São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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Comentário

Dor-de-corno e vozeirão rascante embalaram multidões de românticos

RODRIGO FAOUR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A maior parte da população brasileira é formada de gente muito simples -e um de seus poucos prazeres é ligar o radinho para ouvir uma música de dor-de-corno básica, como que num alento às experiências sofridas de vida. E quem essa massa curte ouvir? Não é Dorival Caymmi nem João Gilberto. Foi Vicente Celestino, Orlando Dias, Anísio Silva, Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, José Augusto, sem nunca esquecer Waldick Soriano, símbolo do gênero brega, que perdemos ontem. Brega, sim senhor. E com grife. Waldick tinha aquele chapéu charmoso, óculos grandes, a voz rascante do corno transtornado. Afora a obra-prima "Tortura de Amor" (1962), suas canções são iguais umas às outras. E se não forem assim pela melodia, o são pelos arranjos na linha do "chacundum". O que vale é o clima de cabaré, os metais e sua voz marcante ninando a multidão de românticos incuráveis que sonham com uma noite de amor ou apenas minutinhos de chamego, dançando num botequinho de beira de estrada. Waldick é o lado B do Brasil, que, em verdade, é o lado A, pela imensa popularidade, ainda que dificilmente suas músicas cheguem às futuras gerações, pois haverá outros Waldicks para cumprir este papel com o vocabulário e o ritmo da moda que pegam essa turma de jeito pelo ponto fraco -o coração.

RODRIGO FAOUR é jornalista, produtor e pesquisador musical



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