|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Em "Bourne", Estado suprime liberdade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A liberdade já foi um conceito sagrado, mesmo para a publicidade. Depois da Guerra
Fria é que as coisas mudaram.
Na TV, pode-se ver um comercial exaltando a liberdade; alguns segundos depois descobrimos que a liberdade consiste
em escolher uma operadora de
telefone, ou de escolher certa
marca de cerveja.
No passado, a liberdade tanto
podia ser essa, liberal, que conhecemos hoje (que, parece, a
que está em crise financeira),
como a sonhada pela humanidade a partir do desenvolvimento da indústria, sonho segundo o qual as máquinas nos
libertariam e trabalhariam por
nós (é o ponto de René Clair em
"A Nós a Liberdade", 1931).
A trilogia Bourne, que se fecha com "Ultimato Bourne"
(TC Premium, 18h10; não recomendado para menores de 14
anos), recoloca, em parte, essa
questão. Afinal, o agente Bourne é o sujeito que, para começar, renuncia não só à liberdade como à identidade em favor
do seu país.
Mas o que é "o seu país"? Eis
o que ninguém mais sabe direito. Bourne busca neste episódio identificar onde está o começo de toda sua desgraça.
Claro, são pessoas que tomaram um aparelho estatal (o de
espionagem) e ameaçam privar
os outros da liberdade (ou da
vida) caso se oponham a eles. É
o momento em que o desejo de
poder se mostra maior que tudo. Fritz Lang mostrou como
isso funcionava, na Alemanha
de 1932, em "O Testamento do
Dr. Mabuse".
Texto Anterior: Bia Abramo: O realismo inverossímil da telenovela Próximo Texto: Ferreira Gullar: Reflexão sobre o óbvio Índice
|