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Artista angolano dá rosto aos anônimos da diáspora africana
Yonamine, artista que estará na próxima Bienal, faz agora a primeira individual na cidade
Suas séries de retratos em cores pop lembram espírito de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat com roupagem africana
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Um mendigo negro numa
rua de Miami ou a mulher de
expressão forte num jornal
amarelado pelo tempo poderiam ser avós de Yonamine.
Esse artista angolano, escalado para a próxima Bienal
de São Paulo, mostra na individual que acaba de abrir na
galeria Soso, no centro, um
estudo de faces, todas anônimas, que formam um painel
da diáspora africana.
Seus retratados também se
enquadram na condição de
resgatados, tanto do cotidiano amorfo quanto da amnésia escorregadia da história.
Num painel, o rosto do
mendigo que almoça numa
calçada de Miami se transforma em sucessão pop de fotogramas ultrajados. Sofreram
intervenções digitais, distúrbios e desvios do traço, tiveram a estrutura escancarada
num desbunde tecnológico.
"Não gosto de nada que seja puro", resume Yonamine.
"Todos somos mistura."
Na mira de curadores que
já levaram suas obras à Bienal de Veneza e também para
a Bienal de Charjah, nos Emirados Árabes, Yonamine é
visto mesmo como híbrido.
Muitos enxergam nele um
discípulo africano de Jean-Michel Basquiat e Warhol.
"É minha parte pop", diz o
artista. "Mas só as ferramentas são as mesmas, a maneira
de pensar é diferente."
INVERSO DE WARHOL
De fato, seus retratados em
série, com maior e menor definição, serigrafados e distorcidos, são uma espécie de
Warhol contaminado pela
miséria. Sua operação é o inverso do pop americano.
No lugar da imagem acéfala, repetida à exaustão como
sintoma dos excessos da indústria, os fantasmas da celebridade, Yonamine tenta
alçar a outro patamar rostos
que passam despercebidos.
Outro painel repete a cara
de uma negra anônima intercalada com o número zero. É
uma figurante da independência angolana, fotografia
de um jornal português dos
anos 70, que ganha o espaço
da tela com ar de exaltação.
Essa desconhecida vira
então espécie de heroína de
uma tentativa de reescrever a
história por parte do artista
que nasceu no mesmo dia da
independência de Angola.
"É uma maneira de dizer
que negro é bonito", diz Yonamine. "Sempre encontro
pessoas que poderiam ser do
meu país, do meu reino, outros netos do meu avô."
YONAMINE
QUANDO de seg. a sex., 11h às 19h;
sáb., 10h às 16h30; até 31/7
ONDE Soso Arte Contemporânea
Africana, av. São João, 303 - 2º
andar, tel. 0/xx/11/3222-3973
QUANTO grátis
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