São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997.



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DANÇA
Bailarino Julio Bocca, que se apresenta em SP, fundou companhia de balé e prepara filme com Carlos Saura
"Não fazemos só futebol na Argentina"

ANA FRANCISCA PONZIO

especial para a Folha

Na Argentina, além de Maradona, há outro ídolo popular que consegue superlotar ginásios esportivos. É o bailarino Julio Bocca, que recentemente atraiu 6.000 pessoas ao Luna Park de Buenos Aires e que, a partir de segunda, estará se apresentando em São Paulo, no Olympia, acompanhado de seu grupo, o Ballet Argentino.
"Quando formei o Ballet Argentino, que reúne jovens bailarinos, queria mostrar que não fazemos só futebol em meu país", diz Bocca, que hoje divide seu tempo entre Buenos Aires e Nova York, onde é primeiro bailarino do American Ballet Theater, uma das principais companhias norte-americanas.
Nos primeiros seis anos do Ballet Argentino, fundado em 1990, era o próprio Bocca que garantia o salário dos bailarinos.
"Neste ano, o elenco passou a ser pago pela Secretaria da Cultura da Nação Argentina. Porém continua saindo do meu bolso os gastos relativos a viagens, hotéis, produções, teatros etc. Para mim, é gratificante dar oportunidade e apostar nos mais jovens", ele salienta.
Aos 30 anos, completados no último dia 6 de março, Bocca diz que já realizou todos os seus sonhos.
"Agora tenho metas. Uma delas é atuar em cinema. Estou estudando interpretação teatral e em julho começo a rodar um filme sobre tango com o cineasta espanhol Carlos Saura."
Outro plano é dançar uma coreografia de Rodrigo Pederneiras, do grupo Corpo.
"Já dancei todo o repertório clássico. Não tenho mais ambições de interpretar obras de coreógrafos específicos. No entanto, me parece que há um certo frescor nos balés do Corpo, e eu gostaria de absorver o tipo de linguagem que essa companhia brasileira desenvolve."
Depois de saborear uma carreira meteórica, cujo marco inicial foi a conquista da medalha de ouro da Competição Internacional de Balé de Moscou, em 1985, Bocca afirma que, hoje, quer desfrutar tudo o que a vida lhe deu.
"O que me interessa é dançar. Não lamento viver em uma época que extinguiu os mitos do balé. Hoje tudo é mais casual e o mito não faz mais sentido", comenta o bailarino.
Apesar de sua ligação com o Brasil, onde já se apresentava aos 16 anos de idade, nos principais papéis de produções do Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Bocca é atração quase inédita em São Paulo.
Programa variado
Infelizmente, nesta temporada Bocca estará se apresentando no limitado palco do Olympia, que em 1993 transformou em vexame a temporada de Mikhail Baryshnikov (como Bocca, também utilizado como chamariz de altos faturamentos).
Do programa, também é bom não esperar o que o bailarino costuma exibir no Metropolitan Opera House, de Nova York.
Além de trechos de obras populares do balé, como "Don Quixote", Bocca e os 16 bailarinos do Ballet Argentino dançarão "Sinfonia Entrelaçada", de Mauro Bigonzetti; "Tango", de Oscar Araiz; "Pulsaciones", de Vittorio Biagi; "Concertango", de Ana Maria Stekelman, e "Angel Eterno", de Ricky Pashkus.
"É um programa variado, que mistura clássico, moderno, tango", justifica Bocca, que chegou a ser comparado a Baryshnikov no início da carreira.
"Na Argentina, é comum surgir grandes bailarinos. Tivemos Jorge Donn, por exemplo, que brilhou no elenco de Maurice Béjart", afirma Bocca.
"Acho que a formação de bons bailarinos em meu país deve-se à tradição e à história do Teatro Colón, que implantou uma escola e que já recebeu todos os grandes bailarinos, coreógrafos, companhias e maestros do mundo."

Espetáculo: Julio Bocca e Ballet Argentino Quando: segunda, terça e quarta-feira, às 21h Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517; tel. 011/252-6255) Quanto: R$ 80 (camarote e setor vip); R$ 60 (setor A); R$ 40 (setor C); R$ 30 (setor B)


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