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"MONIQUE SEMPRE FELIZ"
Diretora flerta ingenuamente com as frustrações do homem
CRÍTICO DA FOLHA
"Vocês vão se aborrecer
sem mim", avisa, ao se
despedir para uma excursão de
férias, o filho adolescente de um
casal em crise. O vaticínio do garoto não demora a se cumprir: os
pais sucumbem ao mais absoluto
tédio conjugal tão logo voltam para casa.
Impassível, para lá de lacônico,
o ator Albert Dupontel, a nova coqueluche da comédia francesa,
encarna, com a inexpressividade
própria de Buster Keaton, o marido enfarado, Alex. Ele não abandona sua inércia nem mesmo
quando a mulher (Marianne Denicourt), um pouco para ver a sua
reação, arranja um amante e se
manda de casa.
"O imobilismo é a resposta do
pós-machismo", sentencia uma
das personagens femininas de
"Monique Sempre Feliz", comédia ao estilo "guerra dos sexos".
Para o seu imobilismo, Alex encontra o que parece ser uma solução ideal, uma parceira tão catatônica quanto ele: Monique, uma
boneca moldada em silicone.
Além de dotes físicos invejáveis,
Monique possui aquela que, para
os personagens masculinos do filme, parece ser a maior das virtudes: o mutismo.
Incrível que essa comédia tenha
sido realizada por uma mulher,
Valérie Guignabodet, roteirista de
TV que faz sua estréia na direção.
Sua comédia não reflete tanto o
desespero entediado dos casais
franceses, como gostaria a diretora, quanto o dos comediantes.
"Monique Sempre Feliz" é mais
uma comédia francesa que busca,
com a maior ingenuidade e falta
de jeito, explorar temas picantes
em tom apelativo.
A felicidade que Alex encontra
com Monique abala a confiança
de todos os casais à sua volta. Nenhuma mulher parece preparada
para competir com Monique, a
perfeita mulher-objeto.
Bonecas moldadas em silicone
não eram propriamente um sucesso de vendas na França quando Valérie Guignabodet resolveu
escrever um roteiro inspirado nelas, mas não é improvável que essa comédia de 2001 tenha dado a
sua contribuição para o aumento
das vendas.
Guignabodet mais flerta do que
ironiza as frustrações do homem
moderno diante da emancipação
feminina. O filme da diretora
francesa explora o saudosismo
masculino da mulher-objeto, começando por evocar, sem a devida ironia, todas as vantagens que
os homens podem tirar de uma
relação assim.
As espectadoras femininas talvez nem se importassem tanto, levado em consideração o ridículo
da situação em que se encontra o
protagonista masculino, se não
fosse a música-tema do filme repetir a todo momento, como num
jingle, o bordão: "As garotas são
feitas para fazer amor".
(TIAGO MATA MACHADO)
Monique Sempre Feliz
Monique
Produção: França, 2001
Direção: Valérie Guignabodet
Com: Albert Dupontel, Marianne
Denicourt, Sophie Mounicot, Marina
Tomé e Philippe Uchan
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex e Cine Morumbi
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