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POLÍTICA CULTURAL
ADMINISTRAÇÃO DE SP
Ator Celso Frateschi, nomeado secretário municipal de Cultura, defende participação de artistas no governo
"A política é a mãe de todas as artes"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Comparando-se com seu antecessor na Secretaria Municipal de
Cultura de São Paulo -o professor de história Marco Aurélio
Garcia, que deixou o cargo na última sexta, para ser assessor do presidente Lula da Silva-, o ator
Celso Frateschi, 50, se diz "mais
burro e mais prático".
"O Marco tem uma característica maravilhosa, que é uma inteligência, um raciocínio muito bom.
Não tenho tanta capacidade de
abstração, apesar de ser o artista.
Gosto de ver a coisa um pouco
mais concretizada", afirma.
Frateschi manteve a equipe formada por Garcia. Falta definir
quem o substituirá na direção do
Departamento de Teatro da Secretaria, que ocupava desde 2001.
Com os mesmos colaboradores,
pretende concretizar uma política
"que estabeleça relações de permeabilidade, de diálogo entre o
Estado e a produção cultural".
O novo secretário assumiu num
endereço também novo e ainda
muito improvisado -o prédio
do antigo Cine Olido, na avenida
São João, centro de São Paulo.
Num gabinete sem telefone ou
computador, Frateschi recebeu a
Folha para a entrevista a seguir.
Folha - Haverá colaboração entre
a Secretaria Municipal, a estadual e
o governo federal?
Celso Frateschi - Vamos buscar
uma relação de troca, de reforço
mútuo em todas as áreas -patrimônio, teatro, música. [No Departamento de Teatro] Tentei várias vezes o contato com a Secretaria Estadual e com o governo federal, e foi muito difícil essa relação. Tínhamos projetos com a Funarte e com a Secretaria de Estado, que não foram muito adiante.
Tirava-se o time de campo.
Aceitei o cargo de secretário
porque estou muito entusiasmado com o que o Brasil está vivendo. Estou num momento profissional rico e o estou deixando de
lado, porque essa aposta me fascina. Com o governo federal, tenho
quase a certeza de que a relação
muda radicalmente.
Não conheço a nova secretária
de Estado da Cultura [Cláudia
Costin]. As referências que tenho
são de que é uma bela gerente,
uma pessoa extremamente capacitada. Vou tentar uma conversa,
para potencializar nossas ações.
Folha - Que ações as duas secretarias poderiam executar juntas?
Frateschi - Temos projetos comuns, em que "batemos cabeça",
como na área central. A revitalização do centro, culturalmente, seria muito marcante para todos.
Essa situação de cada um tentar
demarcar o seu espaço é negativa.
É uma disputa boba. Se aqui vai
ser a Broadway ou não, é bobo
frente à necessidade que a cidade
tem de ver o centro recuperado.
Folha - O sr. disse que a secretária
estadual é uma bela gerente. E o sr.
é um artista à frente da Secretaria
Municipal. Os dois perfis são condizentes com o cargo?
Frateschi - Essa visão de que o
artista não pode administrar é do
século 19. O artista que se enche
de ópio, que morre de pneumonia
não existe mais, é um artista romântico. Pós-Brecht, que transformou a tradução da sociedade
capitalista em arte, existe o artista
contemporâneo, que tem consciência do que está fazendo. Os
melhores artistas de hoje, os que
conseguem me sensibilizar, são
aqueles que compreendem que a
política é, talvez, a forma mais
complexa de arte e a mãe de todas
as artes. Porque todas devem convergir para a polis, que é a vida em
comum.
Folha - Como o sr. avalia a indicação de Gilberto Gil para o Ministério da Cultura?
Frateschi - Não cabe a mim avaliar. O governo Lula é uma revolução cultural em si. Gil é um grande artista, com propostas de um
governo no qual boto a maior fé.
Qualquer coisa seria um pré-julgamento. Lula deixou clara a separação entre a atividade profissional de Gil e sua atividade ministerial. Há aí um quadro que só
temos que apoiar e trabalhar junto para que a coisa dê certo.
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