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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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CRÍTICA

Manoel Carlos consagra novela-crônica

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

A partir da próxima sexta, o Brasil vai mudar. As preocupações, as polêmicas, as conversas serão outras. É que saem as "Mulheres Apaixonadas", de Manoel Carlos, entra "Celebridade", de Gilberto Braga.
O imaginário coletivo será lançado das paixões femininas e patologias do amor para as brigas de poder.
As chamadas da nova novela já indicam que com Gilberto Braga estamos de volta ao melodrama como se deve. Há bem e mal, vilões -um casal, por sinal, lindo e jovem-, há conflito, há drama. Há riqueza e glamour de um lado, e subúrbio de outro. A mocinha, sabe-se já antes mesmo de começar a novela, vai pastar até chegar à felicidade.
A velha, por sua vez, consagrou de uma vez por todas aquilo que já se anunciava em "Laços de Família": a novela-crônica de Manoel Carlos. Diferentemente da maioria das novelas, que se assemelham em termos de estrutura ao romance (que, como a novela, tinha sua trama desvelada ao leitor de forma seriada no século 19), o estilo de Manoel Carlos é um formato ainda mais híbrido, que se aproxima de certa forma da crônica.

Ciclos
O autor comporta-se como um cronista que estivesse observando um grupo de pessoas movimentando-se em uma cidade, ou melhor, pedaços dessa cidade idealizados. Manoel Carlos inventa um grupo de pessoas, dá a elas alguns "temas" -a velhice, o ciúme doentio, a violência doméstica, o amor proibido- e daí passa a observar e registrar suas movimentações.
Não há propriamente ação nas histórias de Manoel Carlos -os capítulos se enchem de situações que se repetem ciclicamente, mas não se desenvolvem de fato. Os diálogos são declaratórios, circundando os temas ou fazendo referências canhestras ao mundo fora da novela.
Apesar do ritmo exasperantemente lerdo, os elevados índices de audiência obtidos tanto por "Mulheres Apaixonadas" quanto por "Laços de Família" sugerem que essa nova modalidade de novela, de poucos acontecimentos e muitos personagens, caiu no gosto do público.
É uma novela quase sem expectativas, ou melhor, de esperas amenas e quase nenhuma reviravolta na trama. Tanto é que o final não suscitou lá muita torcida -na verdade, o que há, de fato, para solucionar numa trama que não tem problemas? A narrativa nesse tipo de novela é de tal modo esgarçada que o final virá com um suspiro de alívio.
Como na crônica das paixões patológicas de Manoel Carlos não há exatamente maus, mas gente doente, perturbada, psicopata em diversos graus, o final não terá punidos ou recompensados, e sim curados ou incuráveis. O caso mais extremo, o espancador Marcos (Dan Stulbach), dizem os boatos, encontrará a morte, a negação mais veemente da cura.

biabramo.tv@uol.com.br


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