São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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CRÍTICA

Leo Maia não nega influência de Tim

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não deve ser fácil ser filho de um ícone. Especialmente se você pretende fazer de sua vida exatamente o mesmo pelo que seu pai é conhecido. No universo musical brasileiro, não são poucos os que passam por isso. Elis Regina, Baden Powell, João Gilberto, Tom Jobim, Wilson Simonal, Xororó, todos têm filhos que se dedicam hoje, em maior ou menor nível de sucesso e realização, à mesma arte de seu pai ou mãe famosos. Leo Maia, filho -não biológico- de Tim Maia, é o mais novo nome a vir juntar-se à lista, com seu disco de estréia, "Cavalo de Jorge".
Espertamente e sem medo, Leo Maia encontrou o seu caminho ao mesmo tempo aceitando e negando a influência do pai. Conversando com ele, não faltam frases como "tudo o que eu sei de música vem do meu pai" e "ele me ensinou o segredo da levada dos Maia"; mas também não perde tempo em reforçar que "compartilho da saudade dele, mas tento deixar claro para todo mundo que me ouve que o que eu quero é fazer meu trabalho".
E, para conseguir o que queria, o músico, compositor e cantor teve de passar por longa via-crúcis. Gravadoras demonstravam interesse em gravá-lo, mas pediam que incluísse em seu repertório canções de Tim Maia. Disco totalmente autoral? Não vai ter tanto retorno, diziam. Depois de alguns anos da tradicional rota compor-gravar demos-fazer shows-tocar com os amigos, ele chegou à gravadora Indie Records, que encampou o projeto.
Ele explica: "Apresentar idéias é o trabalho do artista. O que eu mais queria era isso, um disco autoral. Artista não pode ter medo, isso é algo que aprendi com meu pai. O mais importante para mim é honrar o nome da família. E olha que eu tive muitas oportunidades para isso, mas nunca fiz".
Afinal, das 13 músicas do álbum de estréia, 11 são composições dele. As outras duas, de músicos de sua banda (que, curiosamente, não é creditada no encarte). Seu som, ele define como "música popular brasileira de baile". Na prática, é um neo-pop rock de festa, com balanço, sonoridade retrô e influências de samba, reggae e baladas soul. Boas guitarras e órgãos, vocal com influência de black music, letras que aceitam tanto sua cafonice que acabam por estar acima dela.
O processo para encontrar a música que mais o deixava à vontade foi longo, mas prazeroso. Ele conta: "Estou buscando meu caminho há muito tempo, é algo que demora mesmo. Eu herdei do meu pai um violão, uma pilha de songbooks e todos os vinis dele. Em casa, a gente sempre ouviu de tudo, de Villa-Lobos a Noel Rosa. Eu acredito na universalidade dos sons. O legal é que a gente descobre e redescobre coisas, as referências não terminam".
E, com toda a liberdade musical assimilada, ele acaba por sair-se bem. Bebe na fonte familiar, mas não exagera. É natural que o seu som não chegue perto de ser tão bom ou importante como o auge da arte de seu pai, mas tem suas qualidades. Impossível não compará-lo, mas é também injusto fazê-lo. Convenhamos, não é demérito não ser tão bom quanto Tim Maia. Ninguém é.


Cavalo de Jorge
   
Artista: Leo Maia
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 28, em média


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