CD solo de Iara Rennó, do grupo DonaZica, faz "ópera moderna" sobre a obra de Mário de Andrade, em show no Sesc Vila Mariana

DA REPORTAGEM LOCAL

"Macunaíma Ópera Tupi" (ou seu anagrama "Macunaó.peraí.matupí") foi como Iara Rennó batizou sua versão musical para "Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter", de Mário de Andrade (1893-1945). Concluído em março, com apoio da Petrobras, o álbum ganha agora tiragem comercial e, sobre o palco do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, vira apenas "MacunaÓpera".
O nome serve para ressaltar o tratamento que a cantora pretende dar ao trabalho no show.
É como uma "ópera moderna, e não tradicional", que ela apresenta as 14 faixas do disco solo, composições próprias sobre trechos da obra do modernista.
"Tem cenário, jogo de luz, projeção, dança, mas quero usar tudo aos poucos, para não ficar uma coisa caricata, meio chacrete", argumenta Rennó, filha da cantora Alzira Espíndola com o letrista e jornalista Carlos Rennó, e uma das vocalistas do grupo DonaZica. A dança, por exemplo, sob comando do coreógrafo Irineu Nogueira, aparece só em duas músicas, ligadas ao candomblé.
""Bamba Querê" é uma canção de oferenda, e "Dói" é a gira de Exu. A coisa da dança é intrínseca a elas, e os bailarinos vão brincar com essa referência."
Outros momentos serão embalados por projeções com desenhos de Tulipa Ruiz. Figurino, cenografia e luz, a cargo de Fernanda Carvalho, seguem a arte gráfica do CD, "aquela coisa da mata que sai do cabelo".
"Macunaíma Ópera Tupi", projeto de graduação de Rennó que virou disco, busca na "musicalidade latente" do livro de Mário de Andrade um encontro de linguagens -no CD, as faixas vão do ragga à ciranda, com produção de oito artistas e participações de 60 músicos, incluindo Tom Zé, Arrigo Barnabé e Siba. (RAQUEL COZER)