São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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O balanço de Belém

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM BELÉM

Guardadas as devidas e abissais proporções, a primeira impressão que fica quando se dá uma circulada por Belém é que a cidade paraense vive sua vez de "Swinging London".
Talvez não dê para sentir (ainda) do Sul do país, mas o lugar balança ao som de várias cenas musicais: a própria, a importada, a mixada e, por isso, transformada em nova, a regional, o rock independente, a incrível guitarrada, o brega e o... tecno brega.
A música, em Belém, parece ser tão importante e tão alimentar quanto o açaí e a tapioca.
Ainda que desorganizada e muitas vezes empírica, a cena de Belém começa a chamar a atenção de produtores, gravadoras, DJs e pensadores de outras paradas, atraídos por causa de sua energia musical a olhos (e ouvidos) vistos.
Este colunista foi convidado para ver de perto um festival de música em uma ilha, Algodoal, que fica a mais de três horas de Belém, a capital. De carro e de barco.
O festival em si, bancado pela TV e Rádio Cultura de lá, dava uma amostra de que começa a ser armado um "complô" do bem para amarrar toda a inspiração musical de Belém e botar a cidade no mapa do cenário nacional. Em dois palcos, a guitarrada, o rock local e o carimbó eram colocados lado a lado e um atrás do outro.

Ibiza do Nordeste
Mas nos outros cantos, fora do festival, era engraçado. Algodoal recentemente recebeu luz elétrica, mas parece uma Ibiza nordestina. Tem pelo menos oito bares que embalam as noites da ilha, que não dorme. Num bar toca carimbó, no outro heavy metal, no seguinte carimbó, tem um de MPB, outro com banda ao vivo de rock brasileiro e até o de electro-rock.
Fora da ilha, de volta a Belém, após uma caminhada periferia brava adentro, chega-se aos bailes da Aparelhagem, a versão paraense dos bailes funk cariocas.
Uma multidão se esfrega suada onde caras rodam atrás de garotas enquanto o tecno brega, o cyber tecno e o tecno melody saem de um som de DJs locais, que pilotam uns muros gigantes e caros de caixas acústicas de sua cabine com computadores.
Essa é a chamada aparelhagem. O sistema de luz também é manejado por computador. Estamos, lembre-se, numa periferia brava de Belém.
O encanto não é tanto qualitativo, diga-se. Mas o lugar tem a "vibe", isso tem. Não é exagero dizer que, a qualquer momento, esses tecnos-dances-made-in-Belém, que parecem lambada baiana, podem parecer, lá no fundo, com M.I.A., Streets, LCD Soundsystem. Belém vive a seu modo o zeitgeist da "eletrônica popular", que domina o mundo indie, graças à comunhão digital.
O rock de Belém vai bem também. A cena tem livros, tem baladas, tem um monte de bandas e prepara o BelRock, uma coletânea de 15 músicas de grupos indies locais. Norman Bates, Suzana Flag, Madame Satã, Cravo Carbono já são nomes que não causam estranheza na cena rock do Sudeste.
Tão longe, tão perto. "O bicho vai pegar", como diz "Techno da Casa das 7 Mulheres". Ou "a espaçonave já vai decolar", como está no ótimo "Techno da Espaçonave". Belém, enfim, balança.


O colunista Lúcio Ribeiro viajou a convite da TV e Rádio Cultura.
@ - lucio@uol.com.br


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