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ANÁLISE
Dualismos se alojaram na atriz
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Janet Leigh talvez tenha
de ser entendida da forma como se olhava para ela.
Em "Psicose", protagoniza
cena de voyeurismo das
mais célebres. Norman, do
buraco secreto, observa Janet, no banho. Ele, um ser
que vive, em suma, com fantasmas, se delicia com aquela visão de gente.
Instantes mais tarde, um
ser empalhado, trajando
uma peruca cadavérica, vai
punir o tesão, castigará a beleza, que não é exatamente
uma beleza sublime, é a beleza bandida, da mulher cujo
encanto está naquilo que
guarda de ordinário, de comum até. A figura de Janet
Leigh, a ladra loira, pode ser
eternizada nesta cena, em
que Hitchcock brinca com o
ponto de vista e, assim, com
o nosso próprio desejo.
E é o dualismo de "Psicose" que alojava Janet. A brutalidade e a contemplação;
rispidez e tesão. E sua expressão ajudava: áspera, por
vezes melancólica. Em certas
horas, de um mistério insuportável. Perdida, sufocada,
só que diabolicamente segura. Janet foi esse fetiche "banal" da fragilidade e dos desejos, esse objeto que Welles,
operando em outra chave do
olhar, também entendeu,
em "A Marca da Maldade".
Hitchcock e Welles abusaram dos traços dela. Janet
atuou para Anthony Mann
também, em "O Preço de
um Homem", estudo do Velho Oeste como campo cujas
dimensões físicas e existenciais se encontram.
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