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Documentário refaz viagem de Lévi-Strauss
"Trópico da Saudade - Claude Lévi-Strauss e a Amazônia" é exibido hoje na TV
Programa mostra que obras de brasileiros, como Manuela Carneiro da Cunha, foram acompanhadas por autor de "Tristes Trópicos"
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Claude Lévi-Strauss [pronuncia-se Clôde Lêvi Strôss]
morou só quatro anos no Brasil, entre 1935 e 1939, voltou em
1985 para uma visita de seis
dias, mas seu interesse pelo
país nunca parou. A opinião é
do cineasta e antropólogo Marcelo Fortaleza Flores, que conviveu com o etnólogo entre
2004 e 2008 para fazer "Trópico da Saudade - Claude Lévi-Strauss e a Amazônia", documentário sobre os nambiquaras que a TV Cultura exibe hoje.
Flores fez as últimas entrevistas com Lévi-Strauss.
"O interesse dele pela etnologia brasileira nunca cessou.
Apesar de não ter podido fazer
mais pesquisas de campo, ele
continuou com grande interesse sobre o trabalho de antropólogos brasileiros", disse Flores,
que vive em Paris, em entrevista por telefone. Entre outros
autores que Lévi-Strauss gostava, ele cita os nomes de Manuela Carneiro da Cunha e de
Eduardo Viveiros de Castro.
A leitura dos textos mais recentes da antropologia brasileira não eram os únicos sinais de
que Lévi-Strauss continuava a
pensar o que escrevera a partir
do Brasil, segundo o cineasta.
Ele dá outro exemplo da vitalidade do etnólogo: "Aos 98
anos, ele publicou uma resposta a um antropólogo americano
que desaprovava algumas
ideias dele", disse.
A expedição
Flores foi um locutor diferenciado na relação com Lévi-Strauss por causa de seus interesses: ele estudou e viveu cinco anos e meio com os nambiquaras, o grupo que o francês
visitou em 1938, no norte do
Mato Grosso.
Para fazer o documentário,
ele refez a expedição de 1938.
Saiu dela convencido que aquela viagem representa uma mudança de porte, uma guinada na
antropologia moderna.
Segundo Flores, Lévi-Strauss
viajou até o remoto sertão do
Mato Grosso em 1938 por um
motivo que mescla literatura e
o nascimento da etnologia
francesa: ele queria encontrar
os remanescentes dos tupis que
os franceses haviam visto no
Rio de Janeiro quando invadiram a cidade no século 16.
Lévi-Strauss queria saber o
que ocorrera com os índios que
o pastor calvinista e escritor
Jean de Léry (1534-1611) conhecera no Rio quando os franceses estabeleceram a França
Antártica na baía de Guanabara
entre 1555 e 1557.
As observações feitas por
Léry sobre os índios disseminaram-se pela Europa, em boa
parte por causa de Montaigne
(1533-1592), e foram fundamentais para a criação do mito
do bom selvagem, uma ideia
que seria disseminada pela Revolução Francesa (1789).
Flores concorda em parte
que havia algo de pós-moderno
na expedição de Lévi-Strauss,
já que sua inspiração era uma
obra literária.
"Era uma expedição que tinha uma relação clara com os
primórdios da etnologia no
Brasil, com os franceses que estiveram aqui no século 16. Mas
ela tentava desvendar um mundo novo. Como expedição, era
um híbrido entre duas épocas."
Ao refazer a expedição, com
fotos que Lévi-Strauss fizera
em 1938, o diretor reencontrou
no sul de Rondônia o grupo tupi que o etnólogo francês chamara equivocadamente de
mundéu (mundéu era só um
ramo linguístico, segundo Flores, e os índios eram akunsuns).
Pelas fotos, Flores contou 40
traços em comum entre os
akunsuns e os índios que Lévi-Strauss chamara de mundéus.
A boa notícia do reencontro
do grupo que Lévi-Strauss estudara em 1938 veio junto com
uma péssima notícia: só restavam seis índios akunsuns, e os
dois homens ainda carregam as
cicatrizes dos tiros que levaram
em 1985, quando parte do grupo foi massacrada.
TRÓPICO DA SAUDADE - CLAUDE LÉVI-STRAUSS E A AMAZÔNIA
Quando: hoje, às 23h, na TV Cultura
Classificação: 14 anos
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