São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Crítica

Em "Bourne", Estado suprime liberdade

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A liberdade já foi um conceito sagrado, mesmo para a publicidade. Depois da Guerra Fria é que as coisas mudaram. Na TV, pode-se ver um comercial exaltando a liberdade; alguns segundos depois descobrimos que a liberdade consiste em escolher uma operadora de telefone, ou de escolher certa marca de cerveja.
No passado, a liberdade tanto podia ser essa, liberal, que conhecemos hoje (que, parece, a que está em crise financeira), como a sonhada pela humanidade a partir do desenvolvimento da indústria, sonho segundo o qual as máquinas nos libertariam e trabalhariam por nós (é o ponto de René Clair em "A Nós a Liberdade", 1931).
A trilogia Bourne, que se fecha com "Ultimato Bourne" (TC Premium, 18h10; não recomendado para menores de 14 anos), recoloca, em parte, essa questão. Afinal, o agente Bourne é o sujeito que, para começar, renuncia não só à liberdade como à identidade em favor do seu país.
Mas o que é "o seu país"? Eis o que ninguém mais sabe direito. Bourne busca neste episódio identificar onde está o começo de toda sua desgraça. Claro, são pessoas que tomaram um aparelho estatal (o de espionagem) e ameaçam privar os outros da liberdade (ou da vida) caso se oponham a eles. É o momento em que o desejo de poder se mostra maior que tudo. Fritz Lang mostrou como isso funcionava, na Alemanha de 1932, em "O Testamento do Dr. Mabuse".


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