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MÔNICA BERGAMO
Chris von Ameln/Folha Imagem
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Barrada na noite anterior, a repórter volta ao restaurante O Leopolldo com Astrid Fontenelle, ambas de tênis; as duas entram |
O mundo trata melhor quem se veste "bem"
A velha máxima do comercial é verdadeira: o mundo
trata melhor quem se veste "bem" -ou é famoso.
Pelo menos, o mundinho dos endinheirados paulistanos, como comprovou a repórter Cleo Guimarães,
que visitou lojas e restaurantes em duas ocasiões. A
primeira, vestida de maneira simples: calça jeans, camiseta e tênis. A segunda, mais bem arrumada, com
roupas de grife ou acompanhada de uma celebridade.
Má notícia: foi ignorada ou maltratada pelos atendentes da Daslu e da Reinaldo Lourenço da primeira
vez e bem atendida depois. No restaurante O Leopolldo, foi barrada na visita inicial -o motivo seria o tênis. Na noite seguinte, voltou com a apresentadora de
TV Astrid Fontenelle, ambas de tênis; não só entraram
como foram bem recebidas (leia defesa dos estabelecimentos em texto à direita). Boa notícia: em quase uma
dezena de outras lojas, nomes como Cartier, Triton e
Tiffany's, seus trajes não foram levados em conta.
Na última terça, a repórter
vestiu sua calça jeans C&A, uma
camiseta com a estampa da personagem de HQ Mafalda e um
tênis All Star. Partiu para visitar
as lojas e restaurantes mais sofisticados de São Paulo, para ver
como seria tratada. O seu relato:
N'O LEOPOLLDO
Chego ao novo restaurante O
Leopolldo, em frente ao shopping Iguatemi, por volta das
22h, acompanhada. É um dos
mais caros da cidade, R$ 300
por refeição a dois. À porta, o
segurança -que havia acabado
de dar "boa noite" a uma cliente- fica com uma das mãos na
maçaneta e outra na chave.
"Querem falar com quem?"
Respondo que queremos mesa para dois. "Não sei se será
possível", diz. Entra no restaurante e nos deixa de fora. Logo
aparece na porta a hostess Jana.
Bota a cabeça para fora e pergunta: "Pois não?". Repito o pedido. Ela nos mede: "Olha, vocês não vão poder entrar". Por
quê? "Normas da casa. É proibido entrar de tênis", explica.
Na noite seguinte, volto ao
restaurante. O par de tênis continua em meus pés. Assim como
no de minha convidada, a apresentadora de TV Astrid Fontenelle. Nem bem descemos de
seu Pajero, Marcos, o mesmo
segurança que havia me barrado antes, nos abre a porta sorrindo e dizendo: "Boa noite".
Lá dentro, Jana não está, mas
Andreza nos recebe com sorrisos. Sentamo-nos no bar, a funcionária Teresa vem fazer as
honras da casa. "Que bom que
vocês estão aqui!", ela diz. Em
questão de minutos estamos
sentadas e sendo atendidas por
um batalhão de garçons.
Um dos proprietários, o decorador Jorge Elias, passa à mesa
para cumprimentar Astrid. Dá
uma risadinha para mim: "Prazer". Antes de irmos embora,
Teresa nos convida a conhecer a
outra parte do restaurante.
Mostra cada detalhe e diz: "Voltem sempre, venham mais!".
NA DASLU
Assim que chego à Daslu Mulher, uma das lojas mais sofisticadas do Brasil, na Vila Nova
Conceição, dou de cara com
duas copeiras. Fico por ali um
tempinho, esperando alguma
dasluzete, como são chamadas
as vendedoras. Nada.
Vou à seção de roupas importadas. Atrás de mim, ouço as
vendedoras oferecendo "uma
ajudinha" às outras clientes,
apresentando-se, dizendo "é só
me chamar...". Continuo sendo
ignorada. O café e a água oferecidos às portadoras de bolsas
Gucci e Fendi não são oferecidos para mim, sem bolsa.
Depois de uns 20 minutos, resolvo pedir ajuda de novo. Paro
numa arara de calças de sarja da
própria Daslu. Preço: R$ 248.
Pergunto a uma vendedora se
havia outras cores do mesmo
modelo. Ela responde que sim
-mas sem olhar para mim.
Pergunto seu nome. "Helena",
ela fala baixinho. Peço que me
traga uma calça. "OK", responde, sem nem perguntar o tamanho. Mais uns 20 minutos. Cobro Helena. "Estou superocupada atendendo outra pessoa,
não vou poder lhe dar atenção."
Passa uma morena com quem
eu já tinha esbarrado várias vezes na loja -e em nenhuma delas havia me oferecido ajuda.
Falo que gostaria de ver a calça.
Experimento, digo que ficou
apertada e agradeço. Pergunto
seu nome. "Ana Lu", responde,
já se virando para outra cliente:
"Oi, você quer uma ajudinha?".
Volto à Daslu no dia seguinte,
no mesmo horário, desta vez de
calça preta, um corpete também
preto, com botas, tudo de grifes
importadas. Entro. Assim que
paro para olhar uns mantôs,
uma vendedora se materializa à
minha frente, sorriso nos lábios:
"Oi, você quer uma ajudinha?".
É Suzana, que me mostra modelos Gucci, Prada, Ferragamo e
Miu Miu. "Este é maravilhoso,
não?", pergunta, oferecendo um
Dolce & Gabbana de R$ 7.000.
"Dolce é Dolce, né?"
Peço para ir ao toalete, ela me
mostra onde é, me dá uma chave e diz para eu trancar a porta,
"para ficar mais à vontade".
Pergunto até que horas trabalha. "Estou aqui até as três", ela
responde, já emendando: "Se
voltar, me procure; Suzana".
NA REINALDO
Um rapaz que me olha de cima a baixo fuma encostado em
um carro, em frente à loja de
Reinaldo Lourenço, na Bela
Cintra. Entro. Ele continua lá. A
loja está vazia. Fico 20 minutos
vendo roupas, tusso para ver se
alguma vendedora ouve. Não.
Uma loira sai do canto dos
provadores, olha e volta. Peço
ajuda a uma costureira, que vai
ao canto e fala algo. A loira e
uma amiga saem e vêm em minha direção. Peço ajuda. Elas se
entreolham e sussurram. Disputam quem não me atenderia.
"É sua vez", termina a amiga.
Cabe a Carol, a loira, a tarefa.
Coloco a mão em um dos vestidos expostos. Sem que eu pergunte, ela me avisa: "Aí tem as
roupas da promoção, com 70%
de desconto, se o pagamento for
à vista". O rapaz que fumava na
porta me observa encostado no
balcão. Ele também é vendedor.
Volto no dia seguinte com a
mesma roupa que fui à Daslu.
Como da outra vez, nenhum
cliente na loja. Nem bem entro,
e Ana Cristina, uma simpática
vendedora, aparece e pergunta
se quero ajuda. Digo que estou
só olhando e ela responde, solícita: "Nesta arara estão as peças
da coleção nova".
Reclamo do calor, ela se dirige
imediatamente ao canto onde
as duas vendedoras conversavam ontem e pede a um vendedor que aumente o ar. É o mesmo que fumava na rua no dia
anterior. Hoje sorri, simpático.
bergamo@folhasp.com.br
SÉRGIO DÁVILA (interino)
COM CLEO GUIMARÃES E ALVARO LEME
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