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Bortolotto dirige montagem "musical" de relação em crise
Dramaturgo estreia texto inédito do norueguês Jon Fosse,
cultuado por fazer teatro como quem compõe canções
Inspirado em Beckett,
espetáculo retrata um
dia na vida de casal
esvaziado de amor que
acaba de ter um bebê
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O norueguês Jon Fosse
tem alma de músico.
Transferiu sua paixão musical para a dramaturgia,
passou a escrever textos como quem compõe canções e
se tornou um dos mais cultuados autores teatrais da
contemporaneidade.
Amanhã, entra em cartaz
uma obra inédita dele no
país: "Noturnos", com direção de Mário Bortolotto.
O espetáculo retrata o relacionamento sombrio de um
jovem casal com um bebê.
Contada através de quatro
saltos cronológicos, a trama
se desenrola em um único
dia no apartamento do trio.
Móveis chamuscados, flores secas e um porta-retrato
desabitado convivem em
harmonia com o casal esvaziado de amor e esperança.
Bortolotto busca ser fiel ao
autor e segue suas detalhadas rubricas. Leva à cena personagens raros de ver nos
palcos. "São chatos e desinteressantes. Fosse não tenta
glamorizar. Na sua dramaturgia, não há heróis nem anti-heróis", afirma o diretor.
Os protagonistas não são
merecedores nem mesmo de
nomes. São intitulados de
forma despersonificada como Moça e Moço. Tom, o
amante, é único personagem
da trama honrado com uma
denominação diferenciada.
"Tom aparece como elemento catártico, para revelar
o verdadeiro caráter da protagonista", diz o ator que o
interpreta, Marcelo Spektor.
"A Moça é terrível, uma Lady
Macbeth", fala Maria Manoella, que, além de viver a personagem, é produtora e idealizadora da montagem.
BIS
Fosse inspira-se em Samuel Beckett (1906-1989) para trabalhar a fala cotidiana
de forma inusual. Faz uma
reflexão sobre as dificuldades dos relacionamentos afetivos contemporâneos criando uma falsa sensação de
realidade em cena.
Sua obra, definida por ele
mesmo como uma composição musical, apresenta versos e estrofes. Como no bis de
uma canção, frases são repetidas continuamente, em diferentes intensidades.
Acompanham a trajetória
do pensamento dos personagens e relevam a condição cíclica do relacionamento que
os aprisiona, desvelando o
que de fato se passa em cena.
"O texto tem um naturalismo estranho. É quase uma
novela, mas você tem de entender que a parada não está
no que é dito, mas no subterrâneo", explica Bortolotto.
NOTURNOS
QUANDO sábados, às 21h, e
domingos, às 20h
ONDE espaço Parlapatões
(pça. Franklin Rosevelt, 158,
tel. 0/xx/11/3258-4449)
QUANTO de R$ 15 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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