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"FOLHA EXPLICA JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA"
Trajetória do diretor teatral é apresentada em registro acessível
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Não é difícil escrever sobre
José Celso Martinez Corrêa.
A radicalidade de suas propostas
para o teatro provoca ou um endosso apaixonado ou um repúdio
raivoso, por isso fez e fará correr
muita tinta. Mais difícil é explicar
Zé Celso, ainda mais "resumindo,
em linguagem acessível", como é
a meta da série Folha Explica.
Coube a Aimar Labaki o desafio
de escrever o "Folha Explica José
Celso Martinez Corrêa". Curiosamente, o livro é frágil quando tenta explicar, lançando mão de alusões a uma série de teóricos importantes para o entendimento da trajetória do biografado e de seu
teatro Oficina, mas que, na tentativa de acessibilidade e resumo,
acaba não esclarecendo o leigo e
indispondo o especialista. Dessa
maneira, é confusa a conceituação do método Stanislavski, e
Jerzy Grotowski é apontado como
"a primeira alternativa consistente à tradição de Stanislavski", escamoteando-se, entre outros, Meyerhold.
A necessidade de concisão leva
assim a generalidades e erros conceituais e quando, logo no início,
José Celso é apontado como o
"primeiro grande encenador da
história do teatro brasileiro", a
afirmação categórica incomoda
não tanto pelo tom laudatório, já
que o endosso é saudavelmente
assumido, mas por canonizar um
criador que justamente prima por
colocar no centro do teatro a importância de estar vivo e ser mortal, reinventando a cada dia o teatro, destruindo-o se isso for preciso para reerguê-lo.
Mas Labaki não se limita a beijar o anel do protagonista de
"Ela". Seu livro se faz precioso justamente quando abre mão de explicar e passa a expor, com clara
cronologia, a trajetória de um encenador de suas próprias contradições, que são as contradições de
sua época.
Esse contexto histórico é apresentado de modo imparcial, superando o maniqueísmo quando recusa o rótulo de conservador ao
Teatro Brasileiro de Comédia (em
feliz concisão, o TBC é conceituado como o que "introduziu a modernidade em nosso profissionalismo -ou vice-versa") e não endossando a pretensão de "guerrilha teatral" do Arena e do Oficina,
que era, no fundo, sem que isso
diminua sua importância, a "classe média pregando para si mesma".
Em outra fórmula feliz, o político não supera o psicológico quando o Oficina passa da fase stanislavskiana para a brechtiana, mas
se "imbrica" a ele, em uma relação
de interdependência. Nesse ponto, são preciosas cartas na manga
o depoimento exclusivo do amigo
de infância Ignácio de Loyola
Brandão, revelando o menino Zé
Celso fascinado por um Deus que
é três em um, "como um doce da
Cica", e a apaixonada declaração
de amor de Zero Freitas por Noemi Marinho, que conheceu em
um "ritual" do Oficina.
A trajetória teatral de José Celso
é registrada então enquanto uma
aventura compartilhada, e é de lamentar assim a falta de espaço para que se pudesse detalhar melhor
o que foi "Cacilda!", por exemplo.
Mas, quando a atual luta de José
Celso é exposta em seus termos
crus -a especulação imobiliária
versus uma utopia cidadã-, Labaki deixa para o leitor, quando
fecha o livro, a convicção de que o
grande momento do teatro Oficina ainda está por vir.
Folha Explica José Celso
Martinez Corrêa
Autor: Aimar Labaki
Lançamento: Publifolha
Quanto: R$ 9,90 (96 págs.)
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