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"SEUS AMIGOS, SEUS VIZINHOS"
Filme fácil aborda tristezas da vida sexual
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
A história de "Seus Amigos,
Seus Vizinhos" pode ser resumida à de dois casamentos infelizes e
um feliz. Infelizes são os de Mary
(Amy Brennenam) com Barry
(Aaron Eckhart) e o de Jerry (Ben
Stiller) com Terri (Catherine Keener). Feliz é apenas o casamento
de Cary (Jason Patric) consigo
mesmo.
No centro desses casamentos
existe, naturalmente, o desejo. Ou
antes, as complicações do desejo.
Terri é frígida, o que desespera
seu marido. Este dará em cima de
Mary, cujo marido, Barry, entende que ele mesmo é seu melhor
parceiro sexual e opta pela masturbação.
Cary, por sua vez, gasta a maior
parte de seu tempo em exercícios
aeróbicos, em ensaios gravados
de futuras transas e em cantadas
grosseiras.
É um tanto difícil discernir onde
o diretor-roteirista Neil LaBute
pretendia chegar com essa ciranda amorosa entre seres absolutamente incapazes de abordar a sexualidade de forma minimamente eficaz.
Existe, é claro, a diferença entre
imagem pública e vida privada.
Nenhum deles é psicopata (pelo
menos isso), todos aparentam a
normalidade e mesmo a felicidade que, na intimidade, não existe.
Como a dizer que, diante da sexualidade, somos todos seres indefesos. Mas essa é uma chave
desgastada, para dizer o mínimo.
Um filme como "Denise Está
Chamando", de poucos anos
atrás, conseguia com mais eficiência retratar um mundo em
que as pessoas só se comunicam
indiretamente, por telefone, mas
nunca conseguem se encontrar:
essa solidão povoada por internet, walkman, discman, vídeo,
TV etc. talvez seja de fato característica de nossa época, pelo menos nas grandes metrópoles.
E "Denise", em todo caso, não
se pretendia diretamente realista,
pelo contrário: é o absurdo da situação que termina por nos seduzir e nos identificar com as questões tratadas. Para dizer isso ao
espectador, não trapaceia com a
oposição entre realidade e aparência.
E por que essa oposição tende à
trapaça? Porque o cinema é, por
natureza, uma arte da aparência,
da superfície. Seus momentos de
glória não consistem em mostrar
que o real e o aparente são coisas
diferentes, o que é óbvio, mas exatamente o inverso: encontrar os
momentos em que o real está contido no aparente, no visível, e
mostrá-los.
Existe, no entanto, uma oposição pertinente, brandida por LaBute num folheto comercial do
filme. Diz ele que espera levar o
público a uma situação de desconforto, dado o realismo com
que representa situações "hilariamente reais".
Dá para pensar o oposto: esse
"real", na medida em que se mostra caricato (bem mais do que hilariante) tende a instalar o espectador num certo conforto. A errância do desejo (um bem universalmente partilhado) aqui parece
ser sempre, necessariamente, um
problema alheio.
Somos jogados no interior dessa questão na condição de "voyeurs", como se assistíssemos a
uma sessão de psicanálise de grupo, mas, raramente -já para não
dizer nunca- , somos concernidos por ela. Vemos os outros -e
talvez alivie saber que outros têm
dificuldades nessa área-, mas
nem por isso chegamos a distinguir em que esse espetáculo deprimente nos ajudaria a chegar a
algum lugar.
Com isso, "Seus Amigos, Seus
Vizinhos" afirma-se como um filme simpático, sem dúvida, mas
ao mesmo tempo inócuo e facilmente esquecível.
Avaliação:
Filme: Seus Amigos, Seus Vizinhos
Título original: Your Friends and
Neighbours
Produção: EUA, 1998, 99 min.
Direção: Neil LaBute
Com: Amy Brenneman, Aaron Eckhart,
Ben Stiller, Catherine Keener
Quando: a partir de hoje, nos cines
Espaço Unibanco 2, SP Market 6 e
circuito
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