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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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"MONIQUE SEMPRE FELIZ"

Diretora flerta ingenuamente com as frustrações do homem

CRÍTICO DA FOLHA

"Vocês vão se aborrecer sem mim", avisa, ao se despedir para uma excursão de férias, o filho adolescente de um casal em crise. O vaticínio do garoto não demora a se cumprir: os pais sucumbem ao mais absoluto tédio conjugal tão logo voltam para casa.
Impassível, para lá de lacônico, o ator Albert Dupontel, a nova coqueluche da comédia francesa, encarna, com a inexpressividade própria de Buster Keaton, o marido enfarado, Alex. Ele não abandona sua inércia nem mesmo quando a mulher (Marianne Denicourt), um pouco para ver a sua reação, arranja um amante e se manda de casa.
"O imobilismo é a resposta do pós-machismo", sentencia uma das personagens femininas de "Monique Sempre Feliz", comédia ao estilo "guerra dos sexos". Para o seu imobilismo, Alex encontra o que parece ser uma solução ideal, uma parceira tão catatônica quanto ele: Monique, uma boneca moldada em silicone. Além de dotes físicos invejáveis, Monique possui aquela que, para os personagens masculinos do filme, parece ser a maior das virtudes: o mutismo.
Incrível que essa comédia tenha sido realizada por uma mulher, Valérie Guignabodet, roteirista de TV que faz sua estréia na direção. Sua comédia não reflete tanto o desespero entediado dos casais franceses, como gostaria a diretora, quanto o dos comediantes. "Monique Sempre Feliz" é mais uma comédia francesa que busca, com a maior ingenuidade e falta de jeito, explorar temas picantes em tom apelativo.
A felicidade que Alex encontra com Monique abala a confiança de todos os casais à sua volta. Nenhuma mulher parece preparada para competir com Monique, a perfeita mulher-objeto.
Bonecas moldadas em silicone não eram propriamente um sucesso de vendas na França quando Valérie Guignabodet resolveu escrever um roteiro inspirado nelas, mas não é improvável que essa comédia de 2001 tenha dado a sua contribuição para o aumento das vendas.
Guignabodet mais flerta do que ironiza as frustrações do homem moderno diante da emancipação feminina. O filme da diretora francesa explora o saudosismo masculino da mulher-objeto, começando por evocar, sem a devida ironia, todas as vantagens que os homens podem tirar de uma relação assim.
As espectadoras femininas talvez nem se importassem tanto, levado em consideração o ridículo da situação em que se encontra o protagonista masculino, se não fosse a música-tema do filme repetir a todo momento, como num jingle, o bordão: "As garotas são feitas para fazer amor".
(TIAGO MATA MACHADO)


Monique Sempre Feliz
Monique
 
Produção: França, 2001
Direção: Valérie Guignabodet
Com: Albert Dupontel, Marianne Denicourt, Sophie Mounicot, Marina Tomé e Philippe Uchan
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cine Morumbi



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