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Exposição discute a fotografia na era digital
Androginia cibernética liga os 94 cliques que podem ser vistos no Itaú Cultural
Com auxílio do Photoshop, Helga Stein, criadora da
mostra, mudou sua imagem e montou série que ironiza
os sites de relacionamento
DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As aparências enganam e seduzem. Nos últimos três anos,
Helga Stein, 30, concentrou
seu trabalho na reflexão sobre o
estatuto da fotografia digital.
Com o programa de edição
Photoshop, jogou com a própria imagem, alterou seu rosto
e criou a série "Andros Hertz",
que comenta as poses difundidas pelas comunidades de relacionamento na internet, em
que todos tentam apresentar a
melhor versão de si. Um conjunto de 94 exemplares dessas
imagens estará em exibição no
projeto Portfólio, no Itaú Cultural, a partir deste sábado (para convidados) e de domingo
(para o público).
"Antes da internet, quando o
sistema BBS só permitia troca
de textos por meio do computador, me descrevia loira, de
olhos claros, alta e magra, e os
outros achavam que era gozação. Agora, vêem minha foto e
questionam se sou de verdade",
conta a artista paulistana radicada em Goiânia. A autora considera sua criação atual um desdobramento das identidades
ambíguas -reais e fictícias presentes na mídia.
No Itaú, o visitante verá ampliações em papel, dois painéis
com 36 poses cada um, e um
back-light (caixa com luz por
trás da foto). Lá mesmo, também poderá acessar em um terminal a página de Helga na comunidade Flickr (www.flickr.com/photos/helgastein). As
imagens apresentam versões
da artista, como a feminina, a
masculina, a glamourosa e a
louca. Ao lado, estão "composições" que fundem traços semelhantes aos dela com o semblante de amigos e conhecidos.
O título da série faz referência à androginia e à medida de
velocidade de processamento
na informática. "Com a manipulação digital, uma pessoa pode hoje adquirir outras identidades e a foto vai perdendo seu
estatuto de documento fiel à
realidade", afirma o curador do
Portfólio, Eder Chiodetto, colaborador da Folha. Ele lembra
ainda que o desejo de alterar a
fotografia é antigo: nasceu pouco depois do advento da técnica, quando o retoque do negativo foi inventado em 1855.
Um conto levemente surrealista e kafkaniano, do escritor e
psicanalista Tiago Noaves,
acompanha as obras de Helga.
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