São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Flip ou flop?

Festa Literária Internacional de Parati chega à sua quarta edição com menos estrelas e programação que parece aleatória

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
A editora britânica Liz Calder, criadora da Flip, durante a montagem da festa, em Parati


EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Gostaria de ver Khaled Hosseini, autor do best-seller "O Caçador de Pipas", na Festa Literária Internacional de Parati? Ou Nick Hornby ("Alta Fidelidade")? Ainda não é desta vez. Convidados para a 4ª edição da Flip pela própria Liz Calder, criadora do evento que vai de quarta a domingo, os escritores declinaram, por falta de espaço nas agendas. O argentino Ricardo Piglia ("Dinheiro Queimado") também cancelou a viagem. E a festa -que já teve astros do calibre de Salman Rushdie, Paul Auster e Eric Hobsbawm-volta com céu menos estrelado.
Para Calder, que diz não entender "exatamente por que" a festa foi adiada de julho para agosto devido à Copa ("os vôos são mais cheios e mais caros"), só há o que comemorar: a Flip 2006 não será um flop (fracasso, em inglês). Será a melhor de todas, pois tem mais variedade de países. "Ficou mais fácil convidar, pois os autores que já participaram falam bem, e a mídia comenta mais a festa."
A lista de convidados manteve alguns nomes lendários, como Lillian Ross, colaboradora da revista "New Yorker", o romancista e ensaísta Tariq Ali, editor da revista "New Left Review", e Toni Morrison, Nobel de Literatura em 1993.
Haverá duas mesas dedicadas ao jornalismo literário, ambas patrocinadas pela revista "Piauí", publicação sobre cultura e política, que será lançada no evento. Numa delas estará a própria Lillian Ross com o editor da "The Paris Review", Philip Gourevitch. Na segunda, que promete ser mais explosiva, Fernando Gabeira debaterá com o polemista de direita inglês Christopher Hitchens.
A lista de escritores-celebridades do momento é uma das atrações. Começa com o americano Jonathan Safran Foer, que já foi best-seller aos 25 anos, em 2002, com "Tudo se Ilumina". Da Escócia, vem a vencedora do Whitbread de 2005, Ali Smith. E a nova geração de autores latinos, que Calder diz tentar ampliar a cada ano, estará representada pelo mexicano David Toscana. "Esses escritores reforçam o caráter literário do evento", avalia Calder.
Assim como nas outras edições, o critério de seleção dos autores não é muito claro, misturando anônimos e celebridades de última hora. A organizadora diz que leva em conta o equilíbrio entre romancistas, poetas e escritores de não-ficção, não importando se são célebres ou neófitos. Também a divisão das mesas soa aleatória. Ali Smith, por exemplo, que debaterá com Safran Foer, não conhece pessoalmente o americano. "Disseram que devemos ter algo em comum." Hitchens, por sua vez, ignorava quem seria seu companheiro de mesa.

Política
No ano passado, o clima da festa foi afetado pelo atentado terrorista em Londres, ocorrido na época do evento. Agora, com o conflito no Líbano, Calder crê que a geopolítica estará novamente no debate. "Em 2005, ficamos muito apavorados, mas achamos bom porque estávamos perto de pessoas com intimidade com temas como guerra e terrorismo."
Os organizadores estimam que o público não deva aumentar em relação às edições passadas, ficando entre 10 mil e 12 mil pessoas (mais do que o número de visitantes no Carnaval). É o suficiente para deixar as ruas animadas e os restaurantes e bares abarrotados. Na abertura, Maria Bethânia, conterrânea do homenageado do ano, Jorge Amado (1912-2001), anima a festa com um show.
O custo total do evento é de R$ 3,8 milhões, divididos entre patrocinadores (Unibanco e Tim, principalmente) e apoios e parcerias. Cerca de 40% vêm de incentivos da Lei Rouanet.


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