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Autor retoma "arquitetura da felicidade" em aeroporto
De Botton defende que terminais são locais onde "é possível sonhar"
Escritor evita abordar problemas imigratórios e afirma ter tomado cuidado para obra não soar propagandística
DE SÃO PAULO
Em "Como Proust Pode
Mudar Sua Vida" (Rocco, 196
págs., R$ 31), De Botton já
tentava mostrar como o autor
de uma das obras de ficção
mais complexas do século 20
("Em Busca do Tempo Perdido") ajuda a nos tornar pessoas melhores.
Em "A Arquitetura da Felicidade" (Rocco, 272 págs., R$
42), ele enumerou castelos,
palácios, jardins e edifícios
para explicar que as construções podem inspirar um sentimento de bem-estar àqueles que as veem ou que nelas
vivem.
Faltavam os aeroportos.
Mas são de fato o "não lugar"
definido pela filosofia pós-moderna?
"São um lugar "entre". Para
certos tipos de pessoas, que
não se sentem "em casa" em
parte alguma, podem ser
muito reconfortantes", afirma o autor.
Para De Botton, eles também representam uma arquitetura da felicidade: "Ainda
se pode sonhar lá".
E como descreveria a obra
"high-tech" de Rogers, que
levou 20 anos e 4,3 milhões
de libras para entrar em funcionamento?
"É muito bonita, um exemplo de arquitetura ideal, como Brasília. O Brasil não é como as obras-primas de Oscar
Niemeyer, mas suas estruturas prometem uma certa visão do país", diz.
Existem aeroportos mais
bonitos que esse? "O de Oslo,
um dos únicos feitos quase
todo de madeira. Cheira bem
e nos dá uma sensação de natureza", define.
IMIGRAÇÃO
Um ponto cego do livro é o
setor de imigração, tratado
em módicas quatro linhas.
Quando informado de que
a mídia daqui sempre estampa casos de brasileiros interrogados por guardas hostis
em salas apertadas e mal
ventiladas de Heathrow pouco depois de desembarcarem, De Botton escapou pela
tangente:
"Esse era um tema que eu
levava em consideração, mas
havia muita coisa a descrever...", responde.
Mas não teme haver sido
enredado em uma grande peça de publicidade?
"Tinha claro que, se o livro
fosse visto como propaganda, seria algo desastroso",
diz. "No fim das contas, minha primeira responsabilidade é com os meus leitores
-não com um aeroporto.
Sou um escritor, não um cara
do marketing."
Impresso o livro, a administração do aeroporto de
Heathrow adquiriu 50 mil
exemplares da obra para distribuí-los entre seus passageiros.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)
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