|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POPLOAD
O balanço de Belém
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM BELÉM
Guardadas as devidas e abissais
proporções, a primeira impressão
que fica quando se dá uma circulada por Belém é que a cidade paraense vive sua vez de "Swinging
London".
Talvez não dê para sentir (ainda) do Sul do país, mas o lugar balança ao som de várias cenas musicais: a própria, a importada, a
mixada e, por isso, transformada
em nova, a regional, o rock independente, a incrível guitarrada, o
brega e o... tecno brega.
A música, em Belém, parece ser
tão importante e tão alimentar
quanto o açaí e a tapioca.
Ainda que desorganizada e
muitas vezes empírica, a cena de
Belém começa a chamar a atenção
de produtores, gravadoras, DJs e
pensadores de outras paradas,
atraídos por causa de sua energia
musical a olhos (e ouvidos) vistos.
Este colunista foi convidado para ver de perto um festival de música em uma ilha, Algodoal, que
fica a mais de três horas de Belém,
a capital. De carro e de barco.
O festival em si, bancado pela
TV e Rádio Cultura de lá, dava
uma amostra de que começa a ser
armado um "complô" do bem para amarrar toda a inspiração musical de Belém e botar a cidade no
mapa do cenário nacional. Em
dois palcos, a guitarrada, o rock
local e o carimbó eram colocados
lado a lado e um atrás do outro.
Ibiza do Nordeste
Mas nos outros cantos, fora do
festival, era engraçado. Algodoal
recentemente recebeu luz elétrica,
mas parece uma Ibiza nordestina.
Tem pelo menos oito bares que
embalam as noites da ilha, que
não dorme. Num bar toca carimbó, no outro heavy metal, no seguinte carimbó, tem um de MPB,
outro com banda ao vivo de rock
brasileiro e até o de electro-rock.
Fora da ilha, de volta a Belém,
após uma caminhada periferia
brava adentro, chega-se aos bailes
da Aparelhagem, a versão paraense dos bailes funk cariocas.
Uma multidão se esfrega suada
onde caras rodam atrás de garotas
enquanto o tecno brega, o cyber
tecno e o tecno melody saem de
um som de DJs locais, que pilotam uns muros gigantes e caros de
caixas acústicas de sua cabine
com computadores.
Essa é a chamada aparelhagem.
O sistema de luz também é manejado por computador. Estamos,
lembre-se, numa periferia brava
de Belém.
O encanto não é tanto qualitativo, diga-se. Mas o lugar tem a "vibe", isso tem. Não é exagero dizer
que, a qualquer momento, esses
tecnos-dances-made-in-Belém,
que parecem lambada baiana, podem parecer, lá no fundo, com
M.I.A., Streets, LCD Soundsystem. Belém vive a seu modo o
zeitgeist da "eletrônica popular",
que domina o mundo indie, graças à comunhão digital.
O rock de Belém vai bem também. A cena tem livros, tem baladas, tem um monte de bandas e
prepara o BelRock, uma coletânea
de 15 músicas de grupos indies locais. Norman Bates, Suzana Flag,
Madame Satã, Cravo Carbono já
são nomes que não causam estranheza na cena rock do Sudeste.
Tão longe, tão perto. "O bicho
vai pegar", como diz "Techno da
Casa das 7 Mulheres". Ou "a espaçonave já vai decolar", como está
no ótimo "Techno da Espaçonave". Belém, enfim, balança.
O colunista Lúcio Ribeiro viajou a convite da TV e Rádio Cultura.
@ - lucio@uol.com.br
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Artes plásticas: Horror de Hiroshima explode no MAC Índice
|