São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Séries reciclam velhos formatos

Boa parte das produções que estréiam na TV paga nos próximos dias se inspira em seriados de sucesso

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A lei de conservação de massas estabelecida por Lavoisier saltou dos livros de ciência para a cabeça dos roteiristas de televisão norte-americanos. É o que apontam as premissas de várias séries que estréiam na TV paga brasileira nos próximos dias. A nova leva de comédias de situação, dramas familiares e tramas focadas no trinômio que fascina a audiência americana -crimes, inquéritos policiais e processos jurídicos- apresenta novos personagens e conflitos ao público, mas traz um largo repertório de "referências" a sucessos de anos anteriores.
É o caso de "The Nine" (veja horários à esquerda), que toma as 52 horas de um assalto a banco como ponto de partida para abordar as relações que se estabelecem entre nove reféns. Foco em desconhecidos forçados a trabalhar juntos para sair de uma situação-limite, desdobramentos que demandam acompanhamento fiel do público e flashbacks que lançam luz sobre os mistérios caracterizam uma versão urbana de "Lost".
Já "What about Brian" (terças, às 22h, no Sony; estréia em 7/11) é herdeiro de "Dawson's Creek", sucesso adolescente do final dos anos 90. O protagonista, único solteiro em uma turma de casados, apaixona-se pela noiva do melhor amigo. Daí, advém o dilema: preservar a amizade ou se render à cilada do cupido? Alguém aí se lembra do idêntico triângulo Dawson-Joey-Pacey?
Reciclagem também é palavra de ordem entre as comédias. Tomemos "The Class", sobre o reencontro de colegas de terceira série primária, 20 anos depois. A reunião traz memórias agridoces e reaviva paixões em um octeto 50% masculino, 50% feminino. Amizades como porto seguro para enfrentar a vida adulta? Proporção entre gêneros perfeita para troca-troca de casais? Nem precisava dizer que o criador é o mesmo de "Friends"...
Para além da insistência em formatos surrados, a safra 2006/2007 periga ostentar um rótulo desconfortável: o do fracasso. Dos 12 novos programas de ficção que os dois principais canais do segmento apresentam, três já foram cancelados nos EUA. E mais: o público brasileiro não verá as principais novidades da temporada americana, como a adaptação da novela colombiana "Betty, a Feia", o drama "Brothers and Sisters" - crônica do cotidiano de uma família desajustada (mais uma!) - e "Heroes", sobre pessoas que descobrem ser dotadas de superpoderes. Essa última foi comprada pelo Universal Channel, que cogitou uma estréia em janeiro, mas agora diz não haver previsão.
A diretora de programação da Warner Channel para a América Latina, Wilma Maciel, explica a diferença entre a lista de estréias do canal e o ranking das novidades mais vistas e comentadas nos EUA. "Compramos a maior parte das séries em maio, antes de estrearem por lá. Não temos o termômetro do público."
Já a diretora de marketing dos canais Sony para o Brasil, Estefânia Granito, relativiza o peso do ibope americano. "As medidas de sucesso são diferentes. Nos EUA, há uma expectativa de retorno gigante em público e publicidade. Aqui, os números são outros."


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