São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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ANÁLISE

Dualismos se alojaram na atriz

CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Janet Leigh talvez tenha de ser entendida da forma como se olhava para ela. Em "Psicose", protagoniza cena de voyeurismo das mais célebres. Norman, do buraco secreto, observa Janet, no banho. Ele, um ser que vive, em suma, com fantasmas, se delicia com aquela visão de gente.
Instantes mais tarde, um ser empalhado, trajando uma peruca cadavérica, vai punir o tesão, castigará a beleza, que não é exatamente uma beleza sublime, é a beleza bandida, da mulher cujo encanto está naquilo que guarda de ordinário, de comum até. A figura de Janet Leigh, a ladra loira, pode ser eternizada nesta cena, em que Hitchcock brinca com o ponto de vista e, assim, com o nosso próprio desejo.
E é o dualismo de "Psicose" que alojava Janet. A brutalidade e a contemplação; rispidez e tesão. E sua expressão ajudava: áspera, por vezes melancólica. Em certas horas, de um mistério insuportável. Perdida, sufocada, só que diabolicamente segura. Janet foi esse fetiche "banal" da fragilidade e dos desejos, esse objeto que Welles, operando em outra chave do olhar, também entendeu, em "A Marca da Maldade".
Hitchcock e Welles abusaram dos traços dela. Janet atuou para Anthony Mann também, em "O Preço de um Homem", estudo do Velho Oeste como campo cujas dimensões físicas e existenciais se encontram.


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