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Pernambucano já foi também diplomata
especial para a Folha
Evaldo Cabral de Mello, 62, é
pernambucano, diplomata aposentado e costuma ser apontado
como um dos principais historiadores brasileiros hoje.
Também tem alguns parentes famosos. Outro notável historiador
do período holandês é seu primo,
Antônio Gonsalves de Mello, e é
uma das maiores influências na
sua carreira. Um de seus irmãos é o
poeta João Cabral de Melo Neto. O
antropólogo Gilberto Freyre é primo de sua mãe, e o escritor Manuel
Bandeira é primo do pai.
Menos conhecido é seu tataravô,
Antonio Moraes Silva, autor do
primeiro dicionário da língua portuguesa, cuja primeira edição foi
publicada em 1789.
Evaldo está há três anos no Rio,
onde tem acesso a importantes documentos históricos -como uma
coleção completa da correspondência diplomática holandesa na
Biblioteca Nacional.
Como diplomata, ele tinha de
passar três anos em cada posto.
"Como vivi muito no exterior não
tinha bibliotecas, não tinha livros
brasileiros, se tivesse de escrever
sobre Minas, sobre o Rio Grande
do Sul, não encontraria livros no
exterior. Mas, sobre a história pernambucana, eu sempre podia fazer
minha biblioteca com os livros essenciais. Não poderia fazer isso de
todo o Brasil, senão seria escravo
da biblioteca. Por isso eu tive de
me limitar a ser um historiador regional e, dentro do nordeste, da região canavieira", afirma Evaldo.
Ele procurava em cada posto tirar vantagem das condições locais.
Nos EUA -seja na embaixada em
Washington, de 1965 a 1967, seja
em Nova York, na ONU, de 67 a
70-, ele usufruiu da biblioteca do
Congresso norte-americano.
Em Genebra, de 70 a 72, estava
mais perto de Portugal, cujos arquivos fundamentais visitava durante as férias.
Esteve de volta a Brasília, de 72 a
76, mas de 76 a 79, em Madri, pôde
vasculhar os importantes arquivos
espanhóis. Em Paris, de 79 a 84,
aproveitou para ter maiores contatos com a historiografia francesa
dos "Annales".
No Peru, de 84 a 87, pôde travar
contato com a história de outro
país latino-americano. Ao se tornar, de 87 a 91, cônsul-geral em
Lisboa, pôde reunir material para
o livro "A Fronda dos Mazombos",
sobre a Guerra dos Mascates, de
1710-1711.
De 91 a 92, em Barbados, como
embaixador nesse país do Caribe,
pôde ter acesso à história de uma
ilha produtora de açúcar. "Foi por
isso que eu escolhi ir para Barbados. Era uma colônia inglesa, mas
a instalação da atividade açucareira no local foi financiada pelos holandeses como uma alternativa ao
Brasil, que tinha tido a revolta de
Pernambuco em 1645."
Seu último posto foi de novo na
França, de 92 a 95, como cônsul-geral em Marselha.
"Ser historiador talvez tenha sido
uma compensação psicológica minha. É um negócio curioso, eu fui o
único dos filhos, o mais moço de
sete filhos, o único que não conheceu vida de engenho, que já tinha
sido vendido quando eu nasci em
1933. Mas fui criado na atmosfera,
todos falavam da vida de engenho,
meu pai mesmo tinha uma nostalgia da vida rural. Em 1940 ele comprou um sítio a 60 quilômetros do
Recife. Eu me senti um pouco excluído da herança emocional da família. Só ouvia meus irmãos falarem."
"O primeiro texto que eu escrevi
na vida, aos 12 anos de idade, era
um conto sobre a vida de menino
de engenho. Um negócio completamente imaginário, porque eu
não tinha sido menino de engenho. Chamava "Poço' e foi publicado no "Diário de Pernambuco" em
1948, devia ser um pastiche de José
Lins do Rego, que eu tinha lido."
(RBN)
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