São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

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TELEVISÃO

Série em sete episódios produzida pelo cineasta apresenta diretores como Mike Figgis, Wim Wenders e Clint Eastwood

Scorsese descortina os caminhos do blues

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Em dois de seus maiores clássicos, "Taxi Driver" (1976) e "Touro Indomável" (1980), Martin Scorsese tinha à frente um personagem central atormentado e melancólico perdido em um mundo que às vezes parecia grande demais. Essa mesma persona é, de certa forma, a essência de "The Blues", série em sete episódios produzida pelo diretor que o GNT começa a exibir nesta sexta-feira.
O protagonista, no entanto, é um gênero musical centenário que surgiu no sul dos Estados Unidos a partir dos lamentos de escravos negros e que, hoje, mantém sua aura de tristeza em outros deltas, muitas vezes com significados desfigurados. "Essas canções não são feitas para o uísque ou para a cerveja", diz o músico africano Ali Farka Toure no primeiro episódio, "Feels like Going Home", dirigido por Scorsese.
A série, apesar de pender para o lado documental, concentra um apelo muito mais impressionista, com a visão particular que cada um dos diretores -como Wim Wenders, Mike Figgis e Clint Eastwood- tem sobre o blues.
O projeto, de 2003, ainda inclui uma coleção de cinco CDs, com 116 faixas (em um período de 1920 a 2003), além do inevitável lançamento em DVD (no exterior).
O episódio de Scorsese segue sua tradição de ir fundo em investigações sobre paixões pessoais ("Cem Anos de Cinema", sobre a produção americana; "Il Mio Viaggio in Italia", em que esquadrinha obras-primas italianas) e, ainda, sua investida em descortinar as origens da América.
Em "Feels", o diretor analisa não apenas a questão musical, mas também as conexões entre EUA e África para chegar às raízes do blues. Para isso, ele convoca o músico norte-americano Corey Harris em uma viagem que começa no Mississippi e vai até Mali (África). No trajeto, Harris vai entrevistando artistas como Salif Keita e Taj Mahal; entremeando as conversas, a narração do próprio Scorsese e cenas de arquivo de artistas fundamentais como Muddy Waters, Son House e John Lee Hooker. "[O blues é] A única coisa que não puderam tirar dos negros", diz o diretor.
Mike Figgis, que dirige o episódio "Red, White and Blues" [no ar dia 7/1], traça uma espécie de cadeia alimentar do gênero. Inicialmente, vê a influência do blues no pós-guerra britânico; em seguida, analisa como o gênero retorna aos EUA, em um momento em que o country começa a crescer. Reúne gente como Van Morrison e Jeff Beck no estúdio Abbey Road.
"A cultura do blues está em todos os lugares -o rap e a maioria da música popular é baseada nele", diz Figgis à Folha. "Cresci numa casa em que meu pai quase prestava adoração ao blues, então isso está no meu sangue."
Por tudo isso, com uma exceção ou outra, a série consegue capturar até aqueles que não depositam muita fé no blues.


Colaborou Lúcia Valentim Rodrigues, da Redação

THE BLUES. Série em sete episódios. Primeira parte: "Feels like Going Home". Quando: sexta-feira (dia 10), às 24h, no canal GNT.


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