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CINEMA
Com jeito de videogame, filme
sobre guerra ignora lado iraquiano
"The Hurt Locker" é recebido com aplausos tímidos no Festival de Veneza
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Apesar de bem realizado tecnicamente e de contar com a
participação especial de luxo de
dois ou três astros, "The Hurt
Locker" foi considerado "mais
do mesmo" pela imprensa especializada em Veneza.
Um ano depois de Brian de
Palma levar o Leão de Prata do
festival com seu "Redacted", a
norte-americana Kathryn Bigelow apresenta outro filme
baseado na Guerra do Iraque.
Desta vez, o cotidiano retratado é o de um pelotão que funciona como esquadrão anti-bombas nas ruas de Bagdá. Bigelow lança uma estranha premissa: a guerra seria um vício
para algumas pessoas.
Desconforto
Ou seja, depois de sentirem a
adrenalina da possibilidade de
morte uma vez, muitos soldados não querem mais ter uma
vida normal e passam a buscar
emoções extremas.
Aplausos tímidos ao final da
sessão e certo desconforto na
entrevista coletiva devem ser
creditados a outro aspecto do
filme: "The Hurt Locker" ignora solenemente o lado iraquiano na guerra e focaliza o dia-a-dia de soldados como se fosse
um divertido videogame.
A primeira pergunta na entrevista foi se a diretora,
Kathryn Bigelow, não havia retratado de forma muito "doce"
a vida desses soldados.
"Não acho que o personagem
que aparece na primeira cena
concordaria com você", respondeu ela, se referindo a um
soldado morto em uma explosão. Os atores Guy Pearce,
Ralph Fiennes e David Morse
fazem pequenas e ótimas participações no filme, que foi rodado na Jordânia.
Com uma câmera
Muito mais bem recebido pela imprensa no Festival de Veneza foi "Rachel Getting Married", de Jonathan Demme,
que foi exibido anteontem.
Desta vez, o oscarizado diretor de "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e "Philadelphia"
(1993) mergulha em um drama
familiar com apenas uma câmera no ombro.
Filmado no estilo documental, "Rachel..." traz uma Anne
Hathaway ("O Diabo Veste Prada") em grande momento. Ela
interpreta Kym, uma garota
que sai de uma clínica de reabilitação de drogas direto para os
preparativos do casamento de
sua irmã Rachel. A câmera simplesmente segue os convidados
do casamento, por vezes trêmula ou sem priorizar o foco.
"Sim, desta vez fui muito influenciado pelos documentários", afirmou anteontem Jonathan Demme, em Veneza.
"É curioso como, quando fazemos filmes, tentamos fazê-los parecer reais, e quando dirigimos documentários, buscamos o drama nas histórias retratadas."
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