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Livro reconstrói vida de Louis Armstrong
Biografia recém-lançada recupera material inédito para traçar carreira de um dos artistas mais influentes do jazz
Escritor Terry Teachout teve acesso a 650 rolos de gravações, cartas, blocos de notas e pesquisas acadêmicas
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
Era o último dia de 1912,
em Nova Orleans. Aos 11
anos, Louis Armstrong abriu
a arca da mãe e furtou um revólver carregado com balas
de festim. Na mesma noite,
disparou um tiro, foi retido e
levado a um reformatório.
Foi lá que se tornou o interno modelo. Integrava a banda de metais, tocava corneta
para as filas e os toques que
anunciavam a missa.
Uma das mais importantes
influências do jazz, de peito
estufado e mandíbula forte, o
músico que nasceu na virada
do século em uma área pobre
de Nova Orleans foi alvo de
Terry Teachout em "Pops - A
Vida de Louis Armstrong".
Primeiro biógrafo a ter
acesso a 650 rolos de fitas
pessoais de gravações do
jazzman, Teachout também
recuperou blocos de notas e
pesquisas acadêmicas para
reconstruir a vida do trompetista, que deixou registros datilografados com apenas dois
dedos. E pilhas de cartas.
VIDA E MORTE
Abandonado pelo pai,
Armstrong foi criado por
uma prostituta. Ajudava em
casa revendendo carnes que
achava no lixo. Entregou a
roupa que a avó lavava,
transportou carvão numa
carroça e vendeu jornal.
Antes de comprar seu primeiro cornetim em uma loja
de penhores, improvisava
em uma trompa de lata.
No verão de 1919, se juntou
à orquestra de um navio turístico a vapor que cruzava o
rio Mississipi. E foi a bordo
que aprendeu a ler partituras
com precisão -com um sujeito que entendia "pouco de
jazz , mas tudo sobre disciplina". No barco, também ganhou peso e passou a usar
"calça para gordos".
Sempre manteve a atração
por roupas sofisticadas. Na
estrada, levava um camareiro para coordenar as 20 malas e passar os 200 lenços.
Sua (quarta) mulher o vestiu com a mesma elegância
quando foi enterrado, depois
de sofrer um ataque cardíaco
em 1971. Terno preto, camisa
cor-de-rosa e prateada.
O jazzista agenciado por
um empresário de lutadores
de boxe acabou a vida cultuado pelo mundo.
Não dispensava maconha, fazia aquecimento com óperas italianas e insistia nas notas agudas. Para manter os
lábios fortes, carregava uma
pomada desenvolvida por
um trompetista alemão.
Tinha linguagem corporal
invejável e combinava música e humor no palco.
Não costumava pegar no
pé dos instrumentistas, mas
dava sempre uma lição: é
preciso sorrir. Certa vez, numa apresentação de Ano-Novo, mesmo com o lábio superior sangrando -por conta
de uma doença genética que
também o levou a ter voz áspera-, foi capaz de sorrir.
POPS - A VIDA DE LOUIS
ARMSTRONG
AUTOR Terry Teachout
TRADUÇÃO Andrea Gottlieb de
Castro Neves
EDITORA Larousse do Brasil
QUANTO R$ 69,90 (512 págs.)
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