São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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PARA VER A MENINA

Artista afirma que não se considera ainda uma cantora e pretende investir no lado compositora

Tímida, Teresa canta de olhos fechados

DO ENVIADO AO RIO

Embora acumulando experiência como intérprete constante da noite carioca, Teresa Cristina afirma que ainda engatinha no ofício de cantar. "Sou tímida, não tenho muita presença de palco. Não vou poder ficar chateada se me criticarem por isso", previne-se.
No palco, desenvolveu uma proteção de que, ela sabe, precisa se livrar: "As pessoas reclamam que canto de olho fechado. Vejo aquele monte de gente e fecho os olhos porque na interpretação eu me garanto. Sei que não pode ser assim, no palco as pessoas querem o pacote completo".
Mesmo como intérprete, exibe tendência à autocrítica. "Não me considero assim uma cantora. Não tenho formação musical, minha carreira é muito curta. Quero compor mais, é o que mais gosto de fazer", explica.
É que, diferente da maioria das cantoras da tradição do samba, Tereza almeja carreira de compositora, desde que colocou letra num ponto de umbanda que iria cantar com o grupo Acorda Bamba.
Segundo a estratégia da Deck Disc, o disco dedicado a Paulinho da Viola introduzirá Teresa ao público, para que então ela faça sua estréia também como compositora, num segundo disco.

Paulinho da Viola
A idéia de estrear enfrentando o samba histórico de Paulinho da Viola veio do dono da gravadora, João Augusto, egresso há pouco do grande mercado musical.
"Ele me procurou para conversar e logo disse que tinha o sonho de um projeto com Paulinho, que primeiro Gal Costa ia fazer e foi adiado, depois Leila Pinheiro também adiou. Haviam me aconselhado a não aceitar qualquer convite na hora, mas quando ouvi aquilo abri um sorriso enorme, não consegui seguir o conselho."
Paulinho era, sim, outra de suas principais motivações para cantar e compor, diz. "Ele para mim significa quase tudo. É um dos autores que a gente mais canta na noite, e é importante não só como músico, mas como pensador. Às vezes parece nem ter noção exata do tamanho de sua importância."
O projeto a colocou em contato com Paulinho em si, é claro. Teresa conta do contato com o artista:
"O primeiro encontro foi traumático. Fui apresentada e comecei a chorar compulsivamente, horrível, horrível. É difícil, porque sempre há muita gente ao redor dele, não se pode conversar a sós. Mas depois o encontrei de novo, me acalmei. Hoje, graças a Deus, ele ao menos já me conhece."
Não é só isso. Há a previsão, ainda não concretizada, de que Paulinho venha dividir com ela os vocais de uma faixa -mas não dele próprio, e sim uma da Teresa compositora. Elton Medeiros, parceiro histórico de Paulinho, também deve comparecer ao estúdio, cantando com Teresa "Tudo Se Transformou" (70).
No repertório, Teresa e João Augusto tiveram de encontrar solução intermediária -o chefe não queria desprezar os standards, a estreante pendia aos "lados B" da obra do homenageado.
Escapou de "Sinal Fechado" (69), mas não de "Foi um Rio Que Passou em Minha Vida" (70), "Pecado Capital" (76), "No Pagode do Vavá" (72), "Coração Leviano" (77)... E conseguiu lá seus lados B, como o esquecido "Samba do Amor" (68), recolhido do primeiro álbum solo de Paulinho.
"Quando ouvi o "Samba do Amor" pela primeira vez, achei que era a coisa mais linda do mundo. Estou muito feliz com essa gravação, com participação do Conjunto Época de Ouro [do pai de Paulinho, César Faria]", vibra.
Embora influenciada pela madrinha informal Cristina Buarque e amiga de Marisa Monte, Teresa Cristina não trouxe outras cantoras para participar de sua estréia. A hora agora é dela e do samba no feminino, a sós com Paulinho da Viola. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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