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GASTRONOMIA
BIBLIOTECA
De dicionários a livros de receitas, há boas opções em português
Sugestões ajudam a construir a prateleira do gourmet
LUIZ HENRIQUE HORTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Você adora comer bem,
gosta de se manter informado sobre o assunto, acompanhou
a explosão gastronômica dos últimos anos e sabe quando é a temporada de trufas brancas e o que é
o queijo da Serra da Estrela.
Mas sempre se depara com um
impasse, quais as características
de uma vitela, por exemplo, ou
qual a melhor maneira de comer
vieiras. Começa a comprar livros
e logo aparece algo assim: "salteie
os cogumelos". Salteie?! Tem que
comprar outro livro para explicar
estes termos do primeiro. Então
acha que está na hora de formar
uma pequena biblioteca, uma estante na cozinha, para consulta e
educação.
Vai às livrarias e começa o tormento. São realmente muitas centenas de livros em oferta, no gênero "A Fantástica Cozinha do Nepal" ou "Os Segredos da Bisavó"...
E isso em todas as línguas vivas e
mortas... Há clássicos, livros que
sempre se relerá (ou que não se lerá nunca, mas que é preciso ter).
Mas há muita coisa passageira, livros sobre chefes que são famosos
por 15 receitas, e que desaparecem em seguida. Os enormes e
coloridos que envelhecem muito
rapidamente e alguns antigos que
parecem escritos ontem. Como
optar, que critérios?
Aqui uma sugestão de escolha,
nada que esgote o tema nem destrua o orçamento, ressaltando
que os livros estão todos disponíveis e em português.
História e técnicas
Comecemos pelas obras de referência. "Ingredientes", tradução
portuguesa da Dorling Kindersley, com fotos perfeitas da maioria dos produtos, é um guia visual
certeiro (R$ 65). Dicionários são
indispensáveis, mas o único que
não está esgotado é o de Márcia
Algranti ("Pequeno Dicionário da
Gula", Record, R$ 42). E o "Berinjela se Escreve com J", de Josimar
Melo (DBA, R$ 10), útil para evitarmos todas as variações erradas
nos nomes dos pratos.
Um pouco de história pode ser
obtida na "História da Alimentação", organizada por Jean-Louis
Flandrin e Massimo Montanarini
(Estação Liberdade, R$ 65), mas é
muito minucioso, tem fenícios e
cartagineses demais e aborrece
um pouco. O melhor é o de Margaret Visser ("O Ritual do Jantar",
Campus, R$ 69), que é mais leve e
nem por isso menos rigoroso.
Daí podemos nos interessar pelo funcionamento dos nossos sentidos e escolher entre Brillat-Savarin ("A Fisiologia do Gosto",
Companhia das Letras, R$ 39,50)
ou Diane Ackerman ("Uma História Natural dos Sentidos", Bertrand, R$ 40,60) e, pelo lado científico, "Um Cientista na Cozinha"
(Ática, R$ 22), no qual Hervé This
explica por que leite derrama,
maionese desanda e reações químicas variadas entre panelas de
cobre e alimentos. Divertido.
O que nos leva a um livro de técnicas, e o melhor disponível é o do
Cordon Bleu ("Todas as Técnicas
Culinárias", Marco Zero, R$ 139).
Munidos assim, partimos para
as receitas, as do nosso cotidiano.
Testadíssimas, estão no "Grande
Livro de Receitas de Cláudia", organizado por Lucila Camargo
(Abril, R$ 49).
Depois, as sofisticadas, com alguns chefes e cozinhas favoritos.
O melhor da cozinha italiana é
Marcella Hazan, tanto em "Fundamentos da Cozinha Italiana
Clássica" (Martins Fontes, R$ 53)
quanto em "La Cucina" (Companhia das Letras, R$ 55); o último,
embelezado pelos desenhos de
Paulo Pasta. A francesa de bistrô
aparece em "Cozinha Regional
Francesa", de Elizabeth David
(Companhia das Letras, R$
54,50), enquanto se espera uma
reedição de Patricia Wells.
A alta gastronomia estranhamente está ausente em traduções
-tudo esgotado, ou nunca publicado no Brasil, como Bocuse, Ducasse, Adriá, Robouchon etc.
Mas há alta gastronomia feita
aqui, nos livros sobre Laurent ("O
Sabor das Estações", Arts de la
Table, R$ 89) e Bassoleil ("Uma
Cozinha sem Chef", DBA, R$ 72).
Faltam só livros das grandes
cronistas de gastronomia. De
Mary Frances Kennedy Fisher, a
Companhia das Letras publicou
apenas dois, "Como Cozinhar um
Lobo" (R$ 33,50) e "Um Alfabeto
para Gourmets", que está esgotado. Outros mereceriam edições,
como o comovente "Last House",
em que reúne seus últimos textos
pouco antes de morrer. E, de Nina
Horta, "Não É Sopa" (Companhia
das Letras, R$ 40) já é um clássico
contemporâneo brasileiro.
E um pouco de filosofia, que
vem de Epicuro, em "Carta sobre
a Felicidade (a Meneceu)", editado pela Unesp a módicos R$ 5 e
que resume o sentido de toda essa
nossa dedicação à cozinha, procurar uma felicidade simples em
meio ao caos.
Onde encontrar: Livraria Cultura - shopping Villa-Lobos (av. Nações Unidas, 4.777, São Paulo, tel. 0/xx/11/3024-3599)
Fnac (av. Pedroso de Moraes, 858, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3097-0022)
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