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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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O site bookcrossing.com incentiva o abandono de livros em lugares públicos

Histórias ambulantes

Fotos Chris von Ameln/Folha Imagem
 

 

Sequência mostra pessoa encontrando livro deixado pela reportagem da Folha no metrô de São Paulo


ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova brincadeira está fazendo do tradicional livro impresso, sempre ameaçado pela tecnologia, um objeto de desejo dos internautas.
Chamada de "bookcrossing" ("cruzamento de livros"), a atividade está sendo promovida por um site norte-americano e consiste em incentivar pessoas a abandonar livros em locais públicos para que outras pessoas os encontrem. A proposta é que, depois de terem sido lidos, eles voltem a ser deixados para que outras pessoas dêem continuidade ao jogo.
Criado em quatro semanas de 2001, o www.bookcrossing.com administra um banco de dados com os passos das obras abandonadas e os comentários dos leitores. Antes de libertar um volume, o "bookcrosser" deve registrá-lo no site gratuitamente e dar as coordenadas de onde o "esquecerá", devidamente etiquetado com os procedimentos que a pessoa que o encontrar deverá seguir.
O empreendimento, que se inspirou no site www.phototag.com -no qual são publicadas as imagens feitas por anônimos que encontram máquinas fotográficas deixadas-, enfrenta hoje o problema do próprio crescimento, com uma média de 300 membros novos por dia. "O site cresceu mais rápido do que esperávamos", diz seu criador e editor, o americano Ron Hornbaker, 37, de seu escritório na cidade de Kansas, nos EUA.
Até o fechamento desta edição estavam registrados 539.353 livros e 157.804 membros, distribuídos por 130 países diferentes, cerca de 68% dos quais nos EUA, 8% no Canadá e 7% na Itália. No Brasil, estavam cadastrados 214 membros, sendo 68 de São Paulo, 45 do Rio, 16 de Minas Gerais e os demais espalhados do Amazonas ao Rio Grande do Sul.
Hornbaker reconhece que o problema linguístico limita a ação de participantes que não conhecem o inglês, o que pode explicar em parte a pequena participação de brasileiros. "Nosso próximo desafio, depois do controle do número de membros, é a globalização linguística", diz o editor, que confessa, no entanto, não acompanhar a versão em espanhol de seu site, cujo link está escondido entre os ícones de lojas de livros virtuais, que sustentam o empreendimento por meio de comissões. Para ele, "o mais importante é transformar o mundo em uma comunidade que aproxime todos os leitores".
Os "bookcrossers" brasileiros vêm se adaptando para conseguir "divulgar o movimento", como afirma o participante de codinome Miguilim, de Indaiatuba (SP), que traduziu para o português as etiquetas que são fixadas nas capas dos livros. Spiegel, de Porto Alegre (RS), por sua vez, fez um glossário em português dos termos do site e é o líder na liberação de livros no Brasil: 34 em oito meses. "Eu gosto de pensar que tornei o dia de alguém mais interessante colocando não só um livro em seu caminho, mas a idéia de compartilhar algo, de fazer parte da viagem de um livro", diz.
Entre os títulos viajantes no país, o que mais acumula milhas é a versão em inglês de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Jorge Amado. Comprado em Nova York, a obra chegou ao Brasil com Oh-jeez-tower, de Iowa (EUA), que a ganhou de presente às vésperas de viajar para Goiânia (GO). Levado ao Rio, o "bookcrosser" libertou o volume na Confeitaria Colombo, onde um santista o encontrou: "O livro me chamou atenção por estar num lugar movimentado, num vaso de flores e com um papel na capa onde se lia "leve-me, livro grátis'", conta Viajantefelipe. "Dos 26 livros que já liberei, só três foram resgatados", diz Oh-jeez-tower.
Apenas entre 20% a 30% dos livros encontrados são registrados. "Já houve casos de livros que apareceram de novo um ano depois de libertados", diz Spiegel.
A Folha abandonou em São Paulo três livros. Todos desapareceram.

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