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CARLOS HEITOR CONY
O sexo em dois tempos
Volta e meia, leio nas folhas que os jovens de hoje estão gradativamente perdendo o
interesse pela prática do sexo. São
pesquisas feitas por institutos especializados e, como não sou devoto de pesquisas, sejam elas
quais forem, desconfio do resultado a que chegaram. Na questão
sexual, há sempre a tendência a
valorizar ou a minimizar a questão. Ou se exagera, dizendo-se
que somos capazes de dar oito ou
dez (é o caso dos brasileiros em
geral), ou tendemos à discrição,
modestamente afirmando que somos normais, mas sem devoção
exagerada.
Quanto aos jovens de hoje, alega-se que a facilidade dos encontros, das situações, a desinibição
dos grupos e das turmas que se
formam, até mesmo o encorajamento explícito da publicidade,
do cinema, da música popular,
todo esse caldo de libido que está
no ar acaba diminuindo, pela
oferta, o valor do produto, que é o
sexo em si.
Li também, numa revista italiana especializada no assunto, que
uma jovem de Turim, de 14 anos,
depois de alguns assédios do namorado, mais ou menos da mesma idade, decidiu topar aquilo
que chamou de "brincadeira". Lá
pelas tantas, depois que chegaram aos finalmentes, com o rapaz
caído ao lado, ela perguntou:
"Então, é só isso?".
A moça deve ter lido e ouvido
maravilhas a respeito, esperava
cavalgar infinitamente numa coisa melhor, mais duradoura. Reduzida à realidade do orgasmo, é
evidente que gostou, mas queria
mais. Só isso? Ela deve ter feito
péssimo juízo da humanidade.
Para buscar aquele "isso", houvera guerras, massacres, expedições
a regiões desoladas, duelos, falências, suicídios, enforcamentos,
pragas devastadoras, poemas,
canções, sem esquecer o aparato
farmacológico para evitar doenças letais ou vergonhosas. E tudo
isso para "isso"?
Na literatura, no teatro e no cinema, os autores, quando querem dourar a pílula, colocam ingredientes suspeitos em cena. Por
exemplo, nunca entendi direito
por que, nas bacanais que os cineastas nos oferecem, há sempre
cachos de uvas na boca dos participantes. É um reforço para melhorar uma coisa que não precisa
ser melhorada? E, se for necessário melhorar, não será um cacho
de uvas que aumentará o prazer.
A mesma revista italiana entrevistou jovens durante a exibição
de um filme pornô. Alguns casais
entraram no clima e fizeram na
platéia o que estavam vendo na
tela. Marcaram uma sessão para
mais tarde. A freqüência foi reduzida a menos da metade. A maioria preferiu ir comer nas lanchonetes e depois dançar numa discoteca no estilo dos anos 70, "Love
Is in the Air", essas coisas que ainda fazem sucesso na Itália.
Em tempos mais remotos, no
meu tempo, por exemplo, uma
coisa dessas não aconteceria. Por
muito menos, ficamos agarrados
naqueles cinemas que exibiam filmes franceses em preto-e-branco
com Viviane Romance ou Martine Carol, os mexicanos com Ninon Sevilha e Maria Antonieta
Pons.
Lembro a fila que se formou e
durou dias e noites para ver uma
cena simbólica de sexo oral com
Jeanne Moreau. Não acontecia
nada, apenas a mão dela se crispava contra o lençol na hora do
prazer -e houve gente que viu a
cena mil vezes, numa época em
que não havia VHS nem DVD em
alta resolução.
Cada geração tem o que merece, acho eu. Não faz muito, nas famílias judias era comum, no dia
do bar-mitzvá, quando o jovem
completava 13 anos e era admitido pela sociedade adulta, assumindo seu papel na comunidade
e na sinagoga, um amigo íntimo
da família levar o aniversariante
para um canto e, discretamente,
dar algum dinheiro ao rapaz,
com a recomendação de procurar
a sua primeira mulher, geralmente uma prostituta, para se inaugurar na vida sexual. Hoje, não
há necessidade disso. Qualquer
jovem, judeu ou gentio, pode se
inaugurar até antes dos 13 anos e
sem necessidade de recorrer ao sexo de aluguel.
E aqui vai o depoimento pessoal. Entrei garoto para um seminário católico, querendo ser padre. Saí com quase 20, casto como
as donzelas dos romances que as
moças liam antigamente. A opção do bordel ainda estava em
moda, a oferta era generosa; mesmo sem ser rico, podia me habilitar a um deles. A faixa de preços
variava, havia puteiros cinco estrelas e de nenhuma estrela.
Veio em meu auxílio uma jovem senhora do quinto andar do
prédio em que eu morava no terceiro. Era casada com um sujeito
que fazia ginástica todos os dias
no pátio do edifício, acho que se
chamava Gusmão.
Eu já havia dado uns trancos na
sra. Gusmão dentro do elevador,
sabia que outros rapazes haviam
feito o mesmo. A mulher topava.
Quando ela soube da minha desoladora situação, decidiu cooperar. Num domingo, o marido fazia não sei quantos abdominais
no áspero cimento do pátio. Fiz
também meus abdominais em solo mais macio. Não fiz como a jovem de Turim que reclamou, "só
isso?" Gostei tanto que repeti o isso com crescente entusiasmo.
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