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TELEVISÃO
Série em sete episódios produzida pelo cineasta apresenta diretores como Mike Figgis, Wim Wenders e Clint Eastwood
Scorsese descortina os caminhos do blues
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Em dois de seus maiores clássicos, "Taxi Driver" (1976) e "Touro
Indomável" (1980), Martin Scorsese tinha à frente um personagem central atormentado e melancólico perdido em um mundo
que às vezes parecia grande demais. Essa mesma persona é, de
certa forma, a essência de "The
Blues", série em sete episódios
produzida pelo diretor que o GNT
começa a exibir nesta sexta-feira.
O protagonista, no entanto, é
um gênero musical centenário
que surgiu no sul dos Estados
Unidos a partir dos lamentos de
escravos negros e que, hoje, mantém sua aura de tristeza em outros
deltas, muitas vezes com significados desfigurados. "Essas canções não são feitas para o uísque
ou para a cerveja", diz o músico
africano Ali Farka Toure no primeiro episódio, "Feels like Going
Home", dirigido por Scorsese.
A série, apesar de pender para o
lado documental, concentra um
apelo muito mais impressionista,
com a visão particular que cada
um dos diretores -como Wim
Wenders, Mike Figgis e Clint
Eastwood- tem sobre o blues.
O projeto, de 2003, ainda inclui
uma coleção de cinco CDs, com
116 faixas (em um período de 1920
a 2003), além do inevitável lançamento em DVD (no exterior).
O episódio de Scorsese segue
sua tradição de ir fundo em investigações sobre paixões pessoais
("Cem Anos de Cinema", sobre a
produção americana; "Il Mio
Viaggio in Italia", em que esquadrinha obras-primas italianas) e,
ainda, sua investida em descortinar as origens da América.
Em "Feels", o diretor analisa
não apenas a questão musical,
mas também as conexões entre
EUA e África para chegar às raízes
do blues. Para isso, ele convoca o
músico norte-americano Corey
Harris em uma viagem que começa no Mississippi e vai até Mali
(África). No trajeto, Harris vai entrevistando artistas como Salif
Keita e Taj Mahal; entremeando
as conversas, a narração do próprio Scorsese e cenas de arquivo
de artistas fundamentais como
Muddy Waters, Son House e John
Lee Hooker. "[O blues é] A única
coisa que não puderam tirar dos
negros", diz o diretor.
Mike Figgis, que dirige o episódio "Red, White and Blues" [no ar
dia 7/1], traça uma espécie de cadeia alimentar do gênero. Inicialmente, vê a influência do blues no
pós-guerra britânico; em seguida,
analisa como o gênero retorna aos
EUA, em um momento em que o
country começa a crescer. Reúne
gente como Van Morrison e Jeff
Beck no estúdio Abbey Road.
"A cultura do blues está em todos os lugares -o rap e a maioria
da música popular é baseada nele", diz Figgis à Folha. "Cresci numa casa em que meu pai quase
prestava adoração ao blues, então
isso está no meu sangue."
Por tudo isso, com uma exceção
ou outra, a série consegue capturar até aqueles que não depositam
muita fé no blues.
Colaborou Lúcia Valentim Rodrigues,
da Redação
THE BLUES. Série em sete episódios.
Primeira parte: "Feels like Going Home".
Quando: sexta-feira (dia 10), às 24h, no
canal GNT.
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