São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

João Sal/Folha Imagem
Banda se apresenta em noite temática do clube Glória


nos embalos da noite

Baladas investem em relações públicas, DJs e carteirinhas VIPs para enfrentar a concorrência acirrada da noite paulistana

Todos os dias, a paulistana Andrea Nappo, 30 anos, chega às 11h à boate Disco, no Itaim Bibi. Ela é a relações públicas da casa. Vai passar o dia todo à procura de DJs, bandas e eventos para montar a programação e ainda escolher os VIPs da noite -cada uma diferente da outra, como pedem as baladas da cidade. "Já me ofereceram R$ 1.000 para que eu colocasse um nome no mailing da balada", conta ela. "E já ganhei um brinco. Era biju, mas era bem bonito!" Bonito ou feio, o presente não surtiu efeito: "Não adianta, não dá para comprar status. O cliente VIP é aquele que vem bastante à casa, que consome e traz amigos".

 

Um dos meios para entrar no mailing fixo da casa e ganhar convite para entrar de graça, e furar fila, é comprar a mesa, o que significa desembolsar R$ 400. "E, às vezes, não adianta nem comprar mesa. Tem dias em que a festa é só para quem mandamos convite."

 

A contratação de RPs é uma das estratégias das boates para atrair clientes VIPs que carregam amigos para as baladas. São dezenas. Na cidade, há cerca de 15 casas que cobram até R$ 100 per capita (só para entrar) e que caçam a laço os melhores clientes. Nos últimos anos, decidiram profissionalizar a missão. Outras táticas para manter a casa cheia vão desde mudar constantemente a decoração, dar atendimento especial a alguns clientes (que furam fila e não pagam entradas) e pagar R$ 25 mil para trazer um DJ internacional.

 

Renato Ratier, dono da D-Edge, na Barra Funda, já trouxe nomes como Laurent Garnier e Richie Hawtin. Nessas noites, o preço da entrada sobe para R$ 100. Em dias normais, a aposta é em DJs da cidade, já conhecidos do público, como Gláucia ++. "Só algumas pessoas caem de pára-quedas na noite", diz Gláucia. "A maioria sabe o que vai ouvir."

 

E sabe também quem vai ver. É que algumas casas, como Lotus e Vegas, têm "clientes-sócios": com uma carteirinha, eles têm direito à entrada grátis e fura-fila. "Eu e meu namorado nunca pagamos", diz Ana Cláudia Ciasca, que tem o "member card" da Lotus e usa outras artimanhas para se dar bem em mais baladas. "Não pego fila em nenhum lugar. Conheço todas as hostess, e aí elas me colocam para dentro." A maratona de Ana inclui três saídas por semana. "Pelo menos! Tem semana que é mais. Tem muita balada boa em SP!"

 

O estudante Bernardo Virtuoso, 22, "cai na balada", de terça a sábado, todas as noites. É cliente VIP de várias boates. "Vou ao Royal, Disco, Museum, Rec, Sirena... E dou um corre em todas." Dá um corre? "É, não pego fila, passo na frente." Ele conta que só paga o que consome e, normalmente, gasta "uns R$ 150" por boate. "Meus pais me dão mesada", explica. "Uns R$ 150" por noite, em cada casa noturna que pisa, é o que costuma gastar também o administrador Bassim Trabulse, 26, outro VIP baladeiro. "Trabalho com moda, levo muitos gringos comigo", diz ele. "Recebo convites em casa e, como saio muito, conheço até os seguranças." "O pessoal na fila fica olhando, mas azar é o deles", diz a estudante e "baladeira VIP" Izabella Borges, 19, que freqüenta Lotus, Museum, Disco e Sirena, em Maresias.

 

Em menos de um ano, o circuito das baladas endinheiradas ganhou pelo menos cinco novas casas, como Royal e Glória. "A concorrência é cada vez maior", diz o empresário Carlos Kalil, que deve abrir, nesta terça, a boate Pacha, na Vila Leopoldina. Ele contratou Benjamin Ramalho, que trabalha na área de relações públicas há 13 anos, e o novato Pedro Palomino. Os dois vão selecionar os clientes VIPs da casa -não necessariamente famosos, mas sim grandes baladeiros e consumidores que carreguem com eles muitos amigos. "Na primeira etapa, vamos escolher nomes de formadores de opinião, como estilistas", explica Ramalho. "Depois, entrarão os clientes que vêm bastante, que gastam mesmo."

 

O Glória, no Bexiga, criou uma noite "temática", a "AleLux", com o estilista Alexandre Herchcovitch e o performer Johnny Luxo. "Preciso de festas boas. Então, pensei e liguei: Oiê, Alê Herchcovitch, você quer ser meu DJ?", conta André Hidalgo, um dos sócios do clube. No dia da balada da dupla, a casa atinge lotação máxima -ou 500 pessoas, a maioria ligada ao mundo fashion.

 

Além de noites temáticas, um caminho é investir na decoração da casa. Cada ambiente do Cafe de la Musique, na Vila Olímpia, é decorado por um estilista conhecido -Amir Slama, Fause Haten e Ricardo Almeida- e os ambientes mudam a cada seis meses. "É para dar um ar fresh, como se fosse um lugar novo a cada meio ano", explica Álvaro Garnero, um dos sócios.

 

A escolha de uma hostess "descolada" -e conhecida- também ajuda. Anna Gelinskas é um exemplo: hostess da Lov.e, na Vila Olímpia, e do Ultralounge, nos Jardins, faz as vezes de RP. "Uma hostess conhecida traz um monte de gente", diz Anna -batom vermelho-paixão e blusa decotada que deixa à mostra algumas de suas 11 tatuagens. Por noite, ela ganha de R$ 200 a R$ 600. "É bom, mas é puxado. Tenho uma janela de duas horas para ver o meu namorado."

 

De fila, o empresário Edsá Sampaio, da Lotus, gosta. "Gente bonita na porta da casa atrai mais gente", diz. "O carinha não se importa de ficar meia hora na fila se a casa estiver cheia de mulher bacana."


Texto Anterior: Inovador, "Malu Mulher" sai em DVD
Próximo Texto: Séries reciclam velhos formatos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.