|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Artista peruano mistura pinturas clássicas em telas
Herman Braun-Vega expõe obras em que reinterpreta Picasso e Velázquez
Pintor esteve na Bienal de São Paulo de 1985 com tela que mesclava clássico de Rembrandt
e morte de Che Guevara
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Quando Herman Braun-Vega viu as variações que Picasso fez do quadro "As Meninas", obra-prima de Diego
Velázquez, decidiu passar
dois meses trancado em seu
ateliê em Paris, fazendo uma
série ainda maior de versões
dos dois mestres espanhóis.
"Foi um choque, porque
Picasso desconstruiu uma
obra para criar algo magistral", diz o peruano Braun-Vega, que abre mostra no
Memorial da América Latina.
"Picasso e Velázquez foram
meus grandes padrinhos."
Braun-Vega tenta, de fato,
simular os múltiplos planos
de ação e complexos jogos de
luz de Velázquez ao mesmo
tempo em que refaz o traço
afiado de Picasso no horror
que cravou em "Guernica".
Suas telas são todas variações mais ou menos ingênuas de clássicos da pintura
justapostos em novos ambientes, num tom que vai do
deboche à sátira política.
"Trabalho sobre vários níveis de memória", diz o artista. "Vivemos num tempo sem
memória, por isso tento trazer o passado ao presente."
Foi quando viu que suas
experimentações sobre os
clássicos resultavam um tanto áridas, distantes do real,
que Braun-Vega entrou numa fase política que dura até
hoje, ressaltando o que chama de mestiçagem e sincretismo na América Latina.
Ele mostrou essa casca de
contornos mais históricos na
Bienal de São Paulo de 1985,
edição dedicada à volta da
pintura. Fez um quadro em
que misturava "Lição de
Anatomia", de Rembrandt,
com a fotografia do cadáver
de Che Guevara estendido
diante de seus detratores.
Por um lado, evocava a
densidade formal de um clássico e chancelava sua presença numa mostra que exaltava o gênero da pintura. Por
outro, arriscava a mensagem
explícita, quase panfletária,
de expor a tela no Brasil no
ano de volta à democracia.
"Na época, quase todos os
países da região tinham ditadores", lembra Braun-Vega.
"Estou narrando uma situação que poderia ser hoje, os
crimes ainda se perpetuam,
essa barbárie continua."
Mas, dentro ou fora da selvageria, as telas de Braun-Vega parecem plácidas. São
afirmações políticas afogadas na reverência ao clássico, rupturas que ele chama
de "legíveis, nunca totais".
Texto Anterior: Rubens Paiva dirige monólogo feminino Próximo Texto: Festival reúne shows e culinária do Peru Índice | Comunicar Erros
|