São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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Artista angolano dá rosto aos anônimos da diáspora africana

Yonamine, artista que estará na próxima Bienal, faz agora a primeira individual na cidade

Suas séries de retratos em cores pop lembram espírito de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat com roupagem africana

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Um mendigo negro numa rua de Miami ou a mulher de expressão forte num jornal amarelado pelo tempo poderiam ser avós de Yonamine. Esse artista angolano, escalado para a próxima Bienal de São Paulo, mostra na individual que acaba de abrir na galeria Soso, no centro, um estudo de faces, todas anônimas, que formam um painel da diáspora africana.
Seus retratados também se enquadram na condição de resgatados, tanto do cotidiano amorfo quanto da amnésia escorregadia da história.
Num painel, o rosto do mendigo que almoça numa calçada de Miami se transforma em sucessão pop de fotogramas ultrajados. Sofreram intervenções digitais, distúrbios e desvios do traço, tiveram a estrutura escancarada num desbunde tecnológico.
"Não gosto de nada que seja puro", resume Yonamine.
"Todos somos mistura."
Na mira de curadores que já levaram suas obras à Bienal de Veneza e também para a Bienal de Charjah, nos Emirados Árabes, Yonamine é visto mesmo como híbrido.
Muitos enxergam nele um discípulo africano de Jean-Michel Basquiat e Warhol. "É minha parte pop", diz o artista. "Mas só as ferramentas são as mesmas, a maneira de pensar é diferente."

INVERSO DE WARHOL
De fato, seus retratados em série, com maior e menor definição, serigrafados e distorcidos, são uma espécie de Warhol contaminado pela miséria. Sua operação é o inverso do pop americano.
No lugar da imagem acéfala, repetida à exaustão como sintoma dos excessos da indústria, os fantasmas da celebridade, Yonamine tenta alçar a outro patamar rostos que passam despercebidos.
Outro painel repete a cara de uma negra anônima intercalada com o número zero. É uma figurante da independência angolana, fotografia de um jornal português dos anos 70, que ganha o espaço da tela com ar de exaltação.
Essa desconhecida vira então espécie de heroína de uma tentativa de reescrever a história por parte do artista que nasceu no mesmo dia da independência de Angola.
"É uma maneira de dizer que negro é bonito", diz Yonamine. "Sempre encontro pessoas que poderiam ser do meu país, do meu reino, outros netos do meu avô."


YONAMINE
QUANDO de seg. a sex., 11h às 19h; sáb., 10h às 16h30; até 31/7
ONDE Soso Arte Contemporânea Africana, av. São João, 303 - 2º andar, tel. 0/xx/11/3222-3973
QUANTO grátis




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