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CRÍTICA
Leo Maia não nega influência de Tim
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não deve ser fácil ser filho de
um ícone. Especialmente se
você pretende fazer de sua vida
exatamente o mesmo pelo que
seu pai é conhecido. No universo
musical brasileiro, não são poucos os que passam por isso. Elis
Regina, Baden Powell, João Gilberto, Tom Jobim, Wilson Simonal, Xororó, todos têm filhos que
se dedicam hoje, em maior ou
menor nível de sucesso e realização, à mesma arte de seu pai ou
mãe famosos. Leo Maia, filho
-não biológico- de Tim Maia,
é o mais novo nome a vir juntar-se à lista, com seu disco de estréia,
"Cavalo de Jorge".
Espertamente e sem medo, Leo
Maia encontrou o seu caminho ao
mesmo tempo aceitando e negando a influência do pai. Conversando com ele, não faltam frases
como "tudo o que eu sei de música vem do meu pai" e "ele me ensinou o segredo da levada dos
Maia"; mas também não perde
tempo em reforçar que "compartilho da saudade dele, mas tento
deixar claro para todo mundo que
me ouve que o que eu quero é fazer meu trabalho".
E, para conseguir o que queria,
o músico, compositor e cantor teve de passar por longa via-crúcis.
Gravadoras demonstravam interesse em gravá-lo, mas pediam
que incluísse em seu repertório
canções de Tim Maia. Disco totalmente autoral? Não vai ter tanto
retorno, diziam. Depois de alguns
anos da tradicional rota compor-gravar demos-fazer shows-tocar
com os amigos, ele chegou à gravadora Indie Records, que encampou o projeto.
Ele explica: "Apresentar idéias é
o trabalho do artista. O que eu
mais queria era isso, um disco autoral. Artista não pode ter medo,
isso é algo que aprendi com meu
pai. O mais importante para mim
é honrar o nome da família. E olha
que eu tive muitas oportunidades
para isso, mas nunca fiz".
Afinal, das 13 músicas do álbum
de estréia, 11 são composições dele. As outras duas, de músicos de
sua banda (que, curiosamente,
não é creditada no encarte). Seu
som, ele define como "música popular brasileira de baile". Na prática, é um neo-pop rock de festa,
com balanço, sonoridade retrô e
influências de samba, reggae e baladas soul. Boas guitarras e órgãos, vocal com influência de
black music, letras que aceitam
tanto sua cafonice que acabam
por estar acima dela.
O processo para encontrar a
música que mais o deixava à vontade foi longo, mas prazeroso. Ele
conta: "Estou buscando meu caminho há muito tempo, é algo
que demora mesmo. Eu herdei do
meu pai um violão, uma pilha de
songbooks e todos os vinis dele.
Em casa, a gente sempre ouviu de
tudo, de Villa-Lobos a Noel Rosa.
Eu acredito na universalidade dos
sons. O legal é que a gente descobre e redescobre coisas, as referências não terminam".
E, com toda a liberdade musical
assimilada, ele acaba por sair-se
bem. Bebe na fonte familiar, mas
não exagera. É natural que o seu
som não chegue perto de ser tão
bom ou importante como o auge
da arte de seu pai, mas tem suas
qualidades. Impossível não compará-lo, mas é também injusto fazê-lo. Convenhamos, não é demérito não ser tão bom quanto Tim
Maia. Ninguém é.
Cavalo de Jorge
Artista: Leo Maia
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 28, em média
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