São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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Aos 75, Verissimo troca musas pela neta

Autor de "mais de 50, menos de 100" livros, o escritor gaúcho lança novo volume de crônicas e diz sentir a idade

Ele recebeu a Folha na casa que foi a de seu pai, para falar de "Em Algum Lugar do Paraíso" e da rotina

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Luis Fernando Verissimo, doravante LFV, não lembra exatamente um príncipe.
Mas é assim -"meu príncipe"- que tem sido chamado pela pessoa mais importante da vida dele nestes últimos tempos, a neta Lucinda, de três anos.
(Quem revelou a inconfidência não foi o encabulado escritor, mas a mulher dele, Lúcia, quando o repórter deixava a casa do casal em Porto Alegre na última quinta).
Aos 75 anos, um dos cronistas mais populares do país, com mais de 5 milhões de livros vendidos, LFV revela que a companhia da neta, filha da primogênita Fernanda, é um dos grandes prazeres que mantém na velhice.
Os outros são tocar saxofone -a banda dele, Jazz 6, faz show em São Paulo na segunda-, viajar e ir ao cinema.
"A morte é uma injustiça, esse é a melhor descrição. Mas a gente tem de conviver com isso. Sou cardíaco, diabético e tenho 75 anos, tô aí na espera."
"A gente vai ficando mais lento de pensamento. Nesse sentido, estou sentindo a velhice. Mas aí é tentar aproveitar a vida da melhor maneira. Enquanto der para aproveitar a nossa neta, ir ao cinema, viajar, a gente vai levando."
Das doenças, queixa-se somente de ser forçado a parar de comer doce, uma paixão.
Autor de tantos livros que nem ele sabe ao certo a conta -mais de 50, menos de 100; a editora fala em 73, mas inclui reedições-, LFV lança agora mais uma reunião de crônicas que publica nos jornais "O Globo", "O Estado de S. Paulo" e outras dezenas.
Por isso recebeu a Folha em sua casa na capital gaúcha, no bairro de classe média Petrópolis, a mesma casa comprada em 1942 pelo pai dele, o escritor Erico Verissimo, que a ampliou e espalhou nela marcas de memória.
Deu entrevista no escritório que hoje guarda a biblioteca do pai, objetos e quadros -Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Glauco Rodrigues etc. Depois guiou a reportagem a um tour por outros cômodos lugar: os dois escritórios, ou "tocas", como os chama, no subsolo, uma que era de Erico, outra usada por ele, e até o diminuto quarto do casal.
No criado-mudo de LFV, dois exemplares de revistas americanas, "The New Yorker" e "The Nation", um romance de Saul Bellow ("Ravelstein"), narrativas de Allan Bennett ("Smut").
Tudo em inglês. LFV conta que lê principalmente nesse idioma. Em português, diz que tem lido mais para se informar: quatro jornais -Folha, "O Globo", "O Estado de S. Paulo" e "Zero Hora"- e a revista "Carta Capital".
"Lia a 'Veja', mas deixei de ler", disse, sem ser questionado. "A 'Veja' está braba, se transformou numa espécie de boletim da direita brasileira. Era uma revista muito bem-feita, teve grandes fases."
A assessora lembra, e LFV então relata, o desagrado do escritor com uma reportagem da revista que o incluía entre autores que recebiam para escrever orelhas e prefácios.
Procurada, a direção da "Veja" afirmou que "não faz comentários sobre declarações de ex-colaboradores".
LFV, que diz nunca ter escondido sua simpatia pelo PT, avalia o governo Dilma como "nota 7", a mesma que dá à gestão de Lula, que "decepcionou a esquerda, mas também a direita, porque não foi um fracasso completo, teve distribuição de renda".
"Em Algum Lugar..." volta a tratar dos temas comuns a LFV: comédias da vida privada, histórias carregadas de nonsense. Sente-se falta ali das históricas musas do escritor -Patrícia Pillar, Luana Piovani, Luma da Oliveira, Patrícia Poeta etc.
"Achei que não estava mais na idade", binca LFV, para depois dizer que continua sendo "grande admirador" de Pillar. E cita uma nova paixão, a atriz argentina Soledad Villamil, de quem ganhou recentemente um beijo após apresentação musical dela em Porto Alegre.

EM ALGUM LUGAR DO PARAÍSO
AUTOR Luis Fernando Verissimo
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 36,90 (184 págs.)

SHOW DA BANDA JAZZ 6
QUANDO 2ª, 7/11, às 19h
ONDE Sesc Consolação (r. dr. Vila Nova, 245, 00/xx/11 3234-3000)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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