São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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CINEMA

Com jeito de videogame, filme sobre guerra ignora lado iraquiano

"The Hurt Locker" é recebido com aplausos tímidos no Festival de Veneza

IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Apesar de bem realizado tecnicamente e de contar com a participação especial de luxo de dois ou três astros, "The Hurt Locker" foi considerado "mais do mesmo" pela imprensa especializada em Veneza.
Um ano depois de Brian de Palma levar o Leão de Prata do festival com seu "Redacted", a norte-americana Kathryn Bigelow apresenta outro filme baseado na Guerra do Iraque.
Desta vez, o cotidiano retratado é o de um pelotão que funciona como esquadrão anti-bombas nas ruas de Bagdá. Bigelow lança uma estranha premissa: a guerra seria um vício para algumas pessoas.

Desconforto
Ou seja, depois de sentirem a adrenalina da possibilidade de morte uma vez, muitos soldados não querem mais ter uma vida normal e passam a buscar emoções extremas.
Aplausos tímidos ao final da sessão e certo desconforto na entrevista coletiva devem ser creditados a outro aspecto do filme: "The Hurt Locker" ignora solenemente o lado iraquiano na guerra e focaliza o dia-a-dia de soldados como se fosse um divertido videogame.
A primeira pergunta na entrevista foi se a diretora, Kathryn Bigelow, não havia retratado de forma muito "doce" a vida desses soldados.
"Não acho que o personagem que aparece na primeira cena concordaria com você", respondeu ela, se referindo a um soldado morto em uma explosão. Os atores Guy Pearce, Ralph Fiennes e David Morse fazem pequenas e ótimas participações no filme, que foi rodado na Jordânia.

Com uma câmera
Muito mais bem recebido pela imprensa no Festival de Veneza foi "Rachel Getting Married", de Jonathan Demme, que foi exibido anteontem.
Desta vez, o oscarizado diretor de "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e "Philadelphia" (1993) mergulha em um drama familiar com apenas uma câmera no ombro.
Filmado no estilo documental, "Rachel..." traz uma Anne Hathaway ("O Diabo Veste Prada") em grande momento. Ela interpreta Kym, uma garota que sai de uma clínica de reabilitação de drogas direto para os preparativos do casamento de sua irmã Rachel. A câmera simplesmente segue os convidados do casamento, por vezes trêmula ou sem priorizar o foco.
"Sim, desta vez fui muito influenciado pelos documentários", afirmou anteontem Jonathan Demme, em Veneza.
"É curioso como, quando fazemos filmes, tentamos fazê-los parecer reais, e quando dirigimos documentários, buscamos o drama nas histórias retratadas."


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