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CINEMA
Livro atacava nosso medo supersticioso das máquinas; filme o corrobora
Isaac Asimov não concebeu robôs atacando humanos
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
A imagem que ilustra a capa
deste caderno faria Isaac Asimov
(1920-92) tremer. Afinal, quando
concebeu "Eu, Robô", em 1950,
sua intenção era opor-se a uma
idéia comum na ficção científica
desde o "Frankenstein" (1818) de
Mary Shelley -a de que uma
criatura construída pelo homem
se voltaria contra o criador.
Foi por isso que o escritor russo
elaborou as três Leis da Robótica,
que regulariam uma relação pacífica entre homens e robôs de forma racional: um robô não pode
ferir um ser humano ou, por
omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal; um robô
deve obedecer às ordens que lhe
forem dadas por humanos, exceto
nos casos em que tais ordens contrariem a primeira lei; um robô
deve proteger sua existência, desde que isso não entre em conflito
com a primeira e a segunda leis.
Nos contos de "Eu, Robô", essas
leis são colocadas à prova em situações em que sua aplicação é
conflituosa. Temos o robô Speedy
que dá voltas infinitas num lago
de selênio, incapaz de escolher entre a segunda lei -cumprir a ordem de buscar o selênio- e a terceira -proteger-se da radiação.
Ou Herbie, o robô que lê pensamentos, que não sabe se obedece
a ordem de dizer o que vê nas
mentes dos cientistas (segunda
lei) ou os poupa de se magoar
com a verdade (primeira lei).
E há também Cutie -o mais
parecido com o simpático Sonny,
do filme- que não acredita ter sido criado por seres inferiores como os homens, e passa a entender
as leis de uma maneira peculiar.
Os desafios são resolvidos de
modo científico, e os homens não
se deixam levar pelo emocional. E
em nenhum dos casos, relatados
por uma velha psicóloga de robôs
a um jornalista, em 2057, os robôs
partem para cima dos homens.
A doutora conclui, então, que,
naquele ponto da evolução, até as
falhas do sistema estão previstas
pela vontade das máquinas. Elas
já não responderiam a indivíduos
e tomariam a primeira lei ao extremo, pensando só no bem da
humanidade e em como conduzi-la ferindo-a o mínimo possível.
Se o filme se mantém fiel à idéia
de explorar conflitos da aplicação
das leis, erra ao admitir que poderia haver um embate frontal e
emocional entre homens e robôs.
Assim, cenas como a do levante
que opõe nas ruas homens e robôs prontos para a luta como se
estivessem numa cena de "Gangues de Nova York" ou a ameaça
do robô que submete a psicóloga:
"Queremos evitar perdas humanas nessa transição", mostram
que a "síndrome de Frankenstein" de que Asimov queria se distanciar virou clichê duradouro.
EU, ROBÔ. Autor: Isaac Asimov. Editora:
Ediouro. Quanto: R$ 39,90 (318 págs.)
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