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DANÇA
Bailarino Julio Bocca, que se apresenta em SP, fundou companhia de balé e prepara filme com Carlos Saura
"Não fazemos só futebol na Argentina"
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Na Argentina, além de Maradona, há outro ídolo popular que
consegue superlotar ginásios esportivos. É o bailarino Julio Bocca,
que recentemente atraiu 6.000 pessoas ao Luna Park de Buenos Aires
e que, a partir de segunda, estará se
apresentando em São Paulo, no
Olympia, acompanhado de seu
grupo, o Ballet Argentino.
"Quando formei o Ballet Argentino, que reúne jovens bailarinos,
queria mostrar que não fazemos só
futebol em meu país", diz Bocca,
que hoje divide seu tempo entre
Buenos Aires e Nova York, onde é
primeiro bailarino do American
Ballet Theater, uma das principais
companhias norte-americanas.
Nos primeiros seis anos do Ballet
Argentino, fundado em 1990, era o
próprio Bocca que garantia o salário dos bailarinos.
"Neste ano, o elenco passou a
ser pago pela Secretaria da Cultura
da Nação Argentina. Porém continua saindo do meu bolso os gastos
relativos a viagens, hotéis, produções, teatros etc. Para mim, é gratificante dar oportunidade e apostar
nos mais jovens", ele salienta.
Aos 30 anos, completados no último dia 6 de março, Bocca diz que
já realizou todos os seus sonhos.
"Agora tenho metas. Uma delas
é atuar em cinema. Estou estudando interpretação teatral e em julho
começo a rodar um filme sobre
tango com o cineasta espanhol
Carlos Saura."
Outro plano é dançar uma coreografia de Rodrigo Pederneiras,
do grupo Corpo.
"Já dancei todo o repertório
clássico. Não tenho mais ambições
de interpretar obras de coreógrafos específicos. No entanto, me parece que há um certo frescor nos
balés do Corpo, e eu gostaria de
absorver o tipo de linguagem que
essa companhia brasileira desenvolve."
Depois de saborear uma carreira
meteórica, cujo marco inicial foi a
conquista da medalha de ouro da
Competição Internacional de Balé
de Moscou, em 1985, Bocca afirma
que, hoje, quer desfrutar tudo o
que a vida lhe deu.
"O que me interessa é dançar.
Não lamento viver em uma época
que extinguiu os mitos do balé.
Hoje tudo é mais casual e o mito
não faz mais sentido", comenta o
bailarino.
Apesar de sua ligação com o Brasil, onde já se apresentava aos 16
anos de idade, nos principais papéis de produções do Ballet do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Bocca é atração quase inédita
em São Paulo.
Programa variado
Infelizmente, nesta temporada
Bocca estará se apresentando no limitado palco do Olympia, que em
1993 transformou em vexame a
temporada de Mikhail Baryshnikov (como Bocca, também utilizado como chamariz de altos faturamentos).
Do programa, também é bom
não esperar o que o bailarino costuma exibir no Metropolitan Opera House, de Nova York.
Além de trechos de obras populares do balé, como "Don Quixote", Bocca e os 16 bailarinos do Ballet Argentino dançarão "Sinfonia
Entrelaçada", de Mauro Bigonzetti; "Tango", de Oscar Araiz; "Pulsaciones", de Vittorio Biagi;
"Concertango", de Ana Maria
Stekelman, e "Angel Eterno", de
Ricky Pashkus.
"É um programa variado, que
mistura clássico, moderno, tango", justifica Bocca, que chegou a
ser comparado a Baryshnikov no
início da carreira.
"Na Argentina, é comum surgir
grandes bailarinos. Tivemos Jorge
Donn, por exemplo, que brilhou
no elenco de Maurice Béjart", afirma Bocca.
"Acho que a formação de bons
bailarinos em meu país deve-se à
tradição e à história do Teatro Colón, que implantou uma escola e
que já recebeu todos os grandes
bailarinos, coreógrafos, companhias e maestros do mundo."
Espetáculo: Julio Bocca e Ballet Argentino
Quando: segunda, terça e quarta-feira, às
21h
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517; tel.
011/252-6255)
Quanto: R$ 80 (camarote e setor vip); R$
60 (setor A); R$ 40 (setor C); R$ 30 (setor B)
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