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ARTES PLÁSTICAS
Museu no Ibirapuera mostra 86 reproduções de desenhos e relatos de sobreviventes da bomba atômica
Horror de Hiroshima explode no MAC
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Da imagem inicial de "Little
Boy" -a bomba atômica que devastou Hiroshima vista como
uma pequena forma a cair por um
céu azulado matinal- a uma figura humana de costas, encolhida, frente a um mar de ruínas calcinadas, as 86 reproduções de desenhos de "Hiroshima - Testemunhos e Diálogos" evidenciam um
verdadeiro apocalipse.
Expostas no MAC (Museu de
Arte Contemporânea) Ibirapuera, atestam o horror inaugural da
era atômica, que vitimou ao menos 237 mil pessoas - incluindo
as vítimas de Nagasaki, nove dias
depois do fatídico 6 de agosto de
1945 de Hiroshima.
Apesar de reproduzidas em papel fotográfico e em grandes plotagens -os originais não foram
cedidos-, a compilação de imagens e relatos, aberta ao público
amanhã, incomoda. Talvez seja
esse o efeito que a curadora Maria
Luiza Tucci Carneiro, 55, pretenda. "O desastre atômico ainda hoje é tabu, tanto no Japão como nos
EUA. A memória de tal devastação é essencial", diz ela, diretora-executiva do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da USP
(Universidade de São Paulo). A
diretora do MAC, Elza Ajzenberg,
também assina a curadoria.
Os desenhos são do acervo do
Museu Memorial da Paz de
Hiroshima, que os obteve a partir
de uma campanha via rádio em
1974, quando foi pedido que sobreviventes do desastre elaborassem as obras e as enviassem à
emissora NHK.
A mostra foi montada quase na
ordem cronológica dos acontecimentos. As imagens iniciais mostram aviões e a trajetória do artefato, com espectadores ainda sem
saber o que viria. A partir da explosão, as cores predominantes
mudam: o vermelho do fogo produzido e a chuva negra dos destroços invadem os desenhos.
O azul das afluentes do rio Ota e
das cisternas saltam em uma série, mas são minimizadas pelas
numerosas figuras humanas desfiguradas, inertes, com olhares
atônitos ou tentando sobreviver
em meio a colunas, vigas e estruturas destruídas. Há flashes mais
esperançosos, como em "Soldado
Falando com Crianças", de Torazuchi Matsunaga, onde uma dupla de garotos saúda um soldado,
mas o tom trágico é o mais presente na exposição.
É o que narra "Um Homem e
seu Cavalo Morrem Juntos", de
Masahiko Nakata, um tríptico no
qual são mostrados mortos o dono de um cavalo junto ao seu animal, perto de uma ponte, em três
momentos, cada vez mais próximos do fim. E o desconforto dos
moradores, portando máscaras,
perto das valas comuns onde pilhas de cadáveres foram queimadas. Ou dos cidadãos tendo de
identificar familiares e amigos e
encontrarem mortos a perder de
vista, cada um apenas com sua
etiqueta portando um número.
De acordo com Carneiro, o fato
de os desenhos só serem produzidos a partir da década de 70 mostra o quanto o assunto ainda perturba a sociedade japonesa.
"Ocorreu uma minimização da
catástrofe. Feitos quase 30 anos
depois do fato, são outro tipo de
memória. Imagino o que vai
acontecer quando os sobreviventes restantes morrerem. Daí a importância do registro."
Diálogos
Os desenhos-testemunhos dialogam com 14 obras pertencentes
ao acervo do MAC, que evocam
temas como a dor. Entre elas,
"Impresso sobre Rocha" (1973),
instalação do japonês Chihiro
Shimotani, "Discussão", do britânico Austin Wright, além de duas
esculturas da nipo-brasileira Kimi
Nii.
Hiroshima - Testemunhos e Diálogos
Quando: Ter. a dom., das 10h às 19h. De
amanhã a 9/10
Onde: MAC Ibirapuera (pavilhão Ciccillo
Matarazzo, 3º piso, parque Ibirapuera,
portão 3; tel. 0/xx/11/5573-9932
Quanto: entrada franca
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