São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2010

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Artista peruano mistura pinturas clássicas em telas

Herman Braun-Vega expõe obras em que reinterpreta Picasso e Velázquez

Pintor esteve na Bienal de São Paulo de 1985 com tela que mesclava clássico de Rembrandt e morte de Che Guevara

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quando Herman Braun-Vega viu as variações que Picasso fez do quadro "As Meninas", obra-prima de Diego Velázquez, decidiu passar dois meses trancado em seu ateliê em Paris, fazendo uma série ainda maior de versões dos dois mestres espanhóis.
"Foi um choque, porque Picasso desconstruiu uma obra para criar algo magistral", diz o peruano Braun-Vega, que abre mostra no Memorial da América Latina. "Picasso e Velázquez foram meus grandes padrinhos."
Braun-Vega tenta, de fato, simular os múltiplos planos de ação e complexos jogos de luz de Velázquez ao mesmo tempo em que refaz o traço afiado de Picasso no horror que cravou em "Guernica".
Suas telas são todas variações mais ou menos ingênuas de clássicos da pintura justapostos em novos ambientes, num tom que vai do deboche à sátira política.
"Trabalho sobre vários níveis de memória", diz o artista. "Vivemos num tempo sem memória, por isso tento trazer o passado ao presente."
Foi quando viu que suas experimentações sobre os clássicos resultavam um tanto áridas, distantes do real, que Braun-Vega entrou numa fase política que dura até hoje, ressaltando o que chama de mestiçagem e sincretismo na América Latina.
Ele mostrou essa casca de contornos mais históricos na Bienal de São Paulo de 1985, edição dedicada à volta da pintura. Fez um quadro em que misturava "Lição de Anatomia", de Rembrandt, com a fotografia do cadáver de Che Guevara estendido diante de seus detratores.
Por um lado, evocava a densidade formal de um clássico e chancelava sua presença numa mostra que exaltava o gênero da pintura. Por outro, arriscava a mensagem explícita, quase panfletária, de expor a tela no Brasil no ano de volta à democracia.
"Na época, quase todos os países da região tinham ditadores", lembra Braun-Vega. "Estou narrando uma situação que poderia ser hoje, os crimes ainda se perpetuam, essa barbárie continua."
Mas, dentro ou fora da selvageria, as telas de Braun-Vega parecem plácidas. São afirmações políticas afogadas na reverência ao clássico, rupturas que ele chama de "legíveis, nunca totais".


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