|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comentário
Dor-de-corno e vozeirão rascante embalaram multidões de românticos
RODRIGO FAOUR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A
maior parte da população brasileira é formada de gente muito simples -e um de seus poucos prazeres é ligar o radinho para ouvir uma música de dor-de-corno básica, como que num alento às experiências sofridas de
vida. E quem essa massa curte
ouvir? Não é Dorival Caymmi
nem João Gilberto.
Foi Vicente Celestino, Orlando Dias, Anísio Silva, Agnaldo
Timóteo, Nelson Ned, José Augusto, sem nunca esquecer
Waldick Soriano, símbolo do
gênero brega, que perdemos
ontem. Brega, sim senhor. E
com grife. Waldick tinha aquele
chapéu charmoso, óculos grandes, a voz rascante do corno
transtornado. Afora a obra-prima "Tortura de Amor" (1962),
suas canções são iguais umas às
outras. E se não forem assim
pela melodia, o são pelos arranjos na linha do "chacundum". O
que vale é o clima de cabaré, os
metais e sua voz marcante ninando a multidão de românticos incuráveis que sonham
com uma noite de amor ou apenas minutinhos de chamego,
dançando num botequinho de
beira de estrada.
Waldick é o lado B do Brasil,
que, em verdade, é o lado A, pela imensa popularidade, ainda
que dificilmente suas músicas
cheguem às futuras gerações,
pois haverá outros Waldicks
para cumprir este papel com o
vocabulário e o ritmo da moda
que pegam essa turma de jeito
pelo ponto fraco -o coração.
RODRIGO FAOUR é jornalista, produtor e pesquisador musical
Texto Anterior: Waldick Soriano morre aos 75 Próximo Texto: Música: Tim Festival em São Paulo será no Ibirapuera Índice
|