São Paulo, sábado, 5 de dezembro de 1998

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Pernambucano já foi também diplomata

especial para a Folha

Evaldo Cabral de Mello, 62, é pernambucano, diplomata aposentado e costuma ser apontado como um dos principais historiadores brasileiros hoje.
Também tem alguns parentes famosos. Outro notável historiador do período holandês é seu primo, Antônio Gonsalves de Mello, e é uma das maiores influências na sua carreira. Um de seus irmãos é o poeta João Cabral de Melo Neto. O antropólogo Gilberto Freyre é primo de sua mãe, e o escritor Manuel Bandeira é primo do pai.
Menos conhecido é seu tataravô, Antonio Moraes Silva, autor do primeiro dicionário da língua portuguesa, cuja primeira edição foi publicada em 1789.
Evaldo está há três anos no Rio, onde tem acesso a importantes documentos históricos -como uma coleção completa da correspondência diplomática holandesa na Biblioteca Nacional.
Como diplomata, ele tinha de passar três anos em cada posto. "Como vivi muito no exterior não tinha bibliotecas, não tinha livros brasileiros, se tivesse de escrever sobre Minas, sobre o Rio Grande do Sul, não encontraria livros no exterior. Mas, sobre a história pernambucana, eu sempre podia fazer minha biblioteca com os livros essenciais. Não poderia fazer isso de todo o Brasil, senão seria escravo da biblioteca. Por isso eu tive de me limitar a ser um historiador regional e, dentro do nordeste, da região canavieira", afirma Evaldo.
Ele procurava em cada posto tirar vantagem das condições locais. Nos EUA -seja na embaixada em Washington, de 1965 a 1967, seja em Nova York, na ONU, de 67 a 70-, ele usufruiu da biblioteca do Congresso norte-americano.
Em Genebra, de 70 a 72, estava mais perto de Portugal, cujos arquivos fundamentais visitava durante as férias.
Esteve de volta a Brasília, de 72 a 76, mas de 76 a 79, em Madri, pôde vasculhar os importantes arquivos espanhóis. Em Paris, de 79 a 84, aproveitou para ter maiores contatos com a historiografia francesa dos "Annales".
No Peru, de 84 a 87, pôde travar contato com a história de outro país latino-americano. Ao se tornar, de 87 a 91, cônsul-geral em Lisboa, pôde reunir material para o livro "A Fronda dos Mazombos", sobre a Guerra dos Mascates, de 1710-1711.
De 91 a 92, em Barbados, como embaixador nesse país do Caribe, pôde ter acesso à história de uma ilha produtora de açúcar. "Foi por isso que eu escolhi ir para Barbados. Era uma colônia inglesa, mas a instalação da atividade açucareira no local foi financiada pelos holandeses como uma alternativa ao Brasil, que tinha tido a revolta de Pernambuco em 1645."
Seu último posto foi de novo na França, de 92 a 95, como cônsul-geral em Marselha.
"Ser historiador talvez tenha sido uma compensação psicológica minha. É um negócio curioso, eu fui o único dos filhos, o mais moço de sete filhos, o único que não conheceu vida de engenho, que já tinha sido vendido quando eu nasci em 1933. Mas fui criado na atmosfera, todos falavam da vida de engenho, meu pai mesmo tinha uma nostalgia da vida rural. Em 1940 ele comprou um sítio a 60 quilômetros do Recife. Eu me senti um pouco excluído da herança emocional da família. Só ouvia meus irmãos falarem."
"O primeiro texto que eu escrevi na vida, aos 12 anos de idade, era um conto sobre a vida de menino de engenho. Um negócio completamente imaginário, porque eu não tinha sido menino de engenho. Chamava "Poço' e foi publicado no "Diário de Pernambuco" em 1948, devia ser um pastiche de José Lins do Rego, que eu tinha lido."
(RBN)



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