São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO

Cineasta parece que acredita mesmo ser "rei do mundo"

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

A cantora baiana Ivete Sangalo, em turnê nos EUA para divulgar DVD, causou comoção no país ao defender mudança na política norte-americana de imigração.
Durante uma coletiva de imprensa, Ivete divulgou uma "carta aberta" ao presidente Obama, pedindo para discutir o assunto.
"Já escrevi para o Lula pedindo ajuda", disse. "Do Obama não tive resposta, mas espero encontrar com ele em breve." Ivete convocou também outro astro, Roberto Carlos, para manifestação a favor dos imigrantes.
O governador do Texas agradeceu e pediu a Ivete que gravasse seu próximo disco no Estado. Isso não aconteceu, claro. Ou melhor: aconteceu sim, no Brasil.
É só substituir "Ivete Sangalo" por "James Cameron", "imigração" por "exploração da Amazônia", "Roberto Carlos" por "Sigourney Weaver", "governador do Texas" por "governador do Amazonas" e trocar a ordem das palavras "Obama" e "Lula".
Se um famoso artista norte-americano faz isso, porque um famoso artista brasileiro não pode fazê-lo?
Ninguém quer julgar a legitimidade da preocupação de Cameron com a Amazônia. É louvável que qualquer cidadão do mundo tenha a mesma atitude.
Mas é preciso distinguir entretenimento de realidade. Enquanto milhares de ambientalistas passam anos pesquisando problemas para tentar chegar a soluções reais e efetivas, fica difícil levar a sério alguém que disse "ter lido muito" sobre o assunto, mesmo que seja o cineasta mais famoso do mundo.
Em 1998, ao ganhar o Oscar de melhor diretor por "Titanic", Cameron subiu ao palco, abriu os braços e, em rede mundial de TV, gritou: "Sou o rei do mundo!". Ele parece realmente acreditar nisso. E o pior: nós também.


Texto Anterior: Raio-X: James Cameron
Próximo Texto: Coleção explica como escolher um vinho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.