Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Atriz elogia recurso que a rejuvenesce
Regina Duarte, ao ver sua pele corrigida por programa de computador na novela, espantou-se: "Como fizeram esse milagre?"
Namoradinha do Brasil quer escrever um livro e acredita que cineastas podem não convidá-la para filmes por achar que ela é "cara e difícil"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo a continuação da
entrevista de Regina Duarte.
(LAURA MATTOS)
FOLHA - Gostaria de fazer cinema?
REGINA - Sim, mas não tenho
recebido projetos.
FOLHA - Há resistência dos cineastas em razão de sua forte presença
na TV? Você já falou em panelinha...
REGINA - É, pode ser por isso, e
também podem achar que sou
cara, difícil. As pessoas criam
toda uma mitologia quando se
tem uma história de 42 anos.
FOLHA - Você é cara e difícil?
REGINA - Depende da proposta.
Se for boa, sou docilíssima como uma gueixa. E baratíssima.
Não estou interessada em fazer
pé-de-meia. Queria um bom
projeto, um bom diretor.
FOLHA - Qual diretor?
REGINA - Tantos que, se eu for
enumerar, tenho medo de deixar alguém de fora.
FOLHA - Diga pelo menos três...
REGINA - Ah, Waltinho [Walter
Salles, "Central do Brasil"],
Luiz Fernando Carvalho ["Lavoura Arcaica"] e Daniel Filho
["Se Eu Fosse Você"].
FOLHA - O fato de heroínas e galãs
terem mais de 40 anos significa que
a TV é fechada a novos talentos?
REGINA - Não, a televisão está
superaberta a novos talentos.
Mesmo Manoel Carlos dá destaque a muita gente nova.
FOLHA - Como surgiu o apelido de
"namoradinha do Brasil"?
REGINA - A primeira vez que li
foi na "Veja". Fazia uma peça,
em 1975, na qual minha personagem rompia com a minha
imagem de dócil e sofredora, e o
título da entrevista foi "Ex-namoradinha do Brasil". Além
disso, em 1970, havia feito a novela "Minha Doce Namorada".
FOLHA - E você continua sendo a
namoradinha do Brasil?
REGINA - Espero que sim [risos]. Adoro o título, acho bem
representativo de uma relação
amorosa entre o público e eu.
FOLHA - O que acha do baselight
[programa de computador que rejuvenesce, utilizado em "Páginas da
Vida"]? Sua pele está bem lisinha.
REGINA - O programa é usado
para todo o elenco, homens,
mulheres, crianças. É um recurso que tem a ver com a TV
digital, com câmeras de alta definição, que podem ser tremendamente cruéis [por ressaltar
as imperfeições]. A primeira
vez que notei que minha pele
estava diferente, perguntei:
"Gente, como conseguiram fazer esse milagre comigo?".
Achei que era a lente e brinquei: "Posso levar para casa?
Quero agora andar com ela".
FOLHA - Aguinaldo Silva lançará o
romance "98 Tiros de Audiência",
baseado em personagens reais, no
qual a estrela da novela é carente e
geniosa, e a TV, um antro de trapaças. Reconhece esse ambiente?
REGINA - Não, para mim é lenda. Não conheço esse universo
de rivalidade, dificuldade. Tenho uma vida pessoal gratificante, e a TV é um pedaço.
FOLHA - É por isso que não gosta
muito de dar entrevistas?
REGINA - Foi um processo de
amadurecimento. Antes dava
entrevistas, permitia que minha vida fosse mais devastada.
Hoje mantenho a privacidade.
FOLHA - Ainda suporta responder
se continua com medo [em 2002,
causou polêmica ao dizer, na propaganda de Serra, ter medo de Lula]?
REGINA - As pessoas perguntam [risos], mas não respondo
mais. Já está bastante claro,
não precisa ficar relembrando.
FOLHA - Ficou muito decepcionada
com a reeleição de Lula?
REGINA - Não sei qual seria a
palavra. Mas é isso que a nação
quer, temos que respeitar.
FOLHA - Qual é seu novo projeto?
REGINA - Há mais de 20 anos
quero escrever um livro. Desde
os oito anos, escrevo tudo o que
me passa pela cabeça e guardo
algumas coisas. É para conversar comigo mesma, para me entender, como uma meditação.
Escrevo à mão ainda, a lápis, e
só depois passo ao computador.
Não posso nem culpar a novela
por não ter escrito esse livro
ainda, eu fico inventando coisas para evitar esse retiro necessário a quem quer escrever.
Texto Anterior: Saiba mais: Game se inspira no universo pop Próximo Texto: Cinqüentões dominam a novela das 8 Índice
|