São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2010

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Bortolotto dirige montagem "musical" de relação em crise

Dramaturgo estreia texto inédito do norueguês Jon Fosse, cultuado por fazer teatro como quem compõe canções

Inspirado em Beckett, espetáculo retrata um dia na vida de casal esvaziado de amor que acaba de ter um bebê

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O norueguês Jon Fosse tem alma de músico. Transferiu sua paixão musical para a dramaturgia, passou a escrever textos como quem compõe canções e se tornou um dos mais cultuados autores teatrais da contemporaneidade.
Amanhã, entra em cartaz uma obra inédita dele no país: "Noturnos", com direção de Mário Bortolotto. O espetáculo retrata o relacionamento sombrio de um jovem casal com um bebê.
Contada através de quatro saltos cronológicos, a trama se desenrola em um único dia no apartamento do trio.
Móveis chamuscados, flores secas e um porta-retrato desabitado convivem em harmonia com o casal esvaziado de amor e esperança.
Bortolotto busca ser fiel ao autor e segue suas detalhadas rubricas. Leva à cena personagens raros de ver nos palcos. "São chatos e desinteressantes. Fosse não tenta glamorizar. Na sua dramaturgia, não há heróis nem anti-heróis", afirma o diretor.
Os protagonistas não são merecedores nem mesmo de nomes. São intitulados de forma despersonificada como Moça e Moço. Tom, o amante, é único personagem da trama honrado com uma denominação diferenciada.
"Tom aparece como elemento catártico, para revelar o verdadeiro caráter da protagonista", diz o ator que o interpreta, Marcelo Spektor. "A Moça é terrível, uma Lady Macbeth", fala Maria Manoella, que, além de viver a personagem, é produtora e idealizadora da montagem.

BIS
Fosse inspira-se em Samuel Beckett (1906-1989) para trabalhar a fala cotidiana de forma inusual. Faz uma reflexão sobre as dificuldades dos relacionamentos afetivos contemporâneos criando uma falsa sensação de realidade em cena.
Sua obra, definida por ele mesmo como uma composição musical, apresenta versos e estrofes. Como no bis de uma canção, frases são repetidas continuamente, em diferentes intensidades. Acompanham a trajetória do pensamento dos personagens e relevam a condição cíclica do relacionamento que os aprisiona, desvelando o que de fato se passa em cena.
"O texto tem um naturalismo estranho. É quase uma novela, mas você tem de entender que a parada não está no que é dito, mas no subterrâneo", explica Bortolotto.


NOTURNOS

QUANDO sábados, às 21h, e domingos, às 20h
ONDE espaço Parlapatões (pça. Franklin Rosevelt, 158, tel. 0/xx/11/3258-4449)
QUANTO de R$ 15 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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