattarazzo, demarcando seu quinhão de responsabilidade na confusão que o meio cultural paulista vivenciou na semana passada.

DISSE ME DISSE
Artistas e produtores têm feito circular a informação de que as oficinas culturais mantidas pelo Estado desde 1986 seriam extintas.
A secretaria de Cultura preparou um comunicado negando a intenção. Mas, escaldados com os rumores que circulam há meses, os envolvidos com as oficinas não se convenceram.
"Isso é terrorismo", insiste o secretário. "Estamos reavaliando o desempenho da OS porque temos recebido muitas reclamações a respeito das oficinas. Ela não tem correspondido às expectativas."
Para que se compreenda melhor a confusão é preciso voltar a novela em alguns capítulos. Desde que entrou em cena, em 2005, a Assaoc já foi acusada de aparelhamento político, falhas administrativas e falta de critérios.
Conta-se o caso de uma cidade que teve uma oficina de pintura em vitral porque a mulher do prefeito não só adorava vitrais como tinha uma amiga que estava louca para oferecer um curso de vitral. E dá-lhe oficina.
Alguns coordenadores de cursos argumentam, porém, que a decadência do projeto decorre, também, de um descaso do Estado.
As verbas encolheram e Sayad teria voltado os olhos para projetos-vitrine, como Companhia São Paulo de Dança, Fábricas de Cultura e Escola de Circo.
Os envolvidos com as oficinas pedem anonimato para poupar a novela de ingredientes mexicanos.
Já Nancy Mollo, presidente do Conselho da Assaoc, trata tudo como um grande mal-entendido. Ela diz que a reavaliação é natural e bem-vinda, e jura não ter recebido informações sobre o possível término do contrato com o Estado ou fim das oficinas.
"Estamos apenas revendo as nossas metas porque, de fato, as oficinas podem melhorar", diz Mollo.
A secretaria deve concluir a avaliação dos relatórios em 30 dias. De acordo com Mattarazzo, mesmo que a decisão se encaminhe para a rescisão do contrato, haverá, apenas, uma transferência de comando, sem demissões ou extinção de oficinas.


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