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PARA VER A MENINA
Artista afirma que não se considera ainda uma cantora e pretende investir no lado compositora
Tímida, Teresa canta de olhos fechados
DO ENVIADO AO RIO
Embora acumulando experiência como intérprete constante da
noite carioca, Teresa Cristina afirma que ainda engatinha no ofício
de cantar. "Sou tímida, não tenho
muita presença de palco. Não vou
poder ficar chateada se me criticarem por isso", previne-se.
No palco, desenvolveu uma
proteção de que, ela sabe, precisa
se livrar: "As pessoas reclamam
que canto de olho fechado. Vejo
aquele monte de gente e fecho os
olhos porque na interpretação eu
me garanto. Sei que não pode ser
assim, no palco as pessoas querem o pacote completo".
Mesmo como intérprete, exibe
tendência à autocrítica. "Não me
considero assim uma cantora.
Não tenho formação musical, minha carreira é muito curta. Quero
compor mais, é o que mais gosto
de fazer", explica.
É que, diferente da maioria das
cantoras da tradição do samba, Tereza almeja carreira de compositora,
desde que colocou letra num ponto de umbanda que iria cantar
com o grupo Acorda Bamba.
Segundo a estratégia da Deck
Disc, o disco dedicado a Paulinho
da Viola introduzirá Teresa ao
público, para que então ela faça
sua estréia também como compositora, num segundo disco.
Paulinho da Viola
A idéia de estrear enfrentando o
samba histórico de Paulinho da
Viola veio do dono da gravadora,
João Augusto, egresso há pouco
do grande mercado musical.
"Ele me procurou para conversar e logo disse que tinha o sonho
de um projeto com Paulinho, que
primeiro Gal Costa ia fazer e foi
adiado, depois Leila Pinheiro
também adiou. Haviam me aconselhado a não aceitar qualquer
convite na hora, mas quando ouvi
aquilo abri um sorriso enorme,
não consegui seguir o conselho."
Paulinho era, sim, outra de suas
principais motivações para cantar
e compor, diz. "Ele para mim significa quase tudo. É um dos autores que a gente mais canta na noite, e é importante não só como
músico, mas como pensador. Às
vezes parece nem ter noção exata
do tamanho de sua importância."
O projeto a colocou em contato
com Paulinho em si, é claro. Teresa conta do contato com o artista:
"O primeiro encontro foi traumático. Fui apresentada e comecei a chorar compulsivamente,
horrível, horrível. É difícil, porque
sempre há muita gente ao redor
dele, não se pode conversar a sós.
Mas depois o encontrei de novo,
me acalmei. Hoje, graças a Deus,
ele ao menos já me conhece."
Não é só isso. Há a previsão, ainda não concretizada, de que Paulinho venha dividir com ela os vocais de uma faixa -mas não dele
próprio, e sim uma da Teresa
compositora. Elton Medeiros,
parceiro histórico de Paulinho,
também deve comparecer ao estúdio, cantando com Teresa "Tudo Se Transformou" (70).
No repertório, Teresa e João
Augusto tiveram de encontrar solução intermediária -o chefe
não queria desprezar os standards, a estreante pendia aos "lados B" da obra do homenageado.
Escapou de "Sinal Fechado"
(69), mas não de "Foi um Rio Que
Passou em Minha Vida" (70),
"Pecado Capital" (76), "No Pagode do Vavá" (72), "Coração Leviano" (77)... E conseguiu lá seus lados B, como o esquecido "Samba
do Amor" (68), recolhido do primeiro álbum solo de Paulinho.
"Quando ouvi o "Samba do
Amor" pela primeira vez, achei
que era a coisa mais linda do
mundo. Estou muito feliz com essa gravação, com participação do
Conjunto Época de Ouro [do pai
de Paulinho, César Faria]", vibra.
Embora influenciada pela madrinha informal Cristina Buarque
e amiga de Marisa Monte, Teresa
Cristina não trouxe outras cantoras para participar de sua estréia.
A hora agora é dela e do samba no
feminino, a sós com Paulinho da
Viola.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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