São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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Autor retoma "arquitetura da felicidade" em aeroporto

De Botton defende que terminais são locais onde "é possível sonhar"

Escritor evita abordar problemas imigratórios e afirma ter tomado cuidado para obra não soar propagandística

DE SÃO PAULO

Em "Como Proust Pode Mudar Sua Vida" (Rocco, 196 págs., R$ 31), De Botton já tentava mostrar como o autor de uma das obras de ficção mais complexas do século 20 ("Em Busca do Tempo Perdido") ajuda a nos tornar pessoas melhores.
Em "A Arquitetura da Felicidade" (Rocco, 272 págs., R$ 42), ele enumerou castelos, palácios, jardins e edifícios para explicar que as construções podem inspirar um sentimento de bem-estar àqueles que as veem ou que nelas vivem.
Faltavam os aeroportos. Mas são de fato o "não lugar" definido pela filosofia pós-moderna?
"São um lugar "entre". Para certos tipos de pessoas, que não se sentem "em casa" em parte alguma, podem ser muito reconfortantes", afirma o autor.
Para De Botton, eles também representam uma arquitetura da felicidade: "Ainda se pode sonhar lá".
E como descreveria a obra "high-tech" de Rogers, que levou 20 anos e 4,3 milhões de libras para entrar em funcionamento?
"É muito bonita, um exemplo de arquitetura ideal, como Brasília. O Brasil não é como as obras-primas de Oscar Niemeyer, mas suas estruturas prometem uma certa visão do país", diz.
Existem aeroportos mais bonitos que esse? "O de Oslo, um dos únicos feitos quase todo de madeira. Cheira bem e nos dá uma sensação de natureza", define.

IMIGRAÇÃO
Um ponto cego do livro é o setor de imigração, tratado em módicas quatro linhas.
Quando informado de que a mídia daqui sempre estampa casos de brasileiros interrogados por guardas hostis em salas apertadas e mal ventiladas de Heathrow pouco depois de desembarcarem, De Botton escapou pela tangente:
"Esse era um tema que eu levava em consideração, mas havia muita coisa a descrever...", responde.
Mas não teme haver sido enredado em uma grande peça de publicidade?
"Tinha claro que, se o livro fosse visto como propaganda, seria algo desastroso", diz. "No fim das contas, minha primeira responsabilidade é com os meus leitores -não com um aeroporto. Sou um escritor, não um cara do marketing."
Impresso o livro, a administração do aeroporto de Heathrow adquiriu 50 mil exemplares da obra para distribuí-los entre seus passageiros.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)


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